"Gosto do contacto permanente com as novas tecnologias"

18-02-2019 | Nuno Passos | Fotos: Nuno Gonçalves

Amândio Silva, a par de José Pedro, foi campeão do "I Campeonato Universitário de Karting", em 1999. A competição UMKarting (www.umkarting.com) foi impulsionada por Luís Cunha e Mário Rui Pereira, professores do Departamento de Física da UMinho

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Amândio Silva

O especialista de informática dos Serviços de Comunicações é hoje um dos vinte homenageados pelos 30 anos de serviço público, na cerimónia do Dia da UMinho. O bracarense de 50 anos licenciou-se em Sistemas de Informação para a Gestão no IPCA e fez a parte curricular do mestrado em Redes e Serviços de Comunicações na UMinho. É "casado com o amor da vida e pai de duas filhas maravilhosas".


Quais são as suas origens que recordações tem da infância?
Nasci há 50 anos na freguesia de Celeirós, em Braga, numa família bastante numerosa – sou o oitavo de nove irmãos. Nessa altura, Celeirós era uma zona cheia de campos e árvores de fruto. Como todos os rapazes da minha idade, sentia um certo fascínio pelo fruto proibido, literalmente. Apesar de os meus pais nunca deixarem que nos faltasse nada em casa, a fruta dos lavradores era sempre apetecível, por isso muitas vezes corremos, eu e os meus amigos, para não sermos “apanhados com a boca na botija"; ou, melhor dizendo, na fruta. Também jogava imenso futebol, na rua, numa época em que os carros passavam de vez em quando. Era bastante certeiro a jogar ao pião e, quando o tempo estava mau, havia séries de ficção científica - quem, da minha idade, não se lembra do "Espaço 1999"? - para ir vendo na televisão. Retenho ainda, com saudade, os passeios que fazia em família aos fins de semana, especialmente os de Verão, que se traduziam em idas à praia. Hoje, pergunto-me, como é que na altura cabíamos tantos no carro?! [risos]
 
Como se deu a sua entrada nesta universidade?
Tinha acabado o 12º ano e ainda não tinha ainda decidido se me candidataria ao ensino superior. Uma pessoa amiga alertou-me para a abertura de uns cursos de formação profissional promovidos pela UMinho e financiados pelo Fundo Social Europeu. Candidatei-me e fui aceite como formando, frequentando o curso de Técnicos de Microinformática, em 1987. No final do curso, a 8 de janeiro de 1988, fui convidado a ficar a trabalhar na UMinho, tendo iniciado funções como tarefeiro a recibos verdes no dia 11 desse mês. Como a carreira de informática era nova e a universidade precisava de quadros nessa área, foi aberto concurso para preenchimento dessas vagas e, desde julho de 1988, faço parte do quadro da universidade (na altura, denominava-se "além do quadro", pelo facto de o quadro definitivo da Universidade ainda não existir). Fazendo uma retrospetiva, penso que beneficiei de um conjunto de fatores únicos que me proporcionaram aceder à carreira que acabei por fazer aqui. Não me sentiria bem comigo próprio se não referisse nesta introdução a qualidade do corpo docente desse curso de formação, composto por técnicos superiores e professores universitários de renome, verificando-se que alguns deles ainda se encontram a trabalhar na UMinho.
 
O que retém sobre os primeiros tempos na UMinho?
Retenho, sobretudo, o ambiente familiar e o espírito de camaradagem que se vivia. A UMinho não tinha a dimensão que tem hoje e era relativamente fácil conhecer todos os seus colaboradores. No início era normal as pessoas festejarem os seus aniversários no local de trabalho, hábito que se foi perdendo ao longo do tempo.
 
Que funções foi desempenhando?
A primeira unidade de serviços onde desempenhei funções foi no extinto Centro de Informática (CIUM), cujo presidente era o professor Alberto José Proença. Fui colocado no Gabinete Técnico deste Centro, cujo responsável era o sr. Artur Abreu, com supervisão do eng. Mário Necho. Comecei por estar ligado aos processos de aquisição de equipamento informático por parte desta unidade, que à altura era quem tinha a seu cargo esse procedimento. Algum desse equipamento precisava de uma primeira intervenção técnica, que era realizada pela equipa da qual eu fazia parte. Por essa altura era eu quem registava as entradas e saídas do equipamento adquirido e quem o entregava à Escola/Departamento a quem se destinava. Outra tarefa que desempenhei foi a composição gráfica eletrónica da Folha Informativa do CIUM, um boletim que servia para divulgar a atividade desenvolvida por essa unidade de serviços. Mais tarde, integrei o Núcleo de Apoio Técnico e Formação do CIUM, que se dedicava a dar suporte aos utilizadores na utilização de ferramentas informáticas e a resolver problemas técnicos (tanto de hardware como de software). Em 1993, transitei para o Núcleo de Comunicações.



Moderou o sistema de correio eletrónico da academia

Ainda no CIUM.
Sim. A principal atividade desse Núcleo era a de gerir as comunicações de dados de, praticamente, toda a universidade. As redes locais começavam a ser instaladas um pouco por todos os sites da UMinho e havia necessidade de apetrechar os computadores com dispositivos de ligação à rede. Eu tinha como principais funções a configuração dos computadores pessoais para ligação à Internet, que abrangia não só a ligação do PC à rede (incluía a configuração física – através de dip switches ou jumpers - e lógica das placas de rede), como ainda a instalação de ferramentas informáticas de acesso aos serviços em rede que já existiam na altura, como a transferência de ficheiros (FTP), a consulta de usenet news (NNTP), navegação na Internet (Mosaic e Netscape), o acesso remoto a sistemas (telnet), cliente para gopher, entre outras, não esquecendo a que terá tido mais impacto junto dos utilizadores: a instalação e configuração da ferramenta de correio eletrónico (Lotus cc:Mail©). Este procedimento implicava muitas vezes a minha deslocação aos locais onde os PC’s se encontravam instalados e era quase sempre seguido de uma pequena sessão de formação aos utilizadores, tendo sido elaborados pequenos manuais de utilização (uns, feitos por mim, outros por mim traduzidos para português), que eram entregues aos utilizadores. Sempre sob a orientação do eng. Albano Serrano, que era o responsável por este Núcleo, era a mim que cabia a tarefa de administrar o sistema de correio eletrónico usado pela maior parte dos utilizadores da UMinho.

Como era esse processo?
O processo de criação de contas de correio eletrónico era realizado de forma manual, através do preenchimento de um formulário em papel e entregue pessoalmente, o que me permitia reconhecer mais facilmente uma pessoa pelo seu endereço de correio eletrónico do que propriamente pelo seu nome... Estávamos no início da Internet e penso que o CIUM, através deste Núcleo, muito contribuiu para que a comunidade começasse a tirar o melhor partido da poderosa ferramenta que é a rede das redes.

Em 1998, foi criado o Centro de Comunicações.
Havia cada vez mais edifícios a infraestruturar e penso que, por essa razão, houve necessidade de se criar uma unidade de serviços que se dedicasse exclusivamente às questões de comunicação de dados - para onde me mudei, tendo continuado ligado à gestão dos serviços de rede, no seguimento do que eu já fazia. Participei em diversos projetos relacionados com a Internet, do qual destaco o suporte ao projeto "Internet nas Escolas", em que a UMinho servia de POP [Point Of Presence] para as escolas da região. Outro projeto em que participei desde o início foi o e-U (mais conhecido hoje como eduroam), onde fiz (e continuo a fazer) parte da equipa que mantém a infraestrutura Wi-Fi de toda a Universidade. Até 2007, ano em que se finalizou a migração do serviço de correio eletrónico para outra unidade de serviços, para além de fazer parte da equipa que assegurava o serviço de correio eletrónico da UMinho, fui o moderador técnico da famosa lista de distribuição de correio eletrónico "UM-Net". O Centro de Comunicações foi alvo de restruturações ao longo do tempo, tendo numa primeira fase alterado o nome para Serviço de Comunicações e, mais tarde, foi reformulado para uma direção de serviços, a que foi dado o nome Serviços de Comunicações da UMinho, vulgo SCOM.

É onde atualmente exerce funções.
Exatamente. As minhas funções são essencialmente a administração de serviços básicos e avançados de rede, pelo desenvolvimento, implementação e administração de sistemas de gestão e monitorização de serviços e equipamentos ativos de rede, entre outras. Sempre que solicitado por outros colaboradores da UMinho, faço consultoria e dou suporte na resolução de problemas. Durante este percurso, terminei uma licenciatura e a parte curricular de um mestrado, o que me permitiu progredir, em dezembro de 2010, da carreira de técnico de informática para a de especialista de informática, através da mobilidade intercarreiras da função pública. Entre 2011 e 2013, participei a título gracioso como formador no plano de Formação Profissional da UMinho, onde ensinei a utilizar as ferramentas do Microsoft Office, mais concretamente o Outlook, o Word e o PowerPoint. Mais recentemente passei a fazer parte do CSIRT.UMINHO (Computer Security Incident Response Team da UMinho), um serviço na área da segurança prestado pelos SCOM à sua comunidade académica.

Em que medida foi importante frequentar o mestrado em Redes e Serviços de Comunicações na UMinho?
O mestrado foi criado em 2007 e o seu nome chamou-me a atenção. Constatei que o conteúdo programático se ajustava como uma luva a alguém como eu, pois trabalhava precisamente nessa área. Numa perspetiva de melhoria contínua do meu desempenho na UMinho, achei que fazia todo o sentido candidatar-me. Era a oportunidade de aumentar a capacidade técnica e, por outro lado, de aprofundar e certificar o conhecimento que já tinha adquirido na profissão. E foi o que fiz: candidatei-me, fui aceite, mas infelizmente, por motivos diversos, não cheguei a apresentar a tese, o que pretendo vir a fazer, muito provavelmente noutro mestrado, pois parece-me que este foi reformulado.
 



Tarefas diferentes ao longo dos anos, mas a mesma dedicação

O que mais gosta no seu trabalho?
Neste capítulo, distingo duas vertentes: a humana, já que me relaciono bem com todos os elementos que compõem a equipa da qual faço parte; e a técnica, pelo facto de me permitir estar em contacto permanente com novas tecnologias, poder evoluir continuamente e ter um conhecimento mais abrangente sobre várias áreas da informática. Ao longo destes anos ao serviço da UMinho, foi possível especializar-me em áreas tão diversas como a administração de distintos sistemas operativos, desde o MS-DOS ao Unix, com o Linux pelo meio, do Microsoft Windows 1.0 ao Windows Server 2019, não esquecendo sistema Apple com o seu MacOS X, de sistemas de correio eletrónicos mais ou menos arcaicos, aos mais avançados, do desenvolvimento de aplicações em linguagens de programação interpretadas às que exigem compilação, enfim, uma diversidade tal que não é fácil encontrar noutra profissão (nem noutro tipo de organizações) e que acaba por funcionar como um fator de motivação constante para quem trabalha nesta área.
 
Que pessoas mais o marcaram na UMinho?
O professor Alberto José Proença, não só por ter sido o chefe máximo no início da minha carreira, mas, sobretudo, por ser uma pessoa muito atenciosa com os seus subordinados e sempre ter feito tudo o que podia para resolver os problemas que pudessem surgir. Em termos estritamente pessoais, fiquei muito sensibilizado pelo facto de o professor Proença ter comparecido ao meu casamento, no mesmo dia em que tinha recebido o sr. primeiro-ministro, o eng. António Guterres; o eng. Mário Necho, por ter sido o meu primeiro "chefe" e por ter partilhado comigo muito do seu conhecimento; sem dúvida alguma, o eng. Albano Serrano, que me trouxe para o mundo das redes de computadores e a quem devo muito do que sei hoje, sendo uma pessoa muito proativa e que acompanhava de perto o trabalho desenvolvido pelas pessoas por quem era responsável, sempre disposto a ajudar; os professores Alexandre Santos, Vasco Freitas e João Monteiro, por terem acreditado no meu trabalho e me terem aceitado como colaborador no Centro da Comunicações, onde tinham responsabilidades de direção; o eng. Paulo Valverde Costa, por ter sido o diretor dos SCOM nos últimos 14 anos. É claro que as pessoas com quem trabalhei e trabalho, por manter uma relação de proximidade, são sempre importantes, já que é com elas que partilho o meu dia a dia. Não posso deixar de destacar um amigo que considero responsável por uma parte importante da minha carreira académica, dr. Rui Oliveira (para que não se confunda, é o antigo técnico de informática da Escola de Ciências), por me ter desafiado a mudar de curso e ter sido meu companheiro de estudo na licenciatura em Sistemas de Informação para a Gestão, bem como o eng. José Ramada, por ser um extraordinário companheiro de "luta", mas, essencialmente, pelo seu empenho em manter unido um grupo de pessoas que se reúne todas as sextas-feiras ao fim da tarde para praticar bom futsal.
 
Que estórias curiosas guarda?
O motivo que esteve na origem da moderação da lista UM-Net. Como referi, estive ligado à administração do sistema de correio eletrónico. Uma caraterística deste serviço, para o bem e para o mal, é a difusão massiva de informação. Ainda como membro do Núcleo de Comunicações do CIUM, decidiu-se criar uma lista de distribuição da qual fossem membros todos os colaboradores da Universidade, à qual se deu o nome de UM-Net. Inicialmente, esta lista não era moderada e tudo o que para lá se enviasse era entregue nas caixas de correio dos seus membros. Até que, certo dia, alguém enviou uma mensagem com um anexo muito grande (era o executável para instalação do programa de correio eletrónico, por sinal), o que fez com que quem recebeu a mensagem por via remota através de ligação telefónica tivesse gasto uma quantia considerável a descarregar uma mensagem sem interesse nenhum. Por este motivo, e para prevenir um uso abusivo da mesma, decidiu-se moderar tecnicamente esta lista, cabendo-me esse papel. Desta moderação resultaram muitas estórias, mas que não faz sentido a sua transcrição. Esta faceta de moderador ainda me trouxe algumas dores de cabeça…
 
Estar no centro do campus de Gualtar é uma mais-valia?
Apesar de as instalações da sede dos SCOM em Gualtar não estarem bem no centro do campus, pode dizer-se que sim, por estar cada vez mais perto de todos os serviços existentes na Universidade, já que agora mais serviços estão cá instalados, como sucedeu recentemente com a chegada da Direção de Recursos Humanos e a Administração. Já estou no campus de Gualtar desde 1992. O Centro de Informática mudou-se para lá nesse ano, vindo da rua da Fundação Calouste Gulbenkian. Isso é que foi uma grande mudança: nas velhas instalações, a minha secretária e a dos meus colegas mais próximos (Fátima Silva e José Pedro) estavam num corredor. Nas novas instalações, com novo mobiliário e tudo (design de Siza Vieira, atenção!), as condições eram sobremaneira melhores.
 
Que significado tem para si ser, hoje, reconhecido por 30 anos de serviço público?
Trabalhar na área da Informática sempre foi o que desejei. Fazê-lo há trinta anos na UMinho é o reflexo do quão bem aqui me sinto e do quanto gosto do que faço. Ser reconhecido por isso só pode fazer sentir-me grato pela oportunidade de participar num projeto no qual acredito, com a noção de que o sucesso do meu trabalho vai muito além de mim. É algo apenas possível devido ao esforço comum de toda uma equipa de excelentes profissionais que se dedicam ao que fazem, dando o melhor de si mesmos.
 
O que ainda falta acontecer no seu percurso profissional?
Atingir o topo da carreira de especialista de informática, mas no meu caso, isso é uma impossibilidade… Talvez frequentar mais ações de formação. Na área profissional em que estou inserido, é fundamental estar a par do estado da arte das tecnologias com que trabalhamos e só com a frequência de ações de formação ou pela participação em eventos dedicados a essas matérias é que nos conseguimos manter atualizados.

 

  Algumas notas pessoais

  Na minha gaveta guardo muita coisa, tanta que me vejo aflito para a manter arrumada.
  Mal entro no carro ligo o rádio e sintonizo a TSF, mas em casa prefiro a SIC Notícias (ou um bom livro).
  Considero-me uma pessoa pacífica e penso que os outros me acham calmo.
  Num jantar, não dispenso uma boa conversa. Ah! E um bom vinho!
  Ao fim de semana, passo o meu tempo com a família.
  Nada me fará esquecer o momento em que conheci a minha mulher e nasceram as minhas duas filhas.
  Gostava muito que amanhã fosse tão bom ou melhor do que o dia de hoje.
  O meu dia não acaba sem um beijinho de boas noites às minhas meninas.
  A UMinho é, sem dúvida, uma grande instituição!