O livro-objeto em três períodos áureos
As metamorfoses do livro para a infância surgiram no século XVIII e tiveram vários períodos, evoca Diana Martins. Na era pré-cinematográfica criou-se brinquedos óticos com imagens em movimento e isso chegou ao livro, incluindo rodar peças que tinham som e usar transparências para projetar luz e ver a segunda imagem. Havia ainda livros perfurados, panorâmicos e teatro, sobretudo em Inglaterra, Alemanha, França e EUA, com autores como Dean & Son, Raphaël Tuck e Lothar Meggendorfer.
A I Guerra Mundial fez rarear a produção por faltar papel e mão-de-obra, mas nas décadas de 40 a 70 vingaram livros pop-up e a baixo custo, além de artistas como Louis Giraud, Julian Wehr, Vojtech Kubašta, Bruno Munari e Jan Pienkowski. A partir dos anos 80 passou-se do livro-brinquedo para o livro-artista, visando inovar, embelezar e distrair, tendo elementos gráficos com objetivo interativo. O novo mercado trouxe obras experimentais e enigmáticas, mas também pensou esta literatura num todo, com maior peso da semântica (como o tamanho crescente da folha) e do pendor formativo no jogo de procura e descoberta.
Em Portugal, a editora Majora foi pioneira nas décadas de 40 a 70 do século XX, com relógios na capa manipuláveis para aprender rotinas e os livros-puzzles, associando o prazer da leitura a baixo custo, embora a nível literário fosse por vezes parca. Segundo Diana Martins, ressaíram também a Electroliber, com o disco de vinil na capa, e a Agência Portuguesa de Revistas, com os autores Laura Costa, Gabriel Ferrão ou César Abbott. O uso de rodinhas no livro, as perfurações, a silhueta-recorte, a dobra e o pano foram chegando. Por exemplo, em 1949 veio a coleção “Livro-brinquedo”, que inclui o volume “Pedrito no mundo da fantasia”, composto por um boneco/protagonista de membros manipuláveis, pensado para alterar as suas vestes a cada virar de página.
Outros conteúdos revisitaram contos de fadas e tradicionais, como Hansel e Gretel, com folhas da tradução portuguesa coladas sobre o original checo, como sucede em muitas obras de Vojtech Kubašta então disponibilizadas pela Electroliber. Daí, o país dividiu-se entre o conservadorismo e as novas obras de qualidade de Leonor Praça, Manuela Bacelar e Maria Keil, entre outros. No século XXI aposta-se em originais de jovens talentos nacionais, mas as edições importadas predominam, reeditadas nomeadamente pela Edicare, Caminho, Presença, Orfeu Negro, Bruaá e Kalandraka, como “A largartinha muito comilona” ou “E tu, vês o que eu vejo?”, por exemplo.
|