“Interagimos cada vez mais com o setor produtivo e a sociedade”

18-12-2020 | Pedro Costa | Fotos: CBMA e DR

A equipa do CBMA no interior do edifício do IB-S, no campus de Gualtar, em Braga

Pormenor da fachada icónica do IB-S

O CBMA também tem instalações na Escola de Ciências da UMinho, no mesmo campus

Jovens cientistas realizam uma experiência no Laboratório de Biologia Vegetal

Investigadores no Laboratório de Ecologia, num momento de boa disposição

Investigadores do Laboratório de Biologia Costeira em sessão de trabalho na costa de Viana do Castelo, em junho de 2020

Inauguração do IB-S, cofundado pelos centros CBMA e ISISE, na presença de Fernando Freire de Sousa (CCDR-N), António M. Cunha (reitor), Manuel Heitor (ministro), José Mendes (secretário de Estado) e José Teixeira (dst), em outubro de 2017, em Braga

João Rocha (CBMA), Cláudia Pascoal (IB-S), Fernanda Cássio (CBMA), Paulo Ramísio (pór-reitor), Carla Sousa Pinto e Miguel Vaz (ambos da Direção-Geral das Atividades Económicas), no workshop “Rótulo Ecológico da União Europeia”, na Escola de Ciências, em maio de 2017

Os participantes do XX Simpósio Ibérico de Estudos em Biologia Marinha, em setembro de 2019, no campus de Gualtar

XXI Jornadas de Biologia de Leveduras Professor Nicolau van Uden, em junho de 2018, no IB-S, organizadas pelos centros CBMA e ICVS da UMinho

Investigadores a divulgar ciência na Noite Europeia dos Investigadores, em outubro de 2019, no Altice Forum Braga

A exposição “Scientia das Coisas”, patente em novembro e dezembro de 2020 no Largo do Paço, Braga, criada pelo projeto Scientia.com.pt, com duas investigadoras do CBMA e uma do Centro de Matemática da UMinho

Team building em 2019, na Quinta de Soalheiro (Melgaço), parceira do conselho consultivo do CBMA

Fernanda Cássio é investigadora e diretora do CBMA, além de professora catedrática do Departamento de Biologia da Escola de Ciências da UMinho

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Fernanda Cássio

O ciclo de entrevistas com diretores dos centros I&D da UMinho foca o Centro de Biologia Molecular e Ambiental.


O Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) é uma unidade de investigação criada em 2008, com sede na Escola de Ciências da UMinho (ECUM), em Braga. A sua missão é promover a excelência na área das Ciências Biológicas, tanto ao nível da investigação, como no apoio aos alunos de formação pós-graduada. O CBMA baseia a sua estratégia em três pilares: investigação, formação avançada e sociedade. Nos últimos cinco anos, angariou mais de 50 projetos que corresponderam oito milhões de euros de financiamento. Atualmente alberga 54 investigadores doutorados, além de um contingente de alunos de mestrado e doutoramento, numa equipa que ultrapassa a centena de elementos. É sobre as dinâmicas e objetivos futuros que falamos com Fernanda Cássio, professora catedrática e diretora deste Centro, que detém uma classificação de Muito Bom atribuída pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
 

O CBMA surgiu com que motivações?  
O CBMA é uma instituição de I&D, criada em 2008, que desenvolve investigação de excelência na área das Ciências Biológicas orientada para a resolução de problemas, criando novas ferramentas e estratégias, com impacto nos setores ambiental, biotecnológico, saúde, agroalimentar e industrial. Para além da investigação, tem como missão a formação pós-graduada, bem como a promoção da literacia científica e a transferência de conhecimento para a sociedade a nível nacional e internacional.

Como descreveria o espaço e as infraestruturas do Centro, para quem ainda não o conhece?
As infraestruturas usadas pelo CBMA estão localizadas em dois edifícios, nomeadamente na Escola de Ciências e no Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-Sustentabilidade (IB-S) da Universidade do Minho. O IB-S foi pensado em 2010 e inaugurado em 2017 e, por isso, possui laboratórios modernos que foram adequados desde o início à função que iriam desempenhar.
 
Tem os recursos que deseja?
Os espaços na ECUM, com cerca de 30 anos, precisam de ser remodelados. Contudo, quero frisar que as instalações são adequadas à realização de investigação de qualidade excelente. No que respeita aos recursos, temos o essencial para conduzir investigação, mas há dois aspectos que precisavam de atenção: algum equipamento é muito antigo e deveria ser renovado; e falta nomeadamente uma infraestrutura diferenciadora, que foi projetada em 2015 antes da inauguração do IB-S, e que designamos como rios artificiais. Trata-se de um conjunto de canais onde se podem controlar fatores físicos - temperatura, pH, condutividade, etc. - e químicos - nutrientes, compostos potencialmente tóxicos, etc. - e onde podemos instalar comunidades biológicas naturalmente presentes nos ecossistemas aquáticos. Neste sistemas podem ser testadas diversas questões ecológicas e ecotoxicológicas de elevada relevância científica e ambiental, nomeadamente relacionadas com a importância da biodiversidade para os processos e os serviços providenciados pelos ecossistemas aquáticos em cenários de alterações climáticas ou avaliar a potencial toxicidade de químicos emergentes, como fármacos, disruptores endócrinos e nanomateriais.

Que equipas e unidades de investigação alberga?
O CBMA desenvolve as suas actividades tomando partido de uma equipa multidisciplinar composta por 105 elementos, dos quais 54 são investigadores doutorados. As principais áreas científicas da equipa são a Biologia Celular, a Biologia Molecular, a Biotecnologia, a Ecologia, a Conservação da Biodiversidade, as Alterações Globais, a Ecotoxicologia,  a Bioestatística e a Modelação.


A equipa é o principal fator de diferenciação

Que balanço faz do percurso deste Centro até ao momento?
O CBMA tem vindo a crescer ao longo dos anos de uma forma sustentada, nomeadamente no número de recursos humanos, no financiamento competitivo captado e nas instalações. Isto tem resultado numa maior atratividade e capacidade de interagir com o setor produtivo, nomeadamente com as empresas, com os municípios e outros órgãos responsabilidade pública, e com a sociedade em geral. Também nos tem permitido aumentar o impacto da investigação ao nível internacional.

Qual é o principal fator da sua afirmação?
A equipa CBMA, pela sua qualidade científica, qualidade humana, motivação, competitividade e responsabilidade ética.

Que eventos destacaria?
Nos principais destaques estão a inauguração do IB-S, um projeto que desenvolve investigação interdisciplinar nas áreas das Ciências Biológicas, da Engenharia Civil, da Microelectrónica e da Ciência dos Nanomateriais, com vista a implementar estratégias e soluções de médio e longo prazo para a compatibilização do ambiente natural e construído. Por outro lado, há o programa de formação avançada em áreas chave de investigação do CBMA; a organização de congressos científicos nacionais e internacionais; a implementação de protocolos com empresas e o desenvolvimento de projetos em parceria; e as atividades de sensibilização e de transferência de conhecimento para diferentes públicos.

Como avalia a recetividade dos públicos ao vosso trabalho?
No que respeita a atividades para a sociedade, empresas e público em geral, podemos afirmar que o CBMA é extremamente requisitado e reconhecido pela qualidade do trabalho associado às suas iniciativas. Tem vários públicos-alvo, desde a comunidade científica (através da investigação de excelência e da produção científica que daí advém) às empresas (na procura de colaboração com vista à transferência de conhecimento/inovação) e ao público em geral nos seus diversos grupos. Na componente científica, nos últimos cinco anos - 2015-2019 - publicámos 435 artigos e tivemos 52 projetos financiados correspondendo a 8.088.463€ de financiamento. Entretanto, em 2008, foi criado um conselho consultivo tecnológico e industrial, para promover a interação com o tecido empresarial, do qual fazem parte empresas como a Sogrape, a Soalheiro, a Primor, o SuperBock Group e a Frulact. Ainda não temos números para 2020, mas em 2019 participámos em mais de 40 atividades, distribuídas por várias iniciativas, algumas como organizadores outras como participantes, de que são exemplo o “Greenfest”, a “Noite Europeia dos Investigadores”, “Os Investigadores Voltam à Escola”, “Pint of Science”, “Ciência Andante”, “Semana da Ciência e Tecnologia” e “Verão no Campus”.



Laboratório associado em perspetiva

Quais são os principais projetos para os próximos tempos?
O CBMA está numa candidatura a laboratório associado, designada ARNET - Aquatic Research Network, que lhe permitirá ganhar maior relevância ao nível nacional e internacional. Atualmente, faz parte de dois laboratórios colaborativos: Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID) e VINES&WINES. Teve recentemente aprovados os projetos SUDOE Fleurs locales, Agrifood XXI e Atlântida e foi agraciado com o Prize of Scientific Research and Technological Development. Concorreu ainda com uma equipa multidisciplinar ao projeto River2Ocean: Socio-ecological and biotechnological solutions for the conservation and valorisation of aquatic biodiversity in the Minho Region.

Em que medida projetos como o CBMA contribuem para a missão da Universidade?
Citando os Estatutos da UMinho, "A Universidade tem como missão gerar, difundir e aplicar conhecimento, assente na liberdade de pensamento e na pluralidade dos exercícios críticos, promovendo a educação…”. Sobre as atividades científicas, já as referimos de forma breve. Estamos profundamente envolvidos em quatro programas doutorais (Biologia Molecular e Ambiental; Microbiologia Molecular e Ambiental; Ciência, Tecnologia e Gestão do Mar; e Cadeias de Produção Agrícola - Agrichains). Também organizamos seis cursos avançados internacionais por ano e, em 2019, dez conferencias internacionais e cinco nacionais. A missão da UMinho preconiza: “…contribuindo para a construção de um modelo de sociedade baseado em princípios humanistas, que tenha o saber, a criatividade e a inovação como fatores de crescimento, desenvolvimento sustentável, bem-estar e solidariedade". A investigação realizada no CBMA tem como objetivo basilar contribuir para o desenvolvimento sustentável e para o bem-estar da sociedade. Para além disso, promovemos fortemente a divulgação da nossa investigação e temos em conta a opinião das pessoas, promovendo uma ciência cidadã e contribuindo para uma sociedade mais informada e capacitada a tomar decisões. Em 2020, a investigação e as atividades do CBMA foram destacadas nos meios de comunicação social em cerca de 200 notícias, 15% das quais em jornais internacionais.

Quer deixar alguma mensagem final?
Gostaria que a sociedade se aproximasse cada vez mais dos centros de investigação e de formação como forma de reconhecimento que os centros trabalham para a sociedade e a sociedade pode influenciar as áreas de investigação dos centros. Também, assim, os governos tenderão a financiar melhor a investigação e os mecenas poderão surgir naturalmente por via do reconhecimento do papel da ciência. Só o esforço conjunto dos investigadores, da sociedade e dos decisores políticos permitirá combater as grandes ameaças globais, como a perda da biodiversidade, as alterações climáticas, a fome e a falta de literacia, que possibilitará a construção de um mundo mais justo, igualitário e sustentável.