Alunos da UMinho e seniores de Guimarães sobem ao palco da inclusão social

31-01-2021 | Daniel Vieira da Silva

Projeto deriva do teatro participativo "Então Vamos!" (na foto), criado pela ADCL e envolvendo seniores nas artes performativas

Tiago Porteiro é professor do Instituto de Letras e Ciências Humanas da UMinho e responsável pedagógico do "Fazer Presente"

"Fazer presente" quer transportar sorrisos à população mais isolada em Guimarães (foto do projeto "Então Vamos!")

Vai envolver diretamente 80 seniores e indiretamente serão cerca de 180 a participar (foto do projeto "Então Vamos!")

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Não será o confinamento a demover um projeto que quer “Fazer Presente” e aproximar jovens estudantes de Teatro à população idosa do concelho.


Promovido pela Associação para o Desenvolvimento das Comunidades Locais (ADCL), o “Fazer Presente - Teatro Participativo em Diálogo Intergeracional” é um projeto de sociedade que quer promover o envelhecimento sustentado da população sénior das comissões sociais inter-freguesias do Sudoeste da Montanha da Penha e de Sul Nascente, territórios situados em extremos geográficos opostos no concelho de Guimarães. Mas e o que tem este projeto de diferenciador? É sustentado numa parceria estreita com alunos e ex-alunos da licenciatura em Teatro da UMinho.



Recuemos no tempo. Há seis anos foi lançado em Guimarães o projeto “Então Vamos”, que tem, de seniores para seniores, potenciado o envolvimento social da população mais idosa e isolada do concelho através das artes performativas. O combate ao isolamento é missão e o teatro o veículo para um envelhecimento mais integrado e sustentado. Os frutos desse projeto estão à vista com a criação de vários espetáculos, resultado das competências sociais adquiridas pelos idosos através da promoção da sua integração social, esvaziamento dos momentos de isolamento e potenciação de uma forte relação destes com o público.

A ADCL, que já tinha visto este projeto solidário e impactante ser acolhido no âmbito do Orçamento Participativo de Guimarães, recebeu de braços abertos uma reformulação do mesmo, desta vez envolvendo estudantes da UMinho, mais concretamente da licenciatura em Teatro, assim como como o Município de Guimarães, diversas juntas de freguesia, A Oficina, a Rádio Universitária do Minho, entre outros.


Apoio nacional às artes por via da inclusão social

As duas instituições já tinham as bases e lançaram uma candidatura à iniciativa “Partis & Arts for Change”, promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Fundação la Caixa. que apoia projetos que visem demonstrar o papel que as artes podem desempenhar nos percursos de integração e na construção de comunidades mais justas e coesas. Os dados estavam lançados e, em 2020, a boa notícia chegou. O “Fazer Presente” foi um dos 16 projetos selecionados de uma lista de mais de 130 candidaturas em Portugal. A partir daqui somos guiados pelo diretor pedagógico do projeto, Tiago Porteiro, professor de Teatro no Instituto de Letras e Ciências Humanas (ILCH) da UMinho.



Projeto arrancou este mês

O professor da unidade curricular “Teatro e Comunidades” garante que é “um projeto especial”. Tiago Porteiro explica que o primeiro mês deste ano foi sinónimo de arranque e estavam planeados “seis meses de experimentação, de prospeção no terreno, de reconhecimento”. “É suposto perceber como vamos criar interações entre os estudantes e a população idosa, perceber como se irão estabelecer os protocolos de encontro, troca e partilha de conhecimento, experiências e de imaginário”, garante. Ainda assim, o docente assume que o contexto pandémico obrigou a repensar algumas estratégias: “Queremos fazer jus ao nome do projeto e temos, por isso, necessidade de invenção e experimentação relativamente à situação. Queremos continuar a ir para ao terreno, até porque só aí se consegue tatear o mesmo, fazer mapeamento do território”.

Tiago Porteiro afirma que novas formas de estabelecer pontes entre os alunos e os idosos já estão a ser analisadas por toda a equipa, mas que as mesmas terão que resultar em “novas estratégias e protocolos de encontro que não exijam presença física”. “Estamos a pensar ter alunos a enviar cartas aos idosos, plantas para que estes cuidem delas e relatem a sua evolução, questões para os idosos responderem, assim como iniciativas que promovam uma partilha de fotografias e objetos que relatem experiências de vida diferentes”, exemplifica.
 



Reduzir o fosso geracional

O projeto termina apenas em dezembro de 2023, mas até lá espera-se “cruzar universos entre jovens e idosos”, eliminando um “fosso” que existe entre estes dois mundos. Tiago Porteiro assume elevadas expetativas no projeto, até porque o encontro promovido no último ano entre alunos e seniores revelou-se “muito rico e impactante”, motivando-o a lançar novos desafios aos estudantes para criar protocolos e modos de aproximação desafiantes para os dois grupos. Com duração de 36 meses e apoio da Reitoria da UMinho, o “Fazer Presente” irá juntar 85 (-ex)estudantes a mais de 40 seniores idosos (além de mais 180 seniores como participantes indiretos). Estes estarão divididos em dois grupos de teatro sénior situados nas comissões sociais inter-freguesias onde o projeto se desenvolve.

O projeto será “alimentado” por uma componente de investigação (documentação e análise), assegurada pelo Núcleo de Investigação em Estudos Performativos, que está integrado no Grupo de Investigação em Estudos Artísticos do Centro de Estudos Humanísticos da UMinho. Além de documentar e criar vários outputs do projeto (livros, manuais de trabalho, artigos científicos), este núcleo colaborará na realização da conferência sobre artes e inclusão social para integrar o seminário final, uma mostra artística com a apresentação dos trabalhos realizados. Manuela Ferreira será a responsável pela área artística e a ex-aluna Gabriela Nunes será responsável pela área social.


Criação, formação e investigação são a base

O plano de atividades no âmbito da formação organiza-se em ciclos de um semestre e um trimestre, de forma a coincidir com as atividades letivas dos alunos e os ritmos e metodologias de criação do "Então Vamos!". A formação baseia-se numa pedagogia que propõe aos alunos e ex-alunos de Teatro um modo participativo de tomar contato com um novo campo de estudos de intervenção artística e especialização profissional.

Os semestres têm a participação dos recém-licenciados, no 2º e 3º ano do projeto, enquanto estagiários. Ao longo dos trimestres estão estudantes da disciplina “Teatro e Comunidades”. Alunos e ex-alunos vão ser envolvidos em todas as fases de criação e em contexto profissional (ex-alunos) e vão liderar, progressivamente e de forma acompanhada, os dois grupos de trabalho. Na componente de investigação, o “Fazer Presente” vai associar a prática à investigação, proporcionando um questionamento e uma monitorização constante do trabalho. É desta forma que, querendo “Fazer Presente”, se constroem bases para, a partir da UMinho - e juntando a população sénior de Guimarães - se apresente um projeto diferenciador e inclusivo assente na criação, formação e investigação.