Esteve na génese do programa “1 Minuto de Economia”
No final do curso começou a trabalhar na SIC, em Lisboa. Como foi esse primeiro contacto profissional?
Tinha acabado de deixar a cidade de Manchester [Reino Unido], onde vivi durante uns meses como estudante Erasmus, passei uma curta temporada em Braga e fui, de seguida, para Carnaxide. Realizei um estágio curricular na SIC durante seis meses, de julho a dezembro de 2008. Fiz um pouco de tudo: agenda, online, desporto, economia, reportagens... No meu tempo, o curso não tinha uma grande componente televisiva. Por isso, a minha primeira grande escola ao nível de televisão foi mesmo a SIC. As coisas correram bem e, após o estágio, foi-me feita uma proposta para ficar. Embora o meu plano fosse regressar para terminar a tese de mestrado, acabei por aceitar.
Acabou por deixar lá a sua marca...
Tive uma oportunidade que (quase) nenhum recém-licenciado tem: ajudar a desenvolver um conteúdo de raiz. Estávamos em 2008, a crise das bolsas fazia manchetes em todo o mundo e a SIC queria desenvolver um mini-noticiário de Economia para ir para o ar entre as novelas da noite. A ideia era dar as principais notícias de economia do dia em apenas um minuto. Daí o nome: “1 Minuto de Economia”. Quando o projeto me veio parar às mãos existia um conceito, mas pouco mais. Desenvolvi, com colegas do grafismo, uma identidade visual para o programa, bem como uma estrutura editorial. O programa foi lançado a 1 de abril de 2009 – parece mentira, mas é verdade. Uma curiosidade: os meus editores na altura, José Gomes Ferreira e Luís Ferreira Lopes, achavam que eu não estava pronto para ler os meus textos em direto. Por isso, no início, quem os lia era o Alberto Fragoso, outro ex-aluno da UMinho. Outra curiosidade: naquela época, quatro dos seis jornalistas da editoria de economia da SIC eram licenciados pela UMinho.
O ano 2011 foi de grandes mudanças. Com o país em crise, decidiu emigrar. Conseguiu um lugar de edição na CNN, em Atlanta, EUA.
Esse foi um ano difícil. A situação em Portugal complicava-se e achei que o melhor para mim era deixar o país. Nasci nos EUA e sou cidadão americano, o que me dava algumas facilidades para cá trabalhar. A economia americana encontrava-se numa fase mais avançada da recuperação pós-crise. Tive uma entrevista na ESPN [Entertainment and Sports Programming Network] e outra num canal local de Boston [Massachusetts], mas assim que a possibilidade de ir para a CNN apareceu não quis pensar noutra coisa. Era certo que nunca jogaria no Benfica, mas podia pelo menos fazer parte do maior canal de notícias do mundo! [risos] E isso incentivou-me a aceitar a proposta e mudar-me para Atlanta, cidade que não conhecia. Comecei por fazer edição de áudio e vídeo e traduções de peças de inglês para espanhol. Também fazia muito trabalho freelance com a equipa de desporto, que valorizou o meu jeito para produção. Comecei a trabalhar mais com eles e a desenvolver o gosto por fazer alinhamentos, criar grafismos, coordenar equipas de produção…
Gosta?
“Montar” um noticiário é uma arte, tal como escrever um livro ou gravar um disco. Cada peça é um capítulo e cada capítulo tem de contribuir para a história que queremos contar. Um bom noticiário faz-nos pensar, emociona-nos, mas também nos faz rir. Tem de tudo! Comecei a gostar muito de escrever os textos do pivô, acertar entrevistas, coordenar com as nossas equipas de reportagem no terreno, fazer as ligações por satélite. Em sete anos fui promovido várias vezes. Após aquele primeiro ano, entrei para os quadros e pouco tempo depois assumi a função de produtor da CNN Internacional. Trabalhar com jornalistas como Christiane Amanpour, Hala Gorani, Michael Holmes, Jonathan Mann, entre outros, foi a concretização de um sonho profissional. Cheguei a cobrir em direto ataques terroristas, os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, as eleições dos EUA de 2016... Enfim, uma série de experiências marcantes e uma fase da minha vida que recordo com carinho.
Foi fácil adaptar-se ao país e à forma de fazer televisão/jornalismo?
Sim. O facto de ter nascido nos EUA e de ter continuado a seguir a realidade norte-americana desde Portugal ajudou-me muito no processo de integração. A forma como se faz televisão não é muito diferente, mas no que toca ao jornalismo existem algumas orientações e normas deontológicas que tornam o exercício da profissão ligeiramente distinto.
O que faz agora em termos profissionais?
Em 2017 deixei Atlanta e voltei para Boston, onde sou produtor sénior no maior canal de televisão pública dos States, GBH.
Como é a sua vida fora do trabalho?
Treinava uma equipa de futebol juvenil, mas está tudo suspenso por causa da covid-19. Comecei agora a desenvolver um podcast dedicado ao futebol com amigos de infância. De resto, ouço muita música e vejo filmes e séries. E passo tempo com a minha filha de 2 anos.
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