“É crescente o impacto social da nossa investigação"

31-01-2021 | Pedro Costa

Reunião da comissão diretiva do CIEd, com os professores Ana Maria Serrano, Luís Dourado, Íris Pereira, a bolseira Filipa Pereira (secretariado) e os professores Leonor Torres, José António Brandão Carvalho e Fernanda Martins

Leonor Torres é diretora e investigadora do CIEd e professora associada do Departamento de Ciências Sociais da Educação no Instituto de Educação da UMinho

Sala dos doutorandos

Gabinete de apoio técnico

Pormenor da sala de reuniões

Há diverso espólio bibliográfico para consulta

O CIEd está sediado no Instituto de Educação da UMinho, no campus de Gualtar, Braga

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O ciclo de entrevistas com diretores dos centros I&D da UMinho foca o Centro de Investigação em Educação (CIEd).




O Centro de Investigação em Educação (CIEd) é uma unidade de investigação multidisciplinar do Instituto de Educação (IE) da UMinho, cuja missão é produzir conhecimento sobre educação, como um meio de participar na transformação das vidas das pessoas e das comunidades. O recente aumento de produção científica e de candidaturas comprovam o crescimento do Centro, que está dotado com cerca de 230 elementosCom atividade desde os anos 70, a sua investigação tem como foco as crianças, os jovens, os adultos e os idosos, numa variedade de ambientes sociais e comunidades, considerando a diversidade de constrangimentos e recursos culturais e sociais, com impacto na aprendizagem. O seu trabalho aspira a que todos os cidadãos estejam igualmente preparados para participar ativa e criticamente na sociedade. O NÓS foi conversar com a professora e diretora do CIEd, Leonor Lima Torres, que partilha as atuais dinâmicas do seu quotidiano.



Como tem sido o percurso de desenvolvimento e expansão do CIEd?
A criação do CIEd remonta a 1976, designado então Centro de Estudos Educativos e Desenvolvimento Comunitário. O desenvolvimento do IE nas décadas seguintes, quer em termos do número de docentes, investigadores e estudantes de graduação e pós-graduação, quer em termos de dinâmicas de pesquisa, conduziu em 2002 à adoção da atual designação. O CIEd tem firmado a sua identidade em abordagens multidisciplinares dos processos educativos, sendo reconhecida a sua posição de liderança na produção científica, na formação pós-graduada, na internacionalização da sua investigação e no impacto social da sua atividade. A Revista Portuguesa de Educação (RPE), criada em 1988 no quadro das atividades do Centro, constitui um relevante espaço de partilha do conhecimento científico, sendo uma das poucas revistas de educação no país indexadas à base Scopus.

Possui também um conjunto de edições.
Sim, de edições de monografias, coleções de pedagogia e didática, livros de atas e relatórios de investigação da autoria dos investigadores do Centro. Procurando reforçar as suas relações, o CIEd integra ainda o “Conselho de Centros de Ciências e Políticas de Educação” (CCCPE), uma estrutura que coordena ações conjuntas com vários centros da área Ciências e Políticas de Educação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Entre as várias parcerias estratégicas, destacam-se a participação regular em consórcios europeus para o desenvolvimento de projetos de I&D (oito em 2019), bem como a presença em dezenas de redes de investigação nas nossas diversas áreas científicas, que muito têm contribuído para a afirmação internacional do Centro.

Como descreveria o espaço e as infraestruturas do CIEd, para quem não conhece? Tem os recursos que deseja?
De uma forma geral, o CIEd dispõe dos espaços adequados ao desenvolvimento das suas atividades, contando com gabinetes de trabalho, salas de reuniões e um espaço para consulta do espólio bibliográfico. Persistem algumas necessidades, essencialmente em termos de equipamento e software, que estamos a procurar suprir no âmbito do financiamento em curso, tendo em vista quer a dinamização das várias ações de formação avançada, quer o reforço de condições para a realização de investigação por parte de jovens investigadores.

Que equipas e unidades de investigação alberga?
Atualmente, o CIEd organiza-se em quatro grupos de investigação, que agregam a diversidade de temáticas estudadas: Desenvolvimento psicossocial; Aprendizagem e Necessidades Especiais; Educação em Ciências para a Sustentabilidade; Políticas, Governação e Administração da Educação - Educação 3D (Democracia, Desigualdade e Diferença) e Tecnologia, Multiliteracias e Curriculum, contando na sua equipa com 56 investigadores doutorados e 154 doutorandos, dos quais 22 são bolseiros de doutoramento FCT. Anualmente, conta ainda com dezenas de estudantes de doutoramento e pós-doutoramento estrangeiros que escolhem o CIEd como instituição de acolhimento para estágios científicos avançados. Brevemente, este centro verá também o corpo de jovens investigadores reforçado, através do recrutamento de bolseiros de investigação doutoral e pós-doutoral e da contratação de investigadores doutorados.

Que balanço faz do percurso até ao momento? 
O CIEd tem progredido em várias áreas de atuação, embora em graus diferenciados. Ao nível da produção científica, destaca-se um número cada vez mais elevado de publicações com bom índice de impacto e em diferentes línguas. O número de candidaturas a projetos I&D tem vindo a aumentar, com reflexos na captação de financiamentos nacionais e internacionais. Por outro lado, a presença de diversos investigadores em importantes redes internacionais tem potenciado a sua integração em projetos de relevância científica, bem como a sua colaboração em projetos de formação e prestigiadas universidades estrangeiras. O reconhecimento da investigação produzida tem-se refletido, igualmente, no que vem sendo designado de “impacto social ou transferência de conhecimento”, evidenciado pela participação em programas e atividades de consultoria no âmbito de agências governamentais nacionais e internacionais, bem como entidades não governamentais e organizações privadas.


Projetos para governos e agências em vários países

Pode indicar exemplos?
Ministério da Educação da Guiné-Bissau, estruturas [em Portugal] do Ministério da EducaçãoInspeção Geral de Educação e CiênciaObservatório das Comunidades CiganasInstituto Camões, Sistema Nacional de Intervenção Precoce... No plano da formação de jovens investigadores, o CIEd tem registado um número crescente de doutorandos e pós-doutorandos provenientes de vários países, cujas atividades de pesquisa e publicação têm sido apoiadas através da dinamização de seminários de formação avançada em metodologias de investigação. A integração dos jovens investigadores nas dinâmicas do Centro tem vindo a ser progressivamente reforçada nas várias iniciativas em curso e em preparação.

Qual é o principal fator da sua afirmação?
A natureza interdisciplinar do Centro constitui uma marca relevante da sua identidade, construída ao longo de um percurso marcado por alguma estabilidade da equipa de investigadores integrados. A diversidade de abordagens desenvolvidas em torno de processos educativos, contemplando e articulando áreas-chave tradicionais e áreas emergentes, confere à investigação um dinamismo particular. Por outro lado, o facto de algumas áreas privilegiarem a construção de modelos teóricos originais, tendo como referência as especificidades da realidade educativa portuguesa, tem contribuído para a afirmação de determinadas linhas de investigação no contexto da comunidade mais ampla das ciências da educação. Em termos mais globais, o CIEd tem vindo a firmar o seu foco investigativo no estudo sistemático dos fenómenos educativos escolares e não escolares numa perspetiva de educação e aprendizagem ao longo da vida.

O CIEd segue as diretrizes da chamada Agenda 2030?
Em estreita articulação com os objetivos e prioridades da Agenda 2030, tem privilegiado o estudo das desigualdades, diferenças e inclusão social, da aprendizagem, inovação e desenvolvimento educacional sustentável, das políticas educativas e dos processos de educação e formação ao longo da vida. O doutoramento em Ciências da Educação – com curso e tutorial – constitui um importante fator de afirmação, não só devido ao elevado número de doutorandos (114 em 2019, sendo 60% estrangeiros), como de teses defendidas (30 em 2019). De igual modo, o doutoramento em Estudos da Criança – especialidade em Educação Especial constitui um pilar importante no desenvolvimento da missão do Centro.

Que eventos destaca?
Dos inúmeros eventos científicos com participação dos investigadores e sua integração nas comissões organizadoras, destaco os de caráter internacional, como ATEE Winter Conference 2019, XI Conferência Internacional de TIC na Educação – Challenges’2019, V COLBEDUCA, VIII SIELP, XV Congresso Galego-Português de Psicopedagogia e 2º Congresso Luso-Brasileiro sobre Transtorno do Espectro do Autismo e Educação Inclusiva. O Centro tem promovido diversas iniciativas para a comunidade científica, procurando reforçar a partilha e o debate: conferências pós-doutorais, seminários sobre questões éticas e investigação, workshops de aprofundamento de metodologias de investigação, além dos eventos de divulgação de resultados de pesquisa no âmbito dos projetos em curso. Realço ainda a publicação mensal de uma newsletter e o lançamento dos Diálogos em Rede e do Boletim CIEd, ambas as iniciativas emergentes no período da pandemia, com o objetivo de reforçar a partilha de ideias e projetos nas Ciências da Educação.

Como avalia a recetividade dos públicos ao vosso trabalho?
Muito positiva, evidenciada pelo elevado número de solicitações de entidades governamentais, organizações escolares, municípios, associações e do setor privado, bem como pelo crescente impacto social da investigação. A coordenação científica, por exemplo, de vários Projetos Educativos Locais por investigadores do Centro mostra o reconhecimento e a importância do trabalho em parceria. Por outro lado, as presenças regulares de investigadores do Centro na comunicação social são um indicador claro do reconhecimento e da projeção da sua investigação. O Observatório de Autoavaliação de Escolas, com 24 escolas e agrupamentos associados, tem contribuído para desenvolver, numa perspetiva de investigação-ação, os processos de autoavaliação das escolas e agrupamentos.



Reforçar a qualidade, a internacionalização e o impacto social

Quais são os principais projetos para os próximos tempos?

Continuaremos a apostar na qualidade, internacionalização, impacto e alcance social da investigação que produzimos, bem como na formação de jovens investigadores, enquanto vetores centrais da nossa missão. As principais apostas nos próximos anos são o reforço das parcerias internacionais e a diversificação de ações e meios de disseminação dos nossos resultados, a par da criação de condições de excelência para a realização e partilha de investigação por parte de jovens investigadores.

Em que medida projetos como o CIEd contribuem para a missão da Universidade?
Para além de desenvolver investigação, reconhecida nacional e internacionalmente, numa área que constituiu desde o seu início um dos pilares do desenvolvimento da universidade, o CIEd – através da investigação que desenvolve e do trabalho dos seus investigadores – tem dado um contributo relevante para o desenvolvimento do contexto em que a UMinho se integra, procurando encontrar respostas para os desafios que este enfrenta no campo da educação.

Quer deixar alguma mensagem final?
De modo a corresponder aos desafios futuros, está em curso um processo de reestruturação interna do CIEd, amplamente participado, que irá facilitar a dinâmica interdisciplinar da produção de conhecimento e reforçar a integração dos jovens investigadores nas lógicas de investigação científica, numa perspetiva de fortalecimento da identidade do Centro. Por exemplo, está a decorrer de 22 de janeiro a 5 de fevereiro a 1ª edição da Escola de Inverno – Ciclo de Workshops em Metodologias de Investigação em Ciências da Educação, conduzida por especialistas internos e externos, dirigida aos jovens investigadores e com o intuito de consolidar as suas competências na utilização de um conjunto de metodologias e ferramentas de investigação de natureza quantitativa e qualitativa.