Estes dez filmes são imperdíveis

20-12-2019

Martin Dale é investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) e professor de Cinema do Instituto de Ciências Sociais da UMinho

"Um Homem com uma Câmara", de Dziga Vertov

"La Jetée", de Chris Marker

"Prima della Rivoluzione", de Bernardo Bertolucci

"Pierrot le Fou", de Jean-Luc Godard

"Clockwork Orange", de Stanley Kubrick

"The Godfather", de Francis Ford Coppola

"Taxi Driver", de Martin Scorsese

"Stalker", de Andrei Tarkovsky

"Atonement", de Joe Wright

"Roma", de Alfonso Cuaron

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Desafiámos o professor Martin Dale, do Instituto de Ciências Sociais, a sugerir-nos um conjunto de obras da sétima arte intemporais e que merecem muito ser vistas.




Vivemos num momento muito estimulante de imagem em movimento, com muitas propostas em todas as “plataformas”, desde as salas de cinema até às redes sociais. A palavra “filme” já pode significar tudo - desde um spot de poucos segundos até uma série com muitas temporadas. Decidi escolher títulos que têm ficado como marcas na minha memória, optando principalmente por películas feitas há algumas décadas, mas que continuam muito atuais. Por ordem cronológica:
 
1. "Um Homem com uma Câmara", de Dziga Vertov (1929)
Esta longa-metragem, de cinema mudo, exprime uma enorme alegria e um espírito inventivo de filmar. Hoje em dia, toda a gente pode fazer um filme, desde o telemóvel até câmaras que filmam em 8K. Acho que a exploração da cidade e da arte cinematográfica neste filme continua profundamente atual. O livro “Kino Eye”, de Vertov, também é excelente.
 
2. "La Jetée", de Chris Marker (1962)
Um filme de 28 minutos quase exclusivamente feito de imagens fixas. É profundamente romântico e poético, numa história de ficção científica sobre a paixão e a memória. Tem pontos em comum com “Vertigo”, de Hitchcock, e serviu como inspiração para “12 Macacos”, de Terry Gilliam.
 
3. "Prima della Rivoluzione", de Bernardo Bertolucci (1964)
O primeiro filme e o mais pessoal de Bertolucci. Exprime a doçura da viver, antes dos pensamentos políticos, e mostra uma Itália que está rapidamente a modernizar-se e perder laços com a terra. Gosto sobretudo do seu espírito poético e romântico.
 
4. "Pierrot le Fou", de Jean-Luc Godard (1965)
A dinamarquesa Anna Karina morreu estes dias. É a musa de Godard e a atriz principal deste filme, que para mim é a obra prima de Godard. Um film noir a cores, como o realizador o descreve, tendo os dois atores principais - Karina e Belmondo - a fugir de Paris para uma espécie de paraíso tropical na Sul de França, para enfrentarem o seu amor.
 
5. "Clockwork Orange", de Stanley Kubrick (1971)
Um filme violento com personagens que quebram todas as regras de sociedade. Mas, ao mesmo tempo, fascina-nos. Há algo diabólico na personagem principal (Alex DeLarge) representado por Malcolm McDowell, que tem inspirado outros papeis, nomeadamente o Joker de Heath Ledger, em "The Dark Knight". Há pontos em comum entre esta personagem e a figura de Polichinelo, da commedia dell'arte. Até podemos fazer pontos de ligação entre os Droogs e os Caretos de Podence.
 
6. "The Godfather", 1 e 2, de Francis Ford Coppola (1972, 1974)
Duas obras primas, com magníficas representações de Marlon Brando, Al Pacino e Robert de Niro. A história desenrola-se num universo profundamente masculino e mostra como o desejo de poder pode destruir tudo.
 
7. "Taxi Driver", de Martin Scorsese (1976)
Robert de Niro acompanhado por Harvey Keitel, Jodie Foster e Cybill Shepherd. Uma espécie da descida para o Inferno, em busca de recuperar Perséfone que foi raptada por Hades. O contexto político de “We are the People” continua muito atual.
 
8. "Stalker", de Andrei Tarkovsky (1979)
Uma viagem espiritual, entrando na Zone e avançado para a Room - de potencial iluminação espiritual que poucos entendem. Adoro todos os filmes de Tarkovsky. A personagem principal, o stalker, é uma figura xamanística que tem paralelos com o próprio Tarkovsky. O seu discurso no final do filme capta a dor que o realizador sente em levar os outros no seu caminho.
 
9. "Atonement", de Joe Wright (2007)
Finalmente um filme mais recente! Também gosto muito do trabalho de Joe Wright e considero que este filme é um dos melhores romances de sempre, com excelente representação de Keira Knightley e James McAvoy.
 
10. "Roma", de Alfonso Cuaron (2018)
Cuaron é um mestre que consegue excelentes filmes de autor como este, "Y Tu Mamá También" e filmes comerciais como "Harry Potter and the Prisoner of Azkaban" e "Gravity". Adorei "Roma" pela sua subtileza e pela grandeza das imagens e pelo facto de captar o México autêntico dos anos 70, que mostra a divisão das classes e uma certa doçura de viver no meio de um ambiente social e político difícil.