Associação de Psicologia da UMinho serve a sociedade há cinco anos

31-03-2021 | Pedro Costa

Adriana Sampaio a discursar nos quatro anos da APsi-UMinho, a par do reitor Rui Vieira de Castro e da vereadora Adelina Pinto

Criação da APsi em 2016, com Isabel Soares (EPsi) e os vereadores Amadeu Portilha (Guimarães) e Firmino Marques (Braga)

A Linha de Apoio Psicológico SOS Covid-19 assinalou este mês um ano, com 105 pessoas apoiadas e 41 especialistas envolvidos

O projeto “Vida” tem sessões semanais online para apoiar pais/mães na gravidez e pós-parto no contexto da pandemia

Os "Clubes Comunitários" vão chegar a mais de uma dezena de escolas dos distritos de Braga e Vila Real

O Dia Nacional do Psicólogo, em setembro de 2020, foi assinalado com uma formação da professora Teresa Freire

As instalações da APsi-UMinho em Guimarães são, desde abril de 2017, na antiga estação de caminhos de ferro

Em Braga, a APsi-UMinho está localizada na Escola de Psicologia da UMinho, no campus de Gualtar

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O último ano foi desafiante e catapultou o volume de projetos, considera a presidente da APsi-UMinho e vice-presidente da Escola de Psicologia, Adriana Sampaio.





Fundada a 4 de janeiro de 2016, a Associação de Psicologia da Universidade do Minho (APsi-UMinho) não tem fins lucrativos e dedica-se à prestação de serviços de Psicologia à sociedade em geral. Resulta de uma parceria entre a UMinho – através da Escola de Psicologia (EPsi) e dos Serviços de Ação Social (SASUM) –, o Município de Braga e o Município de Guimarães. Derivando de um serviço que a EPsi já disponibilizava, a associação assumiu-se como plataforma de interação com a comunidade envolvente e pretende assumir um compromisso de desenvolvimento baseado no conhecimento científico. Já foi liderada pelos professores Isabel Soares, Paulo Machado e Rui Abrunhosa. Atualmente, é presidida por Adriana Sampaio, que é também investigadora, professora auxiliar com agregação e vice-presidente da EPsi. Ao NÓS, testemunha os desafios e as oportunidades que o último ano trouxe à associação.
 

Como surgiu a APsi-UMinho?
Nós tínhamos um serviço de psicologia na UMinho e, no sentido de fortalecer a proximidade com a comunidade envolvente, nomeadamente nos municípios de Braga e Guimarães, surgiu esta associação para dar uma resposta de maior proximidade. É uma resposta que traz uma intervenção psicológica, não só ao nível da consulta e de intervenção comunitária, mas também ao nível de projetos e formação. Com a entrada como associados daqueles dois municípios, dos SASUM e da própria universidade, representada pela Escola de Psicologia, houve sempre este objetivo de "lançar os tentáculos" à comunidade e fortalecer a nossa resposta em diferentes setores.
 
Foi um aproximar da Psicologia à sociedade civil, para entender melhor as necessidades das comunidades?
Sem dúvida, esse foi um dos motivos do fortalecimento da relação. Nós tínhamos uma resposta mais centralizada e direcionada à academia e menos articulada com a comunidade envolvente. Com o estabelecimento de parcerias, a abertura à comunidade tornou-se mais visível e conseguimos ser mais responsivos e corresponder às necessidades da comunidade. Os próprios projetos que desenvolvemos – sobretudo os de intervenção comunitária – surgem já em articulação com essa comunidade e mesmo a resposta de intervenção individual também já é alvo de protocolos específicos com os municípios. Houve um redireccionamento da APsi-UMinho para dar uma resposta mais integrada.
 
Que pessoas e recursos tem a associação?
Temos técnicos administrativos nos dois espaços físicos de que dispomos – em Guimarães, na antiga Estação de Caminhos de Ferro e em Braga, na Escola de Psicologia – e ainda temos avenças com psicólogos, que dão resposta aos nossos serviços. A partir de agora teremos também dois psicólogos contratados pela APsi-UMinho. A estrutura de recursos humanos tem vindo a ser ajustada, conforme a exigência do serviço evolui.
 
Como se financia a associação para poder desenvolver as suas atividades?
O financiamento dos projetos é importante, mas a sustentabilidade da associação vem dos múltiplos serviços que presta às diversas organizações da sociedade civil. Os projetos, com o seu desenvolvimento associado, apoiam o alicerçar das respostas na comunidade, expandindo novos programas e modelos de funcionamento.

 
A aplicação móvel Psicovida coloca utentes a falar com psicólogos por videochamada e disponibiliza estratégias de autoajuda
A aplicação móvel Psicovida coloca utentes a falar com psicólogos por videochamada e disponibiliza estratégias de autoajuda


Saúde mental ganhou centralidade

Que momentos marcantes viveu a instituição nestes cinco anos?
Eu diria que o momento mais marcante terá sido o ano de 2020, um ano sem precedentes, com vários desafios de natureza diversa, em que a própria APsi-UMinho teve que se reformular e reposicionar. A saúde mental assumiu um papel central no ano de 2020, precisamente no sentido de dar resposta em emergência no contexto da pandemia. A APsi-UMinho mobilizou-se de uma forma sem precedentes, dando resposta em múltiplos setores. Catapultou-se até na divulgação dos seus projetos, dinamizados e disponibilizados em larga escala, mesmo em termos nacionais, que de alguma forma foram catalisados nesta pandemia. Tivemos que atuar em várias frentes, com projetos na área das crianças, dos adolescentes. Tivemos também uma parceria com a empresa Outsystems, em que nasceu o projeto Psicovida, e através desta app demos apoio psicológico em crise por videochamada a todo o país. Além disso, desenvolvemos outro projeto em articulação com o Centro de Medicina Digital P5 e que incluiu os municípios e a própria academia, com a Linha de Apoio Psicológico SOS-Covid-19. Foram vários projetos durante um ano em que se assistiu à disponibilização de apoios e recursos à comunidade.
 
Este crescimento e afirmação é crucial...
Em termos de projeção, 2020 foi de facto o ano da instituição. Assumi a direção em 2019 e estou no meu terceiro ano. Os primeiros anos de existência da associação foram de adaptação, implementação e orientação. Agora estamos numa “velocidade de cruzeiro” e a aumentar os recursos e projetos. A APsi-UMinho ultrapassou o âmbito de atuação local para um âmbito nacional. Vê-se, por exemplo, nos nossos dois projetos das Academias Gulbenkian Conhecimento, da Fundação Calouste Gulbenkian, em que claramente um tem uma intervenção mais local e o outro é nacional.
 
Quais foram as maiores dificuldades vividas até agora?
Eu diria que, sendo um novo modelo de organização de serviços, trouxe as suas dificuldades. Nós tínhamos um modelo com mais de 20 anos do serviço de psicologia, cuja tradição do serviço que se restringia apenas à Escola de Psicologia. Neste novo modelo organizativo dos serviços e dos projetos, ficou implicada uma gestão de novos organigramas, novas interações e uma ruptura com um modelo de serviço antigo. Este modelo baseado numa associação sem fins lucrativos, que tem vantagens e desvantagens, nem sempre é fácil de transmitir nas suas particularidades. O próprio papel dos associados é diferente e seguiu um modelo novo para o desenvolvimento das atividades e dos serviços, onde tiveram que apreender o seu papel na APsi-UMinho. A interação com os associados teve que ser fruto de um caminho de maturação, para que estas dinâmicas de atuação e funcionamento pudessem ser verdadeiramente transformadoras.
 
Que públicos são alvo dos vossos serviços e projetos?
Na APsi-UMinho temos três unidades: de Intervenção; de Formação e Desenvolvimento Profissional; e de Projetos e Inovação. Dentro do que é a unidade de intervenção psicológica temos algumas consultas claramente diferenciadas. Por exemplo, dentro da subunidade Psicologia Clínica e da Saúde, temos uma consulta de primeira infância, uma de psicologia dos adolescentes, uma de perturbações de comportamento alimentar, neuropsicologia,  psicologia do desporto, entre outras. Temos ainda avaliações psicológicas para as câmaras municipais nos procedimentos concursais para trabalhadores em funções públicas, ou ainda nos processos judiciais, para os tribunais. Portanto, só dentro desta unidade de intervenção há uma diferenciação ajustada à procura dos serviços. Os projetos também são claramente para grupos-alvo.

Dê-nos exemplos.
Programa Vida “Quando a vida não escolhe tempo para nascer” é direcionado para prestar apoio psicológico para mães e pais durante a gravidez e pós-parto e que estejam em situação de sofrimento psicológico ou preocupação com a pandemia. O projeto Ser+ é claramente orientado para diferentes faixas etárias e divide-se em três programas, dirigidos a jovens entre os 15 e 20 anos: “Desafio Ser+” (7º-9º anos); “Competência Ser+” (10º-12º anos) e “Decisão Ser+” (1º ano do ensino superior). O projeto Clubes Comunitários tem outro âmbito de atuação e é uma estratégia de enriquecimento pessoal para os alunos do ensino secundário, assente na modalidade dos Clubes Escolares. Têm as comunidades intermunicipais (CIM) do Ave e do Vale do Cávado como parceiros e vão ser implementados em mais de uma dezena de escolas dos distritos de Braga e Vila Real. Estes são exemplos de iniciativas em curso. Tendemos a desenvolver projetos muitos específicos, com públicos muito identificados. Como referido, temos projetos mais abrangentes e é nesse contexto que surge, por exemplo, a Linha SOS-Covid-19, para dar uma resposta de intervenção psicológica em crise, para quem dela necessite em tempos de pandemia.
 


Linha permanente de apoio psicológico para universitários em perspetiva

O desenvolvimento dos trabalhos é apoiado por parcerias técnicas?
Claramente, um dos parceiros estratégicos da APsi-UMinho é o P5, onde temos articulado, desenvolvido e estreitado uma resposta integrada de intervenção psicológica no seio da academia. Além disso, participamos no desenvolvimento da app PsicoVida, com a OutSystems e investigadores da UMinho e do INESC TEC, para a implementação de uma resposta a nível nacional de intervenção psicológica em crise, com videochamada. A APsi-UMinho desenvolveu todos os módulos de intervenção, fazendo toda a certificação, supervisão e monitorização da formação inicial para estes psicólogos, que entravam nesta base de dados como voluntários. O ano 2020 foi, de facto, um ano de muitas riquezas e muitos projetos da associação. No seguimento desse trabalho árduo, surgiram vários manuais de intervenção e de autoajuda no contexto de crise, orientados para problemáticas específicas, como a violência doméstica ou a carreira profissional, mas também para problemas emocionais. O resultado de tudo isto foi compilado num ebook que a própria APsi-UMinho produziu e disponibilizou a todos os profissionais de saúde.
 
Que ambições tem a associação para os próximos anos?
Estou a terminar o mandato e penso que os últimos anos foram importantes para implementar a gestão organizativa dos serviços e dos seus pilares de intervenção. Nesta missão tive apoio essencial dos coordenadores das diferentes unidades e dos que estiveram dentro desta organização, com quem pude trabalhar este modelo e planear a sua ampliação. Estamos numa curva ascendente no aumento de serviços em cada uma das unidades, algo que ambicionamos que se mantenha. Outra questão importante relaciona-se com o papel dos associados, que estão plenamente envolvidos. Neste momento temos projetos de consolidação de uma resposta mais integrada, quer com os SASUM, quer com a Câmara Municipal de Guimarães e estamos a iniciar o mesmo processo com o Município de Braga. A terceira ambição é a de uma resposta maior dentro da própria universidade. Desejamos que a Linha de Apoio Psicológico SOS-Covid-19 seja alargada para uma linha de apoio permanente, que exista em contexto académico para todos os estudantes da UMinho, em língua portuguesa e inglesa – e que desta forma possa dar também resposta aos estudantes Erasmus. São três mensagens que gostaria de deixar a quem venha a seguir nos destinos da associação, numa aposta nestas três vertentes, o que me deixaria muito satisfeita.