Helena Pina-Vaz
A alumna de Ensino de Português e Francês e diretora do Colégio Luso-Internacional de Braga (CLIB) lidera o movimento "Refeições Solidárias para Virar a Página", que serve cerca de 300 refeições por dia aos mais carenciados. O coletivo conta com mais de 200 voluntários de diversas idades e nacionalidades, incluindo vários refugiados.
Os pedidos de ajuda são muitos?
O número de pedidos cresceu bastante nesta fase, mas temos conseguido dar resposta graças à dinâmica inesperada que se gerou à volta da ideia. Um entusiasmo imparável de quem doa, de quem confeciona e de quem distribui estas refeições. Tudo é doado, todos somos voluntários. Já foram servidas 20.000 refeições em dez semanas de atividade.
O que a tem surpreendido mais?
Como voluntários, sentimo-nos gratos pela oportunidade e preparados para continuar. Encaramos este serviço em prol do bem comum como quem coloca gentilmente um pouco de reconforto e paz nos pratos dos beneficiários, desejando que a necessidade da nossa ajuda seja rapidamente ultrapassada. Tentamos ser discretos nos gestos e alegres na nossa ação e isso devolve-nos um pouco da paz interior que esta pandemia tentou roubar-nos. Os beneficiários têm estabelecido muitos laços connosco, enviam mensagens e palavras carinhosas. Entregamos-lhes todos os dias um postal com uma mensagem elaborada por alunos do CLIB. Até já temos um convívio planeado entre voluntários e beneficiários, mal seja permitido um evento sem máscaras e com abraços.
A cantina do CLIB é o centro de operações do movimento. Este envolvimento do próprio colégio pretende servir também de exemplo de cidadania para as gerações mais novas?
Tudo nasceu pelo facto de podermos usar a cantina do CLIB. É muito natural que assim tenha sido, porque o colégio tem já, felizmente, uma longa experiência de total abertura para a resolução de problemas e é assim que os nossos estudantes são formados. Eles e as famílias fazem sempre parte das nossas iniciativas e esta não foi exceção.
Os refugiados, que normalmente são apoiados pelo próprio movimento, juntaram-se para ajudar na confeção e distribuição das refeições. O que significa isso para si?
Os refugiados que acolhemos foram recebidos na sequência de um protocolo com a Plataforma de Apoio aos Refugiados, com a qual o CLIB colabora desde 2015. Estas pessoas são acolhidas com muito afeto e respeito pelo seu sofrimento e dignidade. Por isso, a sua inserção na sociedade acontece de forma muito natural. Sentem-se cidadãos, apercebem-se das necessidades e querem sempre juntar-se a quem os acolheu para a resolução de problemas que são de todos. Fico muito grata por este gesto de ternura!
A covid-19 gerou na sociedade uma onda de solidariedade. Este clima de entreajuda veio para ficar?
Em todas as iniciativas solidárias em que tenho estado envolvida, sinto a solidariedade fácil dos portugueses. Somos muito assim, comovemo-nos com os problemas dos outros. As necessidades alimentares, em particular, não deixam ninguém indiferente. Não me parece que tenha a ver só com a covid-19, tem a ver com o sentir português, com a nossa alma!
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