Dicas para estudar para os exames

16-07-2020

Fernando Ilídio Ferreira

Não são conselhos que pretendo dar-vos, muito menos se forem entendidos como uma espécie de “guia de boas práticas” – ou, como é dito frequentemente, “práticas eficazes” de estudo –, mas tão só algumas ideias que considero que podem ser úteis.


“Bem prega Frei Tomás; olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz”. Quem não conhece este provérbio? Talvez seja isso que muitos alunos pensam sobre os seus professores. Então, como podemos dar-lhes conselhos, sugestões, dicas sobre como devem estudar – métodos e técnicas, organização do tempo, hábitos, foco, etc. – para a realização dos seus trabalhos e, especialmente, para os exames? É com esta consciência de que os estudantes poderão pensar ou dizer “Bem prega Frei Tomás…” que escrevo este breve texto sobre a importância do estudo na atividade académica, o que é válido tanto para os alunos como para os professores. 

Escrevo este texto não apenas como professor e investigador do Instituto de Educação, onde leciono várias unidades curriculares (UCs) em duas licenciaturas – em Educação e em Educação Básica – e vários mestrados nas áreas da educação e do ensino –, mas também como estudante que fui e continuo a ser. Estudar é, no fundo, assumir um compromisso pessoal com um projeto académico, podendo nesse sentido constituir uma fonte de satisfação e realização pessoal, não só no campo académico, mas também noutros contextos da vida: a família, o trabalho, a cidadania, a comunidade próxima e a sociedade em geral.

Confesso que eu próprio, enquanto aluno e com a idade que têm os estudantes de licenciatura e mestrado da UMinho, na sua grande maioria, não fui propriamente exemplar em matéria de organização e método de estudo. Frequentemente, era muito próximo dos exames que estudava, embora intensivamente, e não dispensava um bom convívio com colegas e amigos, pela noite dentro. Portanto, o que vos proponho enquanto professor é fruto da minha memória enquanto aluno e da experiência que fui adquirindo ao longo dos anos em vários contextos e atividades – académicos, associativos, familiares, de convivência entre amigos, de formação contínua de professores e de outros profissionais de diferentes áreas, de consultoria e avaliação externa de escolas, de centros de formação, de escolas profissionais, entre outros. Não são conselhos que pretendo dar-vos, muito menos se eles forem entendidos como uma espécie de “guia de boas práticas” – ou, como é dito frequentemente, “práticas eficazes” de estudo –, mas tão só algumas ideias que considero que vos podem ser úteis, no “agora”, mas também a curto e a médio prazo.

Elenco de seguida algumas dessas ideias – princípios, hábitos, práticas – que considero úteis para o estudo. Refiro-me ao estudo sistemático, que é aquele que não apenas reproduz um conhecimento transmitido por outros, professores e múltiplos agentes, mas principalmente o estudo que contribui para a produção de conhecimento e, nesse sentido, nos torna sujeitos, atores e autores, e não simples recipientes ou máquinas de memorização. São os seguintes:
- Desenvolver uma “relação com o saber” que não seja vivida como uma “dor de cabeça”, mas antes como uma necessidade e o desejo de se sentir sujeito atuante no mundo e não mero espetador;
- Encarar o curso e a aprendizagem como um projeto académico, assumindo nesse sentido um compromisso pessoal com o mesmo;
- Assistir presencialmente às aulas, pois esse espaço-tempo de comunicação, partilha e reflexão, expressão de pensamento crítico, etc., é fundamental para o desenvolvimento da capacidade de compreensão da matéria;
- Cultivar o gosto pela realização de algo (um trabalho, um projeto, um relatório...), utilizando o conhecimento adquirido, ideias próprias, imaginação criadora;
- Evitar a ideia de que planificar o estudo – o estudo sistemático, baseado na pesquisa – é tempo perdido;
- Conceber um plano de estudo diário/semanal consoante o volume de matéria das UCs e a curiosidade de saber mais, de ir mais além;
- Estruturar o tempo de estudo de acordo com as várias UCs do programa curricular, tendo em conta o curto prazo (até uma semana), o médio prazo (até um mês) e o longo prazo (até ao final do semestre);
- Possuir uma agenda organizada, funcional e realista, de modo a adequar o plano de estudo (dias, hora...) ao tempo efetivamente disponível;
- Prever e realizar sessões de estudo individual e em grupo;
- Ler os textos (livros, artigos, etc.) sugeridos pelo professor durante as aulas e pesquisar outros sobre temáticas afins;
- Sublinhar as expressões e as palavras-chave de um texto e identificar as diferenças entre as ideias principais e as ideias secundárias do mesmo;
- Elaborar resumos e interrogar as ideias expressas nos textos, refletindo sobre elas, em vez de simplesmente memorizar;
- Relacionar as novas ideias com conhecimentos prévios e com a experiência quotidiana;
- Elaborar gráficos, esquemas e mapas mentais para compreender melhor a matéria em questão;
- Procurar obter feedback do professor sobre o trabalho realizado, individualmente e/ou em grupo;
- Procurar o apoio dos colegas, sempre que considerar necessário, e perguntarem uns aos outros o que pensam sobre determinado assunto;
- Expressar os próprios sentimentos sobre a forma como decorre o estudo e, de uma forma geral, como está a viver o seu projeto académico.

A propósito de expressar sentimentos, concluo neste registo o presente texto. Sinto, desde criança e de aluno de escola primária, uma enorme curiosidade em relação ao conhecimento do ser humano, da Natureza, da Ciência, da técnica, da música, da arte, da literatura. Gosto da descoberta, da invenção – não de “grandes” coisas, mas de ventoinhas, moinhos, bonecos, jogos e brincadeiras; de plantar, semear e colher; de caminhar com ou sem destino, só ou acompanhado; de ler e escrever, de imaginar e procurar conhecer o que está para além do(s) meu(s) horizonte(s). O estudo tornou-se um modo de vida. Hoje, enquanto pessoa, académico, profissional e cidadão procuro transmitir aos outros, especialmente aos meus alunos, o gosto pelo estudo, pelo uso de ferramentas teóricas e práticas, não como mero ato circunstancial e utilitário para realizar as tarefas académicas e obter excelentes resultados, mas como atitude e prática quotidianas que considero que me humanizam e orientam tanto para uma “vida boa” como para o “bem comum”.


Professor do Instituto de Educação da Universidade do Minho