O Centro para a Valorização de Resíduos "estimula o metabolismo industrial"

29-05-2020 | Nuno Passos | Fotos: CVR

A equipa do CVR junto ao edifício no campus de Azurém, em Guimarães

Cândida Vilarinho é presidente do CVR, professora auxiliar do Departamento de Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia da UMinho e investigadora do Centro de Engenharia Mecânica e Sustentabilidade de Recursos (MEtRICs)

Luís Valente de Oliveira (presidente do Conselho Geral da UMinho), Cândida Vilarinho (presidente do CVR), Rui Vieira de Castro (reitor da UMinho) e Jorge Araújo (diretor executivo do CVR)

Em novembro de 2004, na escritura do terreno da UMinho para usufruto por 50 anos e onde foi erguida a sede do CVR, com António Guimarães Rodrigues (reitor), Jaime Ferreira da Silva (TecMinho), Fernando Castro (CVR) e João Monteiro (pró-reitor)

Dez anos do CVR em julho de 2012, no campus de Azurém, com Cândida Vilarinho, José Mendes, Amadeu Portilha, António Marques e Fernando Castro a discursar

Quinze anos do CVR, em julho de 2017, com a intervenção de Cândida Vilarinho

Assinatura de reconhecimento do CVR enquanto Centro de Interface Tecnológico, no âmbito do Programa Interface, em dezembro de 2017, no Ministério da Economia, em Lisboa

A "Fibrenamics Green - Plataforma para o desenvolvimento de produtos inovadores com base em resíduos", copromovida pelo CVR, venceu uma menção honrosa nos Prémios Europeus de Promoção Empresarial, em setembro de 2018, em Gaia

O ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, e o presidente da Associação Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, estiveram na 5ª Conferência Internacional WASTES, em setembro de 2019, no Hotel Tryp Caparica Mar

A 1ª Conferência Internacional "WASTES - Solutions, Treatments and Opportunities" decorreu em abril de 2011, em Guimarães

Apresentação do projeto "VALUE Portugal" em setembro de 2016, no CVR, para captar e divulgar informação relevante para a qualificação das estratégias de negócio das PME do setor dos resíduos

A participação em eventos tem sido regular; na foto, o stand do CVR na feira "Ambienergia", em junho de 2009, na Exponor, em Matsinhos

No CVR, cujo edifício foi inaugurado em novembro de 2007, desenvolve-se muita investigação

Um dos vários laboratórios no qual se faz a ligação da I&D ao mercado

No projeto "EcoPROLIVE", resíduos da azeitona foram reaproveitados para a redução significativa de águas contaminadas e a extração de óleos essenciais para uso alimentar, como o fabrico de pão

O projeto "Res2Valhum", que envolve o Norte de Portugal e a Galiza, valoriza a gestão dos resíduos orgânicos e utiliza-os para dar vida aos solos danificados

O projeto GeoDesign, copromovido pelo CVR, está presente desde setembro de 2019 no campus de Azurém, em floreiras e bancos exteriores desenvolvidos com base em resíduos industriais e em design diferenciado (foto: Diogo Cunha)

O projecto europeu "OILCA" visou melhorar a competitividade e reduzir a pegada de carbono no ciclo de produção de azeite, optimizando a gestão de resíduos e criando uma eco-etiqueta

Um projeto desenvolvido na UMinho, por Luís Esteves, para reaproveitar resíduos da indústria de mármore venceu em junho de 2015 a 1ª edição do 'Share Your Solution, lançado pela plataforma SWS, que inclui o CVR

Valorização de beatas de cigarros e de chicletes em Guimarães, laureada com o Green Project Award 2016 e replicada noutras localidades; o reaproveitamento das beatas levou à criação do e-tijolo, que venceu o concurso de ideias "MAIS Tec" em 2019

Apoio à candidatura de Guimarães - Capital Verde Europeia

Cartaz do workshop "Valorização de resíduos na euro-região", em fevereiro de 2010, em Viana do Castelo

Cartaz da 4ª International Conference on Engineering for Waste and Biomass Valorisation", em setembro de 2012, no Porto

São muitos os resíduos do nosso dia a dia com potencial de aproveitamento

Os circuitos eletrónicos têm diversas substâncias que, por vezes, são muito poluentes ou raras no planeta e que importa reaproveitar

O CVR envolve mais de 80 entidades associadas e já participou em mais de 120 projetos de I&D aplicada

Exposição "Design para o mundo real" em janeiro de 2017, no CVR, com trabalhos de estudantes da licenciatura em Design do Produto da UMinho, reutilizando livros escolares caducados, em resposta a uma ONG

Reaproveitamento de chávenas, uma peça da exposição "Arte e Sustentabilidade", copromovida pela zet gallery, IB-S, Fibrenamics e CVR, em junho de 2018, em Braga

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Entrevista a Cândida Vilarinho, presidente do CVR, inserida no ciclo de conversas com os responsáveis das unidades de interface da UMinho.




O CVR surgiu em 2002. Com que objetivo?
O CVR - Centro para a Valorização de Resíduos nasceu de uma parceria entre a Universidade do Minho, a TecMinho, a Associação Portuguesa de Fundição e a Associação Industrial do Minho, com o objetivo de preencher uma lacuna existente no setor e no mercado dos resíduos, mudando a forma como estes eram considerados, conferindo-lhes um complemento de vida e valorização adicional. Constituindo uma referência nacional e internacional no setor, o CVR conta com mais de 80 entidades associadas, na sua maioria empresas industriais de distintos setores de atividade económica, mas também entidades gestoras de resíduos, centros tecnológicos, empresas municipais, entre outros. A missão subjacente à criação do CVR, e que se mantém atual e pertinente, consiste no apoio à indústria e aos municípios na introdução de tecnologias inovadoras e na aplicação de soluções reais na gestão e valorização de resíduos.
 
Quais são os recursos do CVR?
Possui instalações próprias no campus de Azurém, em Guimarães, numa área de cerca de 2000 metros quadrados de espaços laboratoriais, que lhe permite atuar em várias vertentes: Serviços Analíticos, Atividades de Consultoria, Investigação e Desenvolvimento Tecnológico e Organização de Eventos. No que concerne à equipa, conta com 16 colaboradores no quadro, de distintas áreas de especialização e elevado grau de qualificação, e com um grupo variável de bolseiros, cuja contratação advém dos projetos em curso. Paralelamente, o Centro colabora com diversos docentes de universidades portuguesas e estrangeiras.
 
Que balanço faz do percurso desta interface até ao momento?
O CVR conseguiu corporizar os objetivos que nortearam a sua génese, assumindo-se como uma instituição de referência que aposta no desenvolvimento de soluções inovadoras para as questões ambientais e energéticas. Uma reflexão sobre o seu percurso e trajetória revela um balanço amplamente positivo, com a consolidação e implementação no domínio da prestação de serviços na área da caraterização de resíduos, de efluentes, de emissões gasosas e de solos contaminados, a par de um franco crescimento nas atividades de I&DT e de uma intensificação do estabelecimento de parcerias junto de empresas, de gestores de resíduos e de entidades/organismos governamentais. De referir igualmente o reconhecimento do estatuto de entidade de utilidade pública, a assinatura do Programa Interface e o reconhecimento enquanto Centro de Interface Tecnológico (CIT) em 2017. Desde a sua génese, o CVR esteve envolvido em mais de 120 projetos de I&D aplicada, a que correspondeu um volume de financiamento de cerca de 5,2 milhões de euros.
 
Que momentos marcantes destaca desse percurso?
O Centro tem tido a sagacidade de ir diversificando as suas áreas de atuação e de investigação, sempre com o objetivo de utilizar o seu know-how e conhecimento na utilização dos resíduos como recurso material e/ou energético. Neste percurso destacaria três marcos importantes: o projeto ECOPROLIVE, um sistema de processamento eco-amigável para a exploração plena do potencial para a saúde da azeitona em produtos de valor acrescentado (Programa Horizonte 2020); a Fibrenamics Green - Plataforma para o desenvolvimento de produtos inovadores com base em resíduos (Programa Norte 2020 – SIAC), distinguida com uma menção honrosa nos European Enterprise Promotion Awards 2018, na categoria “Apoio ao Desenvolvimento de Mercados Ecológicos e à Eficiência dos Recursos”; e a organização da Conferência Internacional WASTES, que vai já para a sua 6ª edição e é um veículo de promoção e reconhecimento internacional do CVR, constituindo um fórum privilegiado e de referência para a apresentação, esclarecimento, debate e permuta de ideias na temática da gestão de resíduos numa ótica circular. Pelas edições da conferência já passaram 1226 participantes de 45 países.
 
Como avalia a recetividade dos clientes?
A proximidade do Centro ao tecido industrial e às entidades municipais permitiu-lhe, desde sempre, não apenas aferir das tipologias e características dos resíduos produzidos, bem como das formas de tratamento e custos de gestão associados aos mesmos, mas fundamentalmente como gerar valor a partir desse conhecimento. E é neste contexto que se apresenta como uma instituição capaz de dar resposta às questões ambientais e ao serviço das empresas, no sentido de lhes fornecer soluções reais de gestão e tratamento de resíduos, soluções tecnologicamente viáveis, ambientalmente corretas, no respeito pela saúde pública e sempre que possível interessantes do ponto de vista económico. Nesse sentido, o CVR é amplamente reconhecido pelo tecido industrial e pela comunidade científica. A utilidade e a qualidade dos seus serviços laboratoriais e de consultoria comprovam-se pelos mais de 7500 certificados e boletins de análise emitidos, bem como pela existência de mais de 500 referências distintas de clientes.
 


Consolidar a economia circular

Quais são os principais projetos para os próximos tempos?
Nos próximos dois anos, o CVR estará amplamente empenhado no seu Plano de Ação Estratégica, pensado para o triénio 2018/2021 e com quatro eixos principais: consolidação de meios do CVR em economia circular; utilização de modelos circulares na economia; internacionalização da I&D do CVR; e reforço na gestão, marketing e cooperação nacional. Este Plano de Ação implica um investimento global de cerca de 1.35 milhões de euros em I&D aplicada aos resíduos, durante três anos, e está a ser apoiado em 29% pelo Governo português através do Fundo de Inovação, Tecnologia e Economia Circular (FITEC). Enquadrado com o Plano Estratégico do CVR, merece destaque a aprovação recente do projeto de reequipamento do Centro, designado “CVR.TechRe4C - Reinforcing CVR in Ecotoxicity, Sustainability and 4.0 Industry Technologies”, com um investimento global na ordem dos 650 mil euros, cofinanciado a 85% pelo Norte 2020, durante dois anos, e com previsão de início a 1 de julho deste ano. Tem como objetivo principal reforçar a capacidade laboratorial e de investigação aplicada do CVR, dotando-o com equipamentos científicos tecnologicamente avançados, além da necessária adaptação das suas infraestruturas.
 
Em que medida projetos como o do CVR contribuem para a missão da universidade?
Enquanto interface tecnológica, promove a sinergia entre investigadores e indústria e estimula o metabolismo industrial. Efetivamente, constitui uma ponte, um veículo de ligação entre os investigadores da UMinho e a indústria. Esta articulação pode ser efetivada por duas vias. Pode surgir na sequência de uma solicitação da indústria ao CVR, que identifica os investigadores com competências necessárias para assegurar a resposta. Ou, em alternativa, advir do envolvimento da interface com os investigadores de que resultam projetos, tecnologias inovadoras e produtos com base em resíduos, cuja implementação e comercialização necessita de um parceiro industrial, ligação essa assegurada pelo CVR.
 
Quer deixar alguma mensagem final?
O CVR continuará a nortear a sua atividade pela aplicação do conceito estratégico da economia circular, contribuindo para a preservação dos recursos naturais, para a valorização dos resíduos como fonte material e energética e para a promoção de simbioses industriais. O futuro do Centro é desafiante, mas acima de tudo muito promissor. O CVR possui capacidades técnicas e científicas para o desenvolvimento de soluções reais de valorização de resíduos. Exista vontade política, envolvimento e motivação de todas as entidades para o fazer.