“A investigação portuguesa está no bom caminho, mas tem barreiras para vencer”

29-05-2020 | Pedro Costa | Fotos: Lab2PT

Paulo Remoaldo é diretora e investigadora do Lab2PT, além de professora catedrática do Departamento de Geografia do Instituto de Ciências Sociais da UMinho

Jorge Correia é diretor-adjunto e investigador do Lab2PT, a par de professor associado da Escola de Arquitetura da UMinho

Protótipo Hexashade, na exposição Material Xperience 2018, em Roterdão (Holanda)

As capelas Imaculada e Cheia de Graça, em Braga, dos arquitetos Cerejeira Fontes, Prémio ArchDaily Building of the Year 2019

Trabalho de análise na Unidade de Arqueologia da UMinho, no centro de Braga

Um livro secular do Arquivo Distrital de Braga, uma unidade cultural da UMinho que colabora com o Lab2PT

Laboratório de Cerâmica Avançada, no Instituto de Design de Guimarães

Abertura do I Encontro de Jovens Investigadores em Património e Território, em janeiro de 2018, em Braga, com os professores Paulo Cruz, Helena Sousa, Paulo Remoaldo, Maria Manuel Oliveira e os investigadores Hugo Aluai Sampaio e Juliana Araújo Alves

O Laboratório de Paisagens, Património e Território está sediado no campus de Gualtar, em Braga, tendo ainda valências nos campi de Azurém e de Couros (Guimarães) e no Edifício dos Congregados (Braga)

O Lab2PT nasceu em 2015, tem a classificação de Excelente e reúne 179 membros, desde arqueólogos, arquitetos, designers, historiadores, geógrafos e geólogos, sobretudo do Instituto de Ciências Sociais e da Escola de Arquitetura da UMinho

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Paula Remoaldo, do Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT), é a convidada das conversas com diretores dos centros I&D da UMinho




Fundado em 2015, enquanto unidade de investigação que quer ser uma referência nacional e internacional no estudo da paisagem, do território e do património, o Lab2PT celebra o facto de ter sido elevado à classificação de Excelente. Tem cerca de 180 membros e um leque de investigadores multidisciplinar e diversificado em termos geracionais e de maturidade científica. Paula Remoaldo, professora catedrática do Departamento de Geografia da UMinho, revela que o Lab2PT pretende tornar-se um espaço cada vez mais dinâmico e de partilha de conhecimento, acompanhando a UMinho na adaptação à Quarta Geração de Universidades que está a despontar no mundo.

 
O Lab2PT surgiu com que motivações?
Os mentores do Lab2PT – os professores Manuela Martins, do Instituto de Ciências Sociais (ICS), e Paulo Cruz, da Escola de Arquitetura (EAUM) – foram pioneiros no seio da UMinho quando, em 2013, avançaram com uma proposta que assentava num enfoque multidisciplinar em ciência e que envolvia duas unidades orgânicas desta instituição. O desafio foi aceite sobretudo por arqueólogos, arquitetos, designers, historiadores, geógrafos e geólogos daquelas duas unidades. A existência de um conjunto alargado de investigadores provindos de diferentes áreas, com larga experiência no estudo das paisagens e do património, foi uma das motivações subjacentes à sua criação. Esta abordagem tem vindo a ser reconhecida no seio da própria Comissão Europeia, perspetivando e adaptando-se ao presente e ao futuro da nossa sociedade. Também se enquadra na Quarta Geração das Instituições do Ensino Superior, que almejamos continuar a desenvolver e que está também em sintonia com o novo cenário que vivemos com a doença covid-19.

Como se articula com as entidades parceiras?
O Lab2PT tem mostrado abertura para desenvolver atividades de cariz científico com inúmeros centros de investigação da UMinho e no quadro da comunidade científica nacional e internacional. Em paralelo, tem sete instituições parceiras com quem mantém relações próximas e que permitem cobrir o Norte e outras regiões do país. São elas o Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA), a Universidade Católica Portuguesa (UCP), a Universidade da Beira Interior (UBI), a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), o Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), o Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo (ISCET) e a Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN).

Como descreveria os espaços do Lab2PT, para quem ainda não os conhece? Tem os recursos que deseja?
O Lab2PT possui inúmeros espaços e infraestruturas, detendo uma boa capacidade laboratorial na UMinho ou que resulta de parcerias com instituições nacionais e internacionais. As suas infraestruturas estão distribuídas pelos dois campi da UMinho, sendo de destacar algumas. Desde logo, o Laboratório de Construção e Tecnologia da EAUM, que trata de um amplo espectro de tópicos, incluindo o estudo de sistemas estruturais, componentes e materiais. O Laboratório de Sistemas de Informação da Unidade de Arqueologia, assim como o seu Laboratório de Multimédia e Visualização, para produção de modelos 3D e virtuais, com inúmeros equipamentos e software. O Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento do Advanced Ceramics Lab, que devido ao equipamento que possui permite inúmeros usos desafiadores e inovadores. O Instituto de Design, que promove o desenvolvimento de novos produtos e que usa modernos meios tecnológicos. E ainda o Centro de Estudos da EAUM, que oferece um estúdio dedicado a projetos arquitetónicos e urbanos. Além disso, o Lab2PT trabalha em estreita colaboração com inúmeros parceiros, usando, por exemplo, as instalações do Laboratório de Conservação e Restauração do Museu D. Diogo de Sousa para o tratamento de todos os tipos de materiais arqueológicos. Considero que temos ainda necessidade de mais espaços para albergar os futuros projetos que se avizinham, mas a Reitoria tem estado a tentar colmatar as necessidades mais urgentes.



Responder aos desafios da inovação e do desenvolvimento sustentável

Que equipas e unidades de investigação alberga?
Atualmente, alberga 179 membros, 65 deles integrados. Está organizado em três grupos: o LandS - Paisagens e Sociedades, coordenado pela professora Marta Lobo; o DeTech - Projeto, Design e Tecnologia, coordenado pelo professor Bruno Figueiredo; e o SpaceR - Espaço e Representação, coordenado pelo professor João Cabeleira. Incorpora investigação fundamental e aplicada, sendo uma das suas mais-valias, e organiza-se segundo cinco eixos temáticos estratégicos que cruzam os três grupos de investigação: ambientes e usos de solo; formas urbanas e sociedades; cultura e prática da edificação; artefactos, produtos e usos; e património e desenvolvimento. Possui uma estrutura de gestão democrática, sendo que, além da direção – que partilho com o professor Jorge Correia –, possui uma comissão diretiva e um conselho científico, onde estão presentes as várias áreas científicas. O centro alberga igualmente um grupo significativo de jovens investigadores com elevada motivação para abordarem o território numa perspetiva holística, cruzando conceitos, estratégias e metodologias que se têm afigurado como inovadoras. Este conjunto alargado de investigadores tem confirmado uma elevada capacidade para responder aos desafios da inovação e do desenvolvimento sustentável das regiões e das comunidades.
 
Que balanço faz do percurso deste centro até ao momento?
A nossa missão tem sido a da abordagem do território ensaiando de forma consistente novas metodologias e posicionando-nos como unidade de investigação de referência nacional e internacional no estudo da paisagem, do território e do património. O balanço é francamente positivo e de melhoria crescente em vários domínios, ainda que se trate de uma unidade de I&D jovem, visto ter iniciado formalmente investigação apenas em 2015, com a eleição do diretor e a constituição de órgãos. Apesar disso, crescemos muito rapidamente, o que foi reconhecido no ano passado, quando passámos de uma classificação de Muito Bom para Excelente [no financiamento plurianual atribuído pela FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia]. Há vários aspetos positivos que têm sido acautelados nestes últimos cinco anos.

Quais são?
Em primeiro lugar, a vontade de aprender a trabalhar em equipa por parte dos seus membros e aproveitar as várias áreas científicas dentro do Lab2PT para alcançar ouputs comuns. Esta dimensão está em franco progresso e considero que o que alcançámos até ao momento é meritório, principalmente porque parte dos membros não se conhecia antes de 2015. Em segundo lugar, ao nível da produção científica, que se tem revelado muito diversificada e vai muito além da afirmação da nossa produção nas bases Web of Science e Scopus. Temos estado a desenvolver uma abordagem inclusiva, que dá atenção a outros indicadores além das publicações indexadas em relevantes bases de dados, que podem ser uma excelente ferramenta para a abertura do Lab2PT às comunidades e à ajuda na resolução dos seus problemas mais prementes. Em terceiro lugar, o Lab2PT tem um amplo leque de investigadores, mesmo em termos geracionais e de maturidade científica, com perfis muito diversos, que constituem uma mais-valia no desenvolvimento de projetos e na tentativa de resolução dos problemas societais. Por último, no Lab2PT tem sido notória a sua articulação com várias redes internacionais, cobrindo áreas distintas, com 30 países de vários continentes. Tem ainda mantido parcerias com 85 municípios do país. Por outro lado, no ano de 2019 os seus membros receberam sete prémios ou nomeações e registaram-se três patentes, o que é notório.
 


Laboratório de Cerâmica Avançada, no Instituto de Design de Guimarães
Laboratório de Cerâmica Avançada, no Instituto de Design de Guimarães


Projetos com 85 municípios nacionais e com 30 países

Qual é o principal fator da sua afirmação?
A vontade de trabalhar de forma holística e albergar várias áreas científicas, assim como a abertura à sociedade civil.
 
Que eventos destaca no percurso do Lab2PT?
Têm sido inúmeros os eventos organizados. Em média, são 170 eventos por ano de caráter científico. É difícil elencar alguns, pois todos nos parecem importantes para a coesão do Lab2PT. A vontade de organizar eventos de âmbito europeu e mundial tem sido crescente, mas destacaria o empenho dos jovens investigadores, que organizaram até ao momento duas edições do EJIPATER - Encontro de Jovens Investigadores em Património e Território e que contaram com um elevado número de participantes.

Como avalia a recetividade dos públicos ao vosso trabalho?
Tem sido francamente positiva, a julgar pelos resultados alcançados com as ligações que estabelecemos com 30 países e com 85 municípios portugueses. Foi, aliás, uma das vertentes ressaltada pelo painel internacional de avaliação que nos visitou em abril de 2019, que reconheceu que temos estado atentos às necessidades das autarquias, de inúmeras associações recreativas, de organizações não governamentais e de instituições de ensino superior. Porém, é uma componente que está a ser melhorada, pois almejamos, no curto prazo, diversificar os públicos e os serviços.

Quais são os principais projetos para os próximos tempos?
O Lab2PT está a iniciar uma fase de consolidação, continuando a caminhar no sentido da excelência, perspetivando-se crescer de forma sustentada e proporcionando a abertura de novos horizontes. Há necessidade de continuar a alargar o trabalho em equipa e de proporcionar um maior cruzamento dos projetos entre os três grupos de investigação (LandS, DeTech, SpaceR). O reforço da nova linha editorial é também uma das apostas. Esta unidade de I&D estará centrada no seu plano de atividades para 2020-2023, que foi proposto proposto à FCT, em quatro grandes objetivos: aprofundar a investigação fundamental de caráter multidisciplinar; fomentar os impactes territoriais da investigação aplicada; reforçar a articulação entre a investigação e a formação pós-graduada; e ampliar a internacionalização da equipa, dos projetos e do alcance da investigação. A fase pós-covid-19 será crucial na nossa unidade de investigação, sendo clara a definição de uma maior abertura ao exterior e a criação de novas dinâmicas científicas, tais como summer schools, residências artísticas, constituição de observatórios, assim como a prestação de serviços mais alargada.
 
Em que medida projetos como o Lab2PT contribuem para a missão da universidade?
Acredito que a UMinho e as suas unidades de investigação podem desempenhar um papel importante nos próximos anos, adaptando-se à Quarta Geração de Universidades, que já está em curso nalguns países. A UMinho tem tentado adaptar-se, contando com o esforço de todos – professores, investigadores, técnicos, gestores, estudantes. Baseado neste novo paradigma, o Lab2PT almeja tornar-se um espaço cada vez mais dinâmico e de partilha de conhecimento. Estará cada vez mais inscrito nos desafios societais na investigação realizada, promovendo a ciência e o trabalho fora dos muros da universidade e contando com equipas multidisciplinares. Está já a dar a oportunidade a estudantes do primeiro e do segundo ciclo do ensino superior de se integrarem em projetos onde para aprenderem de forma consistente e sustentada com investigadores seniores.

Quer deixar alguma mensagem final?
Acredito na investigação multidisciplinar e, seguramente, este tipo de abordagem permitir-nos-á alcançar patamares cada vez mais elevados. Na minha perspetiva, os portugueses estão no bom caminho no domínio da investigação, mas têm ainda que vencer algumas barreiras para desenvolverem de forma mais consistente e com claros frutos alguma dificuldade que persiste em trabalhar em equipa. Também é altura de abandonarem a autocomiseração, insistindo que os outros - de outros países - são melhores do que nós. Um provérbio africano diz: “Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo”. Continuaremos no Lab2PT a tentar ir mais longe dessa forma.