"A cultura é inseparável da missão da Universidade"
Que pensa do modelo de Grupo de Projetos para a UMinho?
A ideia foi talvez do professor Romero. Nasceu num regime de poupança, de otimização de recursos. Do ponto de vista conceptual apontava para mais interdisciplinaridade, um professor ser mais completo e adaptar-se se não tivesse lugar numa zona para dar aulas (na investigação é diferente, tem de ser mesmo de certo domínio). O modelo não foi fácil de implementar, teve muita gente contra, principalmente quem veio de Coimbra e Lisboa, habituada ao modelo das faculdades. Mas na UMinho funcionou. Tinha anfiteatro e salas para eu da Física, Hernâni Maia da Química e o colega da Matemática darmos aulas no mesmo edifício. O contínuo, o assistente para buscar giz, ou para a limpeza era para a mesma pessoa. Ainda se aceita que o modelo tem potencialidades, mas a tendência é para acabar, à medida que houver mais meios e desenvolvimento.
E a questão do modelo matricial?
É o mesmo. No fundo, o Grupo de Projetos era uma matriz em que tinha, por exemplo, os projetos na vertical e os recursos na horizontal… Os recursos são professores, equipamentos, espaços... Foi um modelo lógico e operacional. Mas à medida que a universidade se desenvolveu criou-se os grupos e – acabámos por assim chamar – os departamentos. Nos Estatutos foi uma luta conciliar ideias do grupo matricial com as anglo-saxónicas. E quando chamamos unidades de ensino e unidades de investigação, era impercetível por muitas pessoas de fora…
Como equaciona o papel das unidades culturais?
O termo “unidades culturais” apareceu na feitura dos estatutos. Criou confusão em algumas unidades, porque cultura também é Filosofia, Música, Arquitetura… Depois havia o Conselho Cultural… bem, mantivemos o nome devido à dinâmica que criaram e à influência com o exterior. A Unidade de Arqueologia funcionava bem com as Câmaras e com Lisboa, a Educação de Adultos foi uma novidade em Portugal e, por outro lado, fomos a única universidade a assumir uma Biblioteca Pública e Arquivo Distrital - aliás, o Decreto-Lei 402/1973 já o diz. Mais tarde veio a Casa Museu de Monção e a Casa Nogueira da Silva, onde se criou o Museu, o Centro de Estudos Lusíadas e, nos dois edifícios ao lado, colocámos a Unidade de Arqueologia [hoje no Edifício dos Congregados, em frente] e as Ciências Sociais [hoje com edifício próprio em Gualtar]. A cultura é inseparável da missão de qualquer universidade.
Que visão tem da universidade entre Braga e Guimarães?
A minha ideia, também de Lloyd Braga, é que quando houvesse capacidade de desenvolvimento Guimarães merecia mais valências. A dada altura, ele disse que só ficava no entendimento que o polo de Guimarães tenderia para uma universidade, senão era contra as ideias da Comissão Instaladora. Foi-se criando em Guimarães o mais óbvio daquela zona, como a Civil, as Engenharias em geral, a Geografia, a Arquitetura…
Olhando para o tempo dedicado à construção da universidade, acha que valeu a pena?
É óbvio que valeu muito a pena, mas só vestindo a camisola da universidade naqueles anos 70/80/90 e não pensar em sábados e domingos. Era dedicação exclusiva e a ir para os centros de poder em Lisboa e Bruxelas. Acho que a UMinho foi criada assim, com homens e mulheres que apostaram muito nisto, na investigação, nos projetos e, mesmo que alguns não concordassem, houve sempre um elo, a universidade estava acima das ideias de cada um. Talvez porque Lloyd Braga conseguiu impor essa ideia de início. Realmente, a UMinho continua com uma dinâmica extraordinária.
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