Uma réplica da sociedade orwelliana
A China é “uma réplica em construção da sociedade orwelliana", afirma Paulo Duarte, aludindo ao conhecido livro “1984”. Por exemplo, impede a liberdade de expressão nas redes sociais, impede a entrada de repórteres estrangeiros na região de Xinjiang e noutras, ignora leis laborais internacionais, persegue académicos em Hong Kong. “Tem a pior das censuras incorporada em si: a pessoa sabe de antemão o que pode dizer ou fazer”, sintetiza. O que hoje muda é um sistema de pontuação social, que beneficia o “bom cidadão”, ao permitir-lhe ter desconto na tarifa de luz, perfil melhorado em sites de namoro (há muitos mais homens do que mulheres na China), melhor acesso à universidade e ao emprego ou ainda a hipótese de viajar.
A classe média chinesa que hoje viaja por todo o mundo já é superior, em número, à população dos EUA: “Compra ‘tudo’, contacta com ventos de liberdade, mas, paradoxalmente ao regressar ao seu país, a sua mentalidade mudou, algo que pode ser um tiro nos pés do regime”, esclarece. O docente partilha do entendimento do investigador Andrew Nathan de que as ditaduras não são derrubadas por forças exteriores, elas caem por si próprias. Por sua vez, o “milagre económico” chinês teve um impacto ambiental severo na pátria do dragão. Em vinte anos desapareceram 28 mil rios. Hoje morrem, por ano, cerca de 400 mil chineses que bebem água contaminada e apenas 7% das terras são aráveis devido à forte poluição.
Paulo Duarte lembra, em complemento, que os EUA também beliscam os direitos ambientais e os direitos humanos. Mas, por vezes, são “subtis”. Se analisarmos o meio online, entidades privadas estado-unidenses como Google, Amazon ou Facebook controlam o acesso, a pesquisa e a oferta e obtêm dados dos cidadãos. Mas a chinesa Huawei deve superar numa década a tecnologia ocidental e ter pacotes mais baratos para o consumidor, o que pode abalar a prazo a intelligence e economia dos EUA e da União Europeia" (UE), explica. A digitalpolitik é já uma ameaça neototalitária.
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