"Este Museu desperta o nosso lado artístico e patrimonial"

29-03-2019 | Nuno Passos | Fotos: Nuno Gonçalves

Com a equipa do Museu Nogueira da Silva (terceira à esquerda), em 2016

Com a equipa do Museu Nogueira da Silva (à direita), em 2003

Nos jardins do Museu Nogueira da Silva, aquando de uma queda de neve, em 2005

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Paula Góis Simões

Nasceu há 50 anos na freguesia da Sé, em Braga, e está há três décadas no Museu Nogueira da Silva, onde trabalha no serviço educativo. Formou-se em História e frequenta o mestrado em Sociologia na UMinho. É uma acérrima defensora do estudo, conservação e divulgação das coleções museológicas.



Como foi a sua infância?
Muito divertida! Tinha uma irmã gémea e gostávamos imenso de brincar juntas. Sempre fomos muito unidas e, mesmo sendo gémeas falsas, vestíamos roupas iguais. Os nossos pais eram muito cautelosos, de forma a não ferirem as nossas suscetibilidades. No Natal compravam dois presentes iguais, apesar de nos distinguirem facilmente. Retenho uma infância com uma família alargada, com muitos tios e primos e convívio permanente.
 
Como se deu a sua entrada nesta universidade, há três décadas?
Na sequência de um programa de ocupação de tempos livres, promovido pelo Instituto da Juventude, que frequentei, fui colocada no Museu Nogueira da Silva (MNS) e, no decorrer desse programa, fui convidada a permanecer. No Museu já conhecia a Galeria da Universidade, onde observava as exposições temporárias. Desconhecia os restantes espaços, bem como as peças valiosas que se encontravam nas diversas salas e no jardim. Apercebi-me logo que estava num edifício magnífico, único, com um acervo grandioso. A par disso, gostei da equipa que se encontrava no Museu, privilegiava-se o trabalho de grupo e era estimulante.
 
O que retém sobre os primeiros tempos na UMinho?
Lembro-me que vários serviços se encontravam instalados no centro da cidade ou muito próximos. A UMinho dava os seus primeiros passos na informatização dos seus serviços. O meu primeiro computador foi um Macintosh Plus, um equipamento muito amigável; logo depois, surgiu a rede de Internet e, através dela, os nossos endereços eletrónicos, contribuindo para intensificar a rapidez e a fluidez das comunicações. O papel era ainda muito utilizado, as informações e as resoluções oficiais eram difundidas por esta via e eram armazenadas em pastas. A consulta de qualquer documento era, pois, um processo lento.
 
Que funções foi desempenhando?
Secretariei o Museu durante muitos anos e o que mais apreciava era tratar das exposições temporárias que permaneciam expostas cerca de duas a três semanas na Galeria da Universidade. Havia uma logística que era necessário assegurar: transporte, seguro das obras, feitura e envio de convites em papel para a UMinho e outras entidades exteriores, realização de um pequeno catálogo, divulgação para a imprensa, montagens das exposições com a presença dos artistas e finalmente a sua inauguração. Este contacto próximo com os artistas permitiu-me conhecer obras deveras interessantes, quer do ponto de vista visual e intelectual, quer do ponto de vista das técnicas aplicadas. Havia outras atividades que tinham que ser secretariadas: palestras, colóquios, concertos, cursos livres, workshops, entre outras. Ao longo da nossa carreira, as prioridades e os objetivos profissionais vão mudando. Como tal, resolvi voltar ao ensino e formei-me em História. Passei a desenvolver competências noutras áreas do Museu, nomeadamente no estudo, conservação, divulgação das coleções e no Serviço Educativo.
 
O que gosta mais no seu trabalho?
O Serviço Educativo é uma área muito interessante e desafiante. Este espaço tem nas suas funções uma missão educativa muito vincada. Este Museu fica num bonito edifício com um jardim muito convidativo e apresenta várias coleções datadas a partir do século XVI. Nesta perspetiva, o Serviço Educativo procura promover um leque de atividades e oficinas que visam alcançar diversos públicos (escolares e não-escolares). Pretende-se que o Museu seja um local de aprendizagem informal, vivo e aberto à comunidade. Os visitantes são envolvidos numa vertente artística e patrimonial e, nesse sentido, valoriza-se uma aprendizagem que estimule a criatividade, assim como a salvaguarda e a conservação do património.
 
Que pessoas mais a marcaram neste percurso?
Os funcionários são o maior ativo de uma instituição e nesse sentido, destaco a pequena e polivalente equipa do MNS. Trabalhamos em grupo e procuramos ter uma elevada capacidade de dinamismo, de forma a obtermos os melhores resultados. Procuramos dar a maior atenção aos nossos visitantes, às questões da conservação e manutenção do edifício, bem como à divulgação do nosso acervo e das nossas atividades.
 
Que estórias curiosas guarda?
Num dia de semana, entrou uma visitante no Museu, comprou o bilhete e observou detalhadamente as diversas coleções expostas. Agradada com o que viu, pediu para falar com o diretor. A visitante era a sra. Maria Teresa Salgueiro, doadora da Casa Museu de Monção. Não agendou nenhuma reunião prévia, mas a visita contribuiu para reforçar a sua confiança na UMinho e manifestar o seu desejo de doar os seus bens, à semelhança do sr. Nogueira da Silva. A partir daqui o processo de doação seguiu os transmites institucionais. O MNS e a Casa Museu de Monção são hoje duas das unidades culturais da UMinho.
 
O que é que ainda falta acontecer no seu percurso profissional?
Estou a frequentar no Instituto de Ciências Sociais da UMinho o mestrado em Sociologia - área de especialização em Cultura, Lazer e Turismo. Gostaria de fazer uma tese ligada à museologia, com um olhar sociológico. O MNS será o meu ponto de partida para essa aventura e espero que beneficie com este meu contributo. [sorriso]



  Algumas notas pessoais

  Na minha gaveta guardo objetos triviais: canetas, lápis, headphones, carregador de telemóvel, lenços de papel...
  Mal entro no carro, aprecio o silêncio mas em casa prefiro música e notícias na rádio Antena 1.
  Considero-me uma pessoa disponível para ouvir e penso que os outros me acham uma boa ouvinte!
  Num jantar, não dispenso uma conversa agradável sem constrangimentos de horários.
  Ao fim de semana, passo o meu tempo com diversas atividades de lazer: caminhadas, jardinagem, leitura, cinema,
  exposições, concertos, entre outros.
  Nada me fará esquecer o momento em que a vida é breve….
  Gostava muito que amanhã se iniciasse um combate a qualquer forma de discriminação e se promovesse a
  igualdade de oportunidades e se celebrasse a diversidade.
  O meu dia não acaba sem ler algumas páginas do livro de cabeceira.
  A UMinho é ensino, investigação, criatividade e inovação. Procura atender à formação humana nas suas múltiplas
  dimensões: ética, cultural, artística, técnica e profissional. É uma instituição ainda relativamente jovem, mas 
  paulatinamente tem-se afirmado como uma referência a nível nacional e internacional.