Como será o trabalho no futuro? Será possível um futuro sem termos necessidade de trabalhar? E o trabalho que existir? Será para todos ou apenas para uma pequena minoria?
Tal como no presente, também num passado mais ou menos recente se colocaram estas questões. Em 1811, um grupo de artesãos têxteis ingleses, autodenominado de “Luditas” (em homenagem a um tecelão de Leicester, Ned Ludd) destruiu máquinas de tecelagem como forma de protesto pelo uso crescente das mesmas que ameaça o seu trabalho. De forma mais ou menos dramática, desde a revolução industrial, e acompanhando uma evolução tecnológica acelerada, são inúmeros os exemplos de reação, ou pelo menos de receio e ansiedade, face aos potenciais efeitos adversos da evolução tecnológica no emprego.
Mais recentemente, a digitalização dos processos produtivos e o uso intensivo da robotização e da inteligência artificial trouxe novamente ao debate qual o impacto deste progresso, não só sobre o trabalho, mas sobretudo sobre a qualidade do mesmo e os correspondentes efeitos ao nível da distribuição de rendimento e riqueza.
Não há dúvida de que uma parte substancial das tarefas produtivas, da indústria ou serviços, poderá vir a ser automatizada, sendo este um processo que tem evoluído rapidamente. Já não há dúvidas que os automóveis sem condutor serão uma realidade a médio prazo, ou lojas sem empregados, onde apenas encontremos clientes. A “revolução” em curso altera o modo de executar quer de tarefas manuais, quer de tarefas cognitivas. Em ambos os casos, espera-se um maior impacto nas tarefas que obedecem a uma rotina, cujos procedimentos possam ser codificados, passíveis de serem programados e geridos através de um computador.
No caso das tarefas não rotineiras, assentes em conhecimento tácito, intuitivo e relacional, dificilmente programável, a tecnologia poderá ser um complemento útil, aumentando a sua produtividade. Deste processo resultarão ganhos acentuados, e crescentes, para as tarefas cognitivas que incidem em componentes analíticas e interpessoais, em contraponto às perdas de emprego, e de rendimento, associado a tarefas rotineiras.
O fim do trabalho está muito longe e o mais certo será nunca acontecer. Novas profissões e novas funções para as ocupações atuais vão surgir. Não havendo uma resposta única a estes desafios, o que sabemos hoje é que a educação, o desenvolvimento de competências e a reforma do Estado Social serão imperativos para que os ganhos do progresso possam ser usufruídos por todos.
Professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho