nº
130
março
'
2024
PT
•
EN
INÍCIO
REPORTAGENS
OPINIÃO
I&D
UM DE NÓS
FORMAÇÃO E EMPREGO
GALERIA
<
voltar à página anterior
Ciência Aberta para enfrentar o Covid-19
31-03-2019
Eloy Rodrigues tem esperança que uma das poucas coisas positivas que possam resultar desta crise seja uma ciência mais aberta, mais responsável e mais comprometida com necessidades da nossa sociedade.
À semelhança do que já aconteceu em emergências sanitárias anteriores (como o ébola ou a zika), as organizações de saúde e a comunidade científica têm vindo a apelar à partilha do conhecimento (desde os dados de investigação até às publicações em revistas científicas) útil para a compreensão e o combate à pandemia provocada pelo Covid-19. E, de facto, nos últimos dois meses multiplicaram-se as iniciativas de partilha de dados, colaboração e acesso aberto por parte da comunidade académica, mas também das revistas, como a
The Lancet
e outras centenas, que disponibilizam temporariamente os seus conteúdos relacionados com o Covid-19.
Este comportamento comprova, mais uma vez, o que os defensores da ciência aberta têm vindo a repetir, com um sucesso limitado, há cerca de duas décadas: a investigação realizada de modo aberto, colaborativo e transparente, facilitando a partilha e a comunicação dos processos e resultados (dados, publicações e outros documentos), é a forma mais eficiente de promover o avanço da ciência e a geração de novo conhecimento, maximizando o retorno do investimento que as nossas sociedades realizam no sistema científico. E o que é válido para esta “ciência de emergência” é, em grande medida, válido também para a "ciência normal". Porém, apesar de ter vindo a ser promovida por governos, decisores políticos e entidades financiadoras de todo o mundo, esta forma de fazer investigação é muito diferente das práticas científicas hoje predominantes, que se estabeleceram nos últimos 60 a 70 anos.
A partir de meados do século XX, o sistema de comunicação académica, até aí essencialmente orientado para a difusão e partilha do conhecimento entre a comunidade científica, sofreu uma profunda alteração. A transformação do sistema de publicação científica (até então dominado por organizações não lucrativas, como as sociedades científicas e editoras universitárias) num mercado altamente lucrativo (cerca de 4000 euros de receita por cada artigo publicado e lucros de 34% reportados pelo principal grupo editorial) e de oligopólio (dominado por cinco grandes grupos) e o crescente uso de métricas, como o "fator de impacto", na avaliação dos investigadores e das unidades de investigação, estão na origem das práticas que hoje predominam.
A publicação, que era apenas um possível resultado final da investigação (não influenciando a definição dos seus objetos e métodos), passou em grande medida a orientar a investigação. Caricaturalmente, pode afirmar-se que em alguns contextos se deixou de publicar porque se investiga, para se passar a investigar para publicar. É, pois, uma alteração muito animadora a adoção de práticas abertas pelos investigadores e a disponibilização temporária em acesso aberto dos artigos científicos ligados ao Covid-19. Mas o que acontecerá daqui a um ano ou dois, quando estes artigos passarem a estar novamente apenas disponíveis mediante pagamento, ou novos artigos apenas possam ser publicados com o pagamento de taxas de publicação de 2000 ou 3000 euros? E será moralmente menos imperativo abrir e partilhar o conhecimento sobre as doenças cancerígenas, a diabetes, o Alzheimer ou as alterações climáticas?
Vivemos tempos extraordinários e concentremo-nos, pois, por agora, em partilhar todo o conhecimento que nos possa ajudar a ultrapassar esta enorme e inesperada emergência do Covid-19. Mas, quando voltarmos à “normalidade”, não nos esqueçamos como conseguimos minimizar os custos humanos desta crise e acelerar a sua resolução. Seria uma triste ironia que a comunidade científica e as suas instituições, que justamente reclamam a partilha dos dados e generosamente estão a colaborar para a geração do conhecimento que necessitamos, passada a crise voltassem às práticas de investigação e publicação fechadas e às avaliações baseadas em métricas e
rankings
(pouco ou nada “científicos”), que se convertem num fim em si mesmo. Tenho esperança que uma das poucas coisas positivas que possam resultar desta crise seja uma ciência mais aberta, mais responsável e mais comprometida com as necessidades da nossa sociedade.
Diretor dos Serviços de Documentação da UMinho (
SDUM
) e presidente da Confederação Mundial de Repositórios de Acesso Aberto (
COAR
)
HISTÓRICO
AGENDA
CLIPPING
Opinião
Mais do que nunca, precisamos de falar de igualdade de género
Ana Maria Brandão
Perguntar quem tem medo do género é perguntar quem tem medo de perder poder e privilégios e porquê.
Saiba mais
UM de nós
“Comecei a trabalhar no primeiro mestrado da EEG”
Maria José Lage
Nasceu em Chaves, em 1967. O concurso para uma vaga na UMinho trouxe-a, aos 24 anos, para Braga. Por cá, todo o seu percurso está ligado à Escola de Economia e Gestão (EEG). Diríamos que parecem “unha com carne”.
Saiba mais
Formação e emprego
Mais ofertas em alumni.uminho.pt
, 30/06/2024
Brand & Communication Specialist | Salsa | Braga
, 30/04/2024
Técnico de Recursos Humanos HumanSkills-HR | Porto
, 21/04/2024
Junior Civil, Electrical and Mechanical Engineers CJR Renewables | Portugal
, 02/04/2024
Saiba mais