Nasceu o Colégio Doutoral da UMinho

30-10-2019 | Nuno Passos | Fotos: Nuno Gonçalves

O seminário inaugural contou com membros das diversas Escolas e Institutos da UMinho

Rui Vieira de Castro, reitor da UMinho

Laurinda Leite, vice-reitora para a Educação da UMinho

Alexander Hasgall, do Conselho para a Educação Doutoral da Associação Europeia de Universidades (Suíça)

Pirjo Nikander, da Universidade de Tampere (Finlândia)

John Creemers, da Universidade Católica da Lovaina (Bélgica)

Göran Hermerén, da Universidade de Lund (Suécia)

Marie-Christine Janssens, da Universidade Católica da Lovaina (Bélgica)

Margarida Correia Neves, diretora do Colégio Doutoral UMinho

Eloy Rodrigues, diretor dos Serviços de Documentação da UMinho, foi um dos intervenientes entre o público

Uma vista panorâmica do seminário

Laurinda Leite, Rui Vieira do Castro, Göran Hermerén, Margarida Correia Neves, Pirjo Nikander, Marie-Christine Janssens, Alexander Hasgall e John Creemers

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Partilha de boas práticas entre Escolas/Institutos, promoção de seminários e formações para alunos, supervisores e staff, incentivos à mobilidade e adesão a redes internacionais são ações previstas.




A Universidade do Minho tem a partir deste ano letivo um Colégio Doutoral, para promover a excelência e o reconhecimento nacional e internacional da sua formação doutoral. As atividades a realizar neste âmbito incluem a partilha de boas práticas entre Escolas e Institutos, a organização de seminários e de formações para alunos, supervisores e staff, bem como ações de incentivo à mobilidade e à integração em redes internacionais, entre outros. Margarida Correia Neves, professora da Escola de Medicina, liderará a comissão coordenadora do Colégio, que vai incluir um professor e aluno representantes de cada Escola/Instituto da UMinho que oferece formação doutoral.
 
Este é um projeto-bandeira do Plano de Ação 2017/2021 da UMinho. Esta academia tem 10% dos seus estudantes em doutoramento e ambiciona “atrair os melhores candidatos” no país e no mundo. “A nossa formação doutoral atravessa um bom momento, com uma oferta atrativa e que corresponde às necessidades dos potenciais candidatos, algo que é fundamental, pois a qualidade da formação depende, em alguma medida, da qualidade da investigação realizada, que é nacional e internacionalmente reconhecida”, declara o reitor Rui Vieira de Castro. “Achamos que este Colégio Doutoral pode ter um papel importantíssimo, suportando um conjunto vasto de iniciativas que garantirão uma qualidade ainda maior aos programas doutorais”, salienta.
 
A vice-reitora para a Educação defende que a oferta doutoral da UMinho já é boa, mas pode ser sempre melhorada. “Vamos trabalhar para e com as Escolas/Institutos, aumentando e assegurando a sua qualidade; não lhes vamos retirar nada, mas aproveitar ações importantes que fazem e que podem ser alargadas a outras Escolas desta universidade”, explica Laurinda Leite. O Colégio Doutoral permite ainda fomentar o desenvolvimento de competências transversais, a integridade académica, a ética, a comunicação científica e o empreendedorismo. Outra das vertentes é a formação para supervisores, que “não nascem com essa competência” e também “precisam de atualizar conhecimentos e práticas”.





Seminário inaugural apontou caminhos
 
O seminário de lançamento do Colégio Doutoral foi a 23 de outubro, no auditório A1 do campus de Gualtar, em Braga. O objetivo foi debater os grandes desafios na área e ver a realidade de outras instituições de ensino superior. A sessão, intitulada "Doctoral education in the 21st century: aims, challengers and ways forward", incluiu palestras de Alexander Hasgall, do Conselho para a Educação Doutoral da Associação de Universidades Europeias (Suíça), Pirjo Nikander, da Universidade de Tampere (Finlândia), John Creemers e Marie-Christine Janssens, ambos da Universidade Católica da Lovaina (Bélgica), e Göran Hermerén, da Universidade de Lund (Suécia).

Pirjo Nikander lembrou que, nas instituições de ensino superior europeias, a presença das escolas doutorais passou de 29%, em 2005, para 84%, em 2014, evidenciando uma “profissionalização” crescente da formação doutoral. No caso da Finlândia, essa “profissionalização” iniciou-se em 2011, por ação do Ministério da Educação. Foi preciso alinhar a variedade de terminologias, de práticas e de referenciais de qualidade, incentivando-se ainda à colaboração interuniversitária e definindo-se um dia nacional para a educação doutoral, notou. Na “sua” Universidade de Tampere, os 2500 alunos dos 23 doutoramentos podem ainda aceder a 50 formações multidisciplinares, facultativas, por ano (70% em inglês), mas todos têm que frequentar formação na área da ética.
 
Por seu turno, John Creemers frisou que na Universidade Católica da Lovaina não há uma, mas três escolas doutorais, conforme as áreas científicas, e cinco membros na provedoria para mediar conflitos. O aluno é “seguido por 14 pessoas” ao longo do seu percurso, desde a admissão, orientação e avaliação, o que permite “dar solidez e eficácia” ao processo, monitorizar cada fase e reduzir o abandono. A formação doutoral daquela instituição tem requisitos comuns para todos os alunos (participação num encontro internacional, publicação de artigo científico, assistência a seminários) e é complementada com formações multidisciplinares, com 5 a 12 créditos ECTS. No total, 34% dos seus diplomados vão para pós-doutoramento e 18% têm uma carreira académica, frisou Creemers. Na Bélgica, o volume de doutorados diplomados duplicou na última década, graças aos candidatos estrangeiros.
 
Já Alexander Hasgall apontou três grandes desafios futuros: a organização da investigação pós-doutoral, uma ”zona cinzenta” com diplomados talentosos à espreita de oportunidades; em segundo lugar, a necessidade de os resultados da investigação científica realizada com dinheiros públicos serem disponibilizados à sociedade (através de acesso livre ou open access) e de o reconhecimento académico ir para além das métricas; e, por fim, o contributo da investigação doutoral para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
 
Pirjo Nikander acrescentou que os alunos devem definir claramente onde querem estar no final do doutoramento e escolher cursos de formação a realizar em função dessa meta, devendo os supervisores colaborar nessa tarefa. Alertou para o facto de uma pessoa que frequenta cursos sucessivamente poder não estar a fazer o que deveria. “A maioria dos doutorados não ficará na academia, logo é necessário estabelecer pontes com o mercado de trabalho e importa tornar os doutorados mais visíveis, até porque não são um grupo homogéneo”, elucidou. Sobre os orientadores, a professora apelou ao equilíbrio entre sobre-profissionalização e skills extracurriculares e entre os indicadores quantitativos e as valiosas experiências de aprendizagem.
 
Quanto a Göran Hermerén, mostrou que há várias realidades na Europa ao nível da formação em integridade na investigação, não destinada apenas a jovens cientistas. A intenção é ajudar a evitar determinados comportamentos, como plágio, autoplágio, publicação similar, fabricação de resultados e abuso de expressões, como “contributo significativo”. “Estas práticas levam à injustiça, ao questionar do trabalho cientifico e dos cientistas e do financiamento público atribuído”, elencou. A este propósito, referiu a existência e a importância do Código de Conduta Europeu para a Integridade na Investigação. O professor discutiu igualmente como avaliar a responsabilidade de cada coautor num estudo interdisciplinar internacional que se prova ser fraudulento e, por outro lado, se se deve, ou não, publicar um estudo científico cujos resultados podem ser mal utilizados, por exemplo, por terroristas biológicos.
 
Marie-Christine Janssens focou os direitos de propriedade intelectual nesta era digital e em que a assinatura das revistas científicas internacionais superou 250% a inflação média nos últimos 30 anos. “É importante que as universidades tenham políticas de open access e com apoio de financiadores públicos, sob pena de o sistema não funcionar bem”, disse. A “estrada dourada” é o Plano S. Este projeto da Comissão Europeia tem a colaboração de agências de 14 países e propõe que, a partir de 2020, os resultados da investigação financiada com dinheiro público sejam publicados apenas em revistas de acesso livre, que qualquer pessoa possa consultar sem pagar por isso.
 
Margarida Correia Neves teve a palavra final. “Foi uma tarde fantástica, com muitas reflexões e pontos de vista, desde desenvolvimento de carreira, atração de estudantes, trabalho colaborativo, formação multidisciplinar, transparência académica e científica… Agora, vamos ao trabalho no Colégio Doutoral UMinho. Darei o meu melhor!”, afirmou.



Cerca de 1500 alunos em 60 doutoramentos
 
O primeiro grau de doutor pela UMinho foi atribuído a 12 de dezembro de 1981, a Elias Blanco, na área da Educação, pela então Unidade Científico-Pedagógica em Ciências da Educação (atual Instituto de Educação). Desde aí já houve 2964 doutorados por esta academia, dos quais 302 até 2000. Só no ano passado, 120 mulheres e 119 homens obtiveram este grau. A UMinho tem em curso 60 programas de doutoramento, frequentados por cerca de 1500 estudantes de vários países.