Estamos a estudar a pandemia

16-07-2020 | Daniel Vieira da Silva

A UMinho lidera estudos europeus, participa em investigações mundiais e promove trabalhos acerca das implicações da covid-19 na sociedade. São mais de vinte projetos e nas mais diversas áreas.




Em tempos de pandemia, a comunidade científica da Universidade do Minho cedo se movimentou para estudar vários fenómenos que aconteceram na sociedade. Abordagens diversas e múltiplos campos de análise foram abertos. Muitos são os novos paradigmas e realidades a enfrentar. Investigadores nas Escolas e Institutos da UMinho basearam estudos em torno do tema. Eis alguns dos muitos trabalhos em curso ou recém-concluídos.
 

O impacto da pandemia no ensino da Optometria
O estudo europeu é liderado por José Manuel González-Méijome, professor catedrático da Área de Optometria e Ciências da Visão da Escola de Ciências, na qualidade de presidente do Comité Educacional da Academia Europeia de Optometria e Ótica (EAOO). Pretende entender o impacto da atual pandemia no ensino da Optometria e alinhar estratégias futuras neste âmbito. Já foi realizado um estudo-piloto a responsáveis de dez instituições de sete países, agora alargado a mais de 50 instituições de ensino superior de 30 países europeus e países associados que lecionam licenciaturas, mestrados e/ou doutoramentos neste ramo. Os resultados do questionário chegam em breve.


Resposta de infraestruturas críticas na pandemia
O estudo mundial reflete sobre o impacto da covid-19 na gestão de infraestruturas críticas, como sistemas hospitalares, de transportes, de energia, de telecomunicações, de distribuição e financeiros. O trabalho baseia-se num inquérito a que responderam, nas últimas semanas, operadores e gestores de infraestruturas críticas em vários continentes. Nas conclusões prévias refere-se que a realidade difere entre os países face aos recursos e verbas alocados e à fase à curva da pandemia. Portugal destaca-se pelo timing do confinamento e pela boa rede de saúde, energia e telecomunicações, por exemplo, que evitaram males maiores. A iniciativa partiu da Associação Europeia de Controlo de Qualidade de Pontes e Estruturas (EuroStruct), presidida pelo professor José Campos e Matos e sediada na Escola de Engenharia.
 

Medir o Iceberg (CoronaSurveys)
Carlos Baquero, professor do Departamento de Informática e investigador do HASLab/INESC TEC, e Raquel Menezes, professora do Departamento de Matemática e Aplicações, fazem parte de uma equipa que se encontra a desenvolver um estudo internacional para determinar a incidência da pandemia, estimando o número de casos reais com sintomas de covid-19 e a sua evolução em 11 países. O estudo tem por base uma sondagem aberta e os resultados do estudo estão a ser atualizados diariamente.


Mutações nos genomas de SARS-CoV-2 podem ter implicações no diagnóstico do vírus causador da COVID-19
Uma equipa com Nuno Osório e Margarida Correia-Neves, professores da Escola de Medicina e investigadores do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) identificou mutações nos genomas de SARS-CoV-2 que podem ter implicações importantes no diagnóstico do vírus causador da covid-19. O artigo publicado na revista científica The Lancet Infectious Diseases mostra que algumas das mutações identificadas afetam locais usados no diagnóstico por PCR e que, se não fossem descobertos, poderiam tornar esse método de diagnóstico menos eficaz.


Impacto da COVID-19 na saúde da população mundial (COH-FIT)
Pedro Morgado, também do ICVS/Escola de Medicina, é o coordenador nacional de um dos maiores estudos de avaliação do impacto da covid-19 na saúde da população mundial, o "Collaborative Outcomes study on Health and Functioning during Infection Times" (COH-FIT). Pretende ajudar a identificar os efeitos e os fatores que influenciam o impacto da COVID-19 no bem-estar físico e mental da população. Esta investigação mundial envolve cerca de 200 investigadores, mais de 30 países e pretende compreender que perfis de pessoas têm maior ou menor risco de ter problemas de saúde durante uma pandemia.


Efeitos da covid-19 no estado psicológico e nas funções cognitivas da população idosa
O trabalho visa perceber quais os fatores prevalentes nos hábitos e rotinas em período de confinamento que contribuem para um melhor ou pior estado psicológico. No ICVS, Teresa Castanho pretende ainda analisar comportamentos preventivos ou de redução do risco de infeção por parte desta faixa da população, procurando comparar e compreender as diferenças que possam ser observadas. O projecto garantiu o financiamento por parte da Fundação para a Ciência e Tecnologia na segunda edição da iniciativa "Research 4 covid-19".


Identificação de características clínicas de infeção pelo vírus SARS-CoV-2
A investigação conduzida por Pedro Cunha no ICVS pretende observar, com recurso à inteligência artificial, informações clínicas, farmacológicas, radiológicas e imunológicas associadas ao vírus, procurando depois definir um modelo preditivo preciso.


Impact of the COVID-19 Pandemic in Perinatal Mental Health (RiseUp-PPD-COVID-19)
Ana Mesquita, do Centro de Investigação em Psicologia (CiPsi), da Escola de Psicologia e a Universidade de Loyola  (Espanha) coordenam um estudo levado a cabo em 11 países sobre o impacto da pandemia de covid-19 na saúde mental perinatal. Através da partilha de experiências, a investigação pretende contribuir para a melhor compreensão do fenómeno e ajudar outras mães na mesma situação. O questionário do projeto é dirigido a grávidas ou mães de um bebé com menos de seis meses.


Envolvimento académico de estudantes do ensino superior nesta fase de isolamento social
A investigação, que inclui um inquérito, quer proporcionar um entendimento mais aprofundado sobre o envolvimento académico de estudantes do ensino superior nesta fase de isolamento social em Portugal, segundo Paula Magalhães. A coordenação cabe ao Grupo Universitário de Investigação em Autorregulação, da Escola de Psicologia.


RESILIENCE. Autorregulação e Hábitos Saudáveis como fatores protetores no contexto de pandemia
Sónia Silva Sousa, Adriana Sampaio, Anabela Silva Fernandes, Sara Cruz e Marisa Ferreira, do CIPsi, lançaram um questionário e esperam recolher dados que alarguem o conhecimento sobre a importância dos processos cognitivos de autorregulação como ferramenta essencial na prevenção e mitigação dos efeitos negativos da covid-19 (ou situações pandémicas similares) na saúde física e mental. As metas principais passam por avaliar a capacidade dos indivíduos em autorregular-se numa situação de crise, perceber de que forma é que a capacidade de autorregulação individual está associada à adoção de comportamentos saudáveis e qualidade de vida em momentos de adversidade.


Telephone-based psychological crisis intervention: the Portuguese experience with Covid-19
Os investigadores Eugénia Ribeiro, Adriana Sampaio, Miguel Gonçalves, Maria do Céu Taveira, Ângela Maia, Marlene Matos, Sónia Gonçalves, Bárbara Figueiredo, Teresa Freire, do CIPsi, e Jácome Cunha, do HASLab/INESC TEC, analisaram uma intervenção de ajuda psicológica, implementada por telefone, de forma a fornecer ajuda psicológica breve, apropriada e oportuna. Essa intervenção seguiu modelos padrão de intervenção em crises no sentido de percecionar o impacto da pandemia na saúde mental de grupos de risco específicos. O objetivo foi ajudar a comunidade a lidar melhor com o impacto imediato da pandemia e contribuir para prevenir sérios problemas de saúde mental a médio e longo prazo. As conclusões do estudo saíram na revista Counselling Psychology Quarterly.
 

Literacia em Saúde em Estudantes do Ensino Superior Português
Liderado por Rafaela Rosário, da Escola Superior de Enfermagem (ESE), e pela Universidade Nova de Lisboa, o estudo está integrado numa rede de 38 países europeus e avalia a literacia em saúde relacionada com a covid-19 em estudantes do ensino superior. Até ao momento, em Portugal participaram 3084 alunos no questionário. A conclusão preliminar evidencia que dois em três daqueles estudantes têm medo que a vida piore e aproximadamente 80% temem que as mudanças externas, como as condições económicas e políticas, possam ameaçar o seu futuro.


COVERAGE. Covid and vulnerability: experience care amoung aged people
O projeto coordenado por Manuela Machado, da ESE, analisa e compara o impacto da resposta ao surto na Europa em pessoas vulneráveis, especialmente idosos, por meio de um novo conceito holístico e multidisciplinar de experiência em tratamentos. Este conceito traduz-se na aplicação de ferramentas e materiais operacionais que garantam um impacto real nos utilizadores, nas políticas de saúde pública e na sociedade civil de forma a aumentar a consciencialização e resiliência face ao tema.


Ensino e Avaliação a Distância em Tempos de Covid-19 nos Ensinos Básico e Secundário
estudo foi conduzido por Maria Assunção Flores e Palmira Alves, do Centro de Investigação em Estudos da Criança (CIEC) e professoras do Instituto de Educação, a par de um investigador da Universidade Portucalense. Foram inquiridos 2369 professores, tendo-se concluído que a falta de equipamentos adequados para os alunos e a dificuldade em envolvê-los na aprendizagem foram os principais entraves sentidos no ensino à distância em tempo de covid-19. A maioria considerou que as "reações foram positivas face às exigências", ainda que 43% dos docentes tenha sentido desconforto, stress, receio e cansaço "devido à necessidade de uma resposta rápida". Este trabalho visava compreender como é que os professores se adaptaram ao contexto de ensino e aprendizagem à distância e analisar o modo de avaliação realizada. 


Bem-estar e satisfação dos professores com a profissão, antes e durante a pandemia
Regina Alves, Teresa Lopes e José Precioso, do CIEC, analisaram o bem-estar subjetivo e profissional dos professores antes e durante a pandemia, assim como a sua satisfação com o sistema de ensino. O projeto auscultou as perspetivas profissionais futuras dos docentes e concluiu que a pandemia veio reduzir a perceção de bem-estar face à profissão, criando alguma preocupação quanto ao futuro daquela classe profissional. O estudo verificou ainda que, entre os professores com mais tempo de serviço, foi mais notória uma insatisfação com o sistema de ensino, uma expectativa menos positva quanto ao futuro e uma dificuldade acrescida com o ensino a distância.


Conhecimentos, Opiniões e Comportamentos sobre a Pandemia de Covid-19 no Ensino Secundário
Numa amostra online de quase 1200 estudantes do ensino secundário público, José Precioso e Regina Alves, do CIEC, verificaram em meados de maio que 55% dos alunos respondentes concordava com a suspensão das aulas presenciais e 58% discordava com o recomeço das aulas práticas presenciais.
 

Jornalismo em tempo de pandemia
Os jornalistas orientaram os cidadãos para o confinamento e direcionaram o seu trabalho para comportamentos de prevenção no contexto da pandemia. A conclusão é de um estudo conduzido por Felisbela Lopes, Alberto Sá e Rita Araújo, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) do Instituto de Ciências Sociais, em parceria com a Universidade do Porto. Das duas centenas de jornalistas que responderam ao inquérito, 92% confirmaram que, a nível editorial, a par da difusão de informação relevante, houve preocupação de orientar os cidadãos para comportamentos de prevenção face à covid-19.
 

Efeitos do Estado de Emergência no Jornalismo
A investigação analisou a situação da profissão de jornalista na primavera de 2020, conhecendo e interpretando as condições socioprofissionais, os efeitos da Declaração do Estado de Emergência no emprego, as perceções dos repórteres perante questões ético-deontológicas e reuniu ainda dados relevantes para instruir eventuais políticas e estratégias públicas de intervenção, tanto em matérias de natureza laboral como para a promoção de informação de qualidade. O estudo contou com Madalena Oliveira e Joaquim Fidalgo, investigadores do CECS e professores do ICS, tendo sido copromovido pela Universidade de Coimbra, Universidade de LisboaSOPCOM - Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) e Sindicato dos Jornalistas.


Regresso ao trabalho pós covid-19
O estudo reflete as mudanças nos valores e atitudes face ao trabalho, em consequência da quarentena, com impactos na restrição/encerramento da atividade económica de muitas empresas. O trabalho, apoiado num questionário online, incide na percepção sociológica e é coordenado por Ana Paula Marques, professora no ICS e investigadora do Centro Interdisciplinar em Ciências Sociais (CICS-UMinho) e a Universidade de Lisboa.


Utilização de aplicações móveis durante o isolamento social / quarentena
O projeto dinamizado por Inês Amaral, do CECS, tem como objetivos comparar a utilização de aplicações móveis durante a quarentena com os hábitos anteriores dos utilizadores, identificar as aplicações móveis mais utilizadas durante o isolamento social, avaliar a utilização de aplicações móveis em resposta às diferentes atividades/tarefas quotidianas e aferir as atitudes e perceções dos utilizadores quanto à utilização de aplicações móveis nos contextos individual e social.


Educação durante a pandemia
Inês Amaral avalia desta vez as competências transmédia de professores em Portugal e identifica estratégias de ensino-aprendizagem com recurso a ferramentas digitais em ambientes multiplataforma devido à covid-19. Os indicadores para análise são caraterísticas sociodemográficas, contexto social da educação, acesso, habilidades e práticas, agrupados num único questionário online disponibilizado aos participantes.


Estudo sobre as tendências de pesquisa dos portugueses, através do Google, durante a quarentena
A ideia desta pesquisa de Fábio Ribeiro, do CECS, passa por observar padrões de pesquisa por distrito, mas, acima de tudo, a natureza das questões que mais frequentemente levavam as pessoas ao Google nesta época pandémica. O acesso aos dados é feito através do Google Trends e a respetiva visualização através da plataforma Flourish.
 

Perceção sobre as informações geradas durante a covid-19
O inquérito, aplicado via Facebook a jornalistas portugueses, tem como objetivo apurar empiricamente o fenómeno do excesso da informação (infodemia), demonstrando o modo como alterou os processos de produção jornalística e as informações produzidas sobre o novo coronavírus, bem como a receção das notícias por parte do público. Já com 350 respostas, o estudo de Edson Capoano e Pedro Rodrigues Costa, do CECS, aponta para uma taxa elevada (94%) de jornalistas que tiveram sua rotina de trabalho alterada, tanto pelo aumento de horas de trabalho (41%) como pela realização de teletrabalho (86%).


Impactos da covid-19 no setor cultural português
O estudo de Manuel Gama, também do CECS, identifica e analisa repercussões da pandemia no setor cultural português, com relatórios periódicos. Por exemplo, mede o impacto mediático das alterações no setor, identifica o fluxo de notícias produzidas pelos municípios e pelas regiões sobre o tema, analisa iniciativas do Ministério da Cultura para enfrentar os constrangimentos provocados neste ramo e avalia impactos esperados e observados da covid-19 nos profissionais e organizações do setor cultural português.