“Encontrei na UMinho uma abertura e uma proximidade que me surpreenderam”
Como chegu à UMinho?
Concorri para as vagas abertas em 1995 para assistente estagiário. Ainda estava em Coimbra a fazer melhorias de nota quanto fui chamada para a entrevista. Tive muita sorte, porque foi-me dada a oportunidade de começar a lecionar. A adaptação foi muito fácil. A primeira grande sensação ao chegar à UMinho foi a de proximidade. Encontrei uma universidade muito mais aberta do que aquilo a que estava habituada. Fui muito bem acolhida e tiveram um papel importante a Carmelinda Vilaça – secretária do então Departamento Autónomo de Direito e que foi como uma mãe para mim – e também o professor António Cândido de Oliveira, diretor do Departamento na altura. Na UMinho, foram-me dadas muitas oportunidades para crescer, algo que muito provavelmente não teria acontecido se tivesse permanecido em Coimbra ou ido para uma universidade mais tradicional.
Imaginava que iria ficar todos estes anos?
De alguma forma, sim. O Estatuto da Carreira Docente então em vigor permitia que os assistentes estagiários ingressassem logo num percurso de carreira (tenure track), o que me motivou a cumprir as sucessivas etapas na UMinho. Fiz provas de aptidão pedagógica e capacidade científica, em 2000, e depois tive a oportunidade de gozar uma dispensa de serviço docente para estar três anos em Florença a fazer o doutoramento. Tenho tido sorte, porque recebi sempre o apoio da Escola de Direito e da UMinho para fazer investigação nas áreas de que gosto.
E a sensação de lecionar?
Gosto muito da interação com os alunos, ainda que já não tenha a mesma energia de outros tempos. É uma forma de devolver aquilo que fizeram por mim. Na medida do possível, procuro estar disponível para os alunos e investigadores mais jovens, sobretudo aqueles que se interessam ou pretendem desenvolver trabalho nas áreas em investigo.
Quais são os principais desafios que implica lecionar?
A escassez de tempo dos alunos, que limita a disponibilidade deles para uma maior dedicação às aulas. Sinto isto, sobretudo, com os alunos de mestrado, que, frequentemente, tentam conciliar as aulas e a dissertação com o estágio de advocacia e os exames da Ordem dos Advogados ou os exames para o Centro de Estudos Judiciários. Isto implica alguma dispersão, apesar de haver também muito entusiasmo – sobretudo no mestrado em Direitos Humanos, onde é frequente termos alunos associados ao ativismo e à defesa dos Direitos Humanos no terreno.
Também assume a direção do JusGov, que traz responsabilidades acrescidas.
Com certeza! Em primeiro lugar, importa cumprir o contrato-programa que temos com a FCT. Temos investigadores muito talentosos em várias áreas, quer nos Direitos Humanos, quer no Direito da UE, na interação entre as tecnologias e as empresas. Temos um laboratório de justiça que acompanha a prática judicial e uma equipa muito importante a trabalhar nas áreas da Criminologia e do Direito Penal. Temos muitas áreas em que podemos dar contributos importantes para a sociedade e para a própria academia.
A tal preocupação com a transferência do conhecimento...
Sim. São duas vertentes que têm que estar sempre a par. Por um lado, temos que estar atentos à articulação da investigação que é desenvolvida e aquilo que é lecionado nos vários programas de formação; por outro, também àquilo que a sociedade espera de nós ou àquilo que podemos devolver à sociedade. Até porque muitos dos trabalhos desenvolvidos são financiados por dinheiros públicos. É importante que o que fazemos não verse apenas sobre os temas de que gostamos porque suscitam a nossa curiosidade científica, mas também sobre temas que sejam politicamente relevantes, ou seja, cujo tratamento possa proporcionar elementos úteis aos decisores políticos no momento da adoção de medidas legislativas ou da definição de políticas públicas.
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