30 anos de experiência, vários desafios
Como correu a sua entrada no mercado de trabalho? E que desafios encontrou pelo caminho?
No último ano do curso fiz um estágio curricular na Direção de Sistemas de Informação da Sonae Distribuição. Começar a trabalhar numa empresa como a Sonae, uma “escola” em muitos aspetos, ao lado de António Murta e Jorge Brás [ambos formados pela Escola de Engenharia da UMinho], duas pessoas extraordinárias que viriam a marcar todo o meu percurso profissional, foi um enorme privilégio! Enquanto estagiária, desenvolvi um programa de ensino por computador, com recursos multimédia, para a formação nos processos operacionais de receção e conferência de mercadorias nas lojas Continente. Uma inovação na altura! Aprendi muito sobre o negócio da distribuição e isso agradou-me imenso. A Sonae estava a crescer e os sistemas de informação tornaram-se estratégicos para o negócio, criando muitas oportunidades profissionais para todos. Ao ingressar no mercado de trabalho, deparei-me com os desafios normais de quem sai da universidade: perceber como funcionam as empresas, ter vontade e capacidade para aprender muito e se adaptar...
Houve algum momento que a marcou ou alterou o rumo do seu percurso profissional?
Lembro-me de alguns momentos em que me foram propostas funções diferentes ou dada a oportunidade de participar em novos projetos e em que fui dizendo “sim”, muitas vezes apenas por confiar em quem me convidava. Aventurei-me e aprendi sempre muito. Assim fui tecendo um percurso que me levou da programação ao trabalho de análise e sistematização de requisitos e à gestão de projetos, passando por funções comerciais e de gestão de conta, para depois se consolidar numa função de desenvolvimento organizativo, que completou a minha experiência transversal nas organizações e me conduziu ao que verdadeiramente gosto de fazer na gestão: estratégia, organização e métodos, processos, implementação de mudança, desenvolvimento de pessoas e processos de transformação das organizações.
Em três décadas assumiu cargos de chefia em empresas de renome como a Sonae, Enabler, Wipro Technologies e i2S. Que conselhos deixaria aos nossos estudantes para um percurso de sucesso?
Em primeiro lugar, acho que cada pessoa deve ter bem claro para si o que significa ter “sucesso” e saber isso pode mudar em momentos diferentes da vida. Para mim, por exemplo, significa ter a oportunidade de desempenhar funções diferentes, aprender, crescer profissionalmente nas organizações e assumir mais responsabilidades, mas também significa manter algum equilíbrio nas várias facetas da minha vida e sentir que estou a transformar-me na pessoa que quero ser. Cheguei a viver uma temporada nos EUA e gostei imenso, porque me permitiu conhecer outras formas de pensar, bem como pessoas e estilos de vida diferentes. Noutro período da minha vida, viajei, com muita frequência, em trabalho pela Europa e pelo Médio Oriente. Gostava verdadeiramente de o fazer, mas hoje, com família, prezo muito poder trabalhar no que gosto, mantendo “a minha base”, em casa, e esse tal equilíbrio. Cada um precisa de saber que talentos tem, o que quer fazer com eles, como pode causar impacto e fazer a diferença nos projetos a que se dedica. Acho que os mais jovens partilham esta perspetiva e a noção de que o futuro se faz de muitos caminhos, experiências e “profissões”.
Em 2009 cofundou, com os alumni António Murta e Carlos Oliveira, a CardMobili, uma startup que rapidamente se tornou líder na área das carteiras digitais.
Foi uma experiência enriquecedora e um grande desafio: concretizar uma ideia simples, mas muito útil e apelativa para os consumidores, e procurar um caminho que pudesse transformar essa ideia num negócio. Julgo que estivemos uns anos adiantados em relação ao mercado.
Atualmente é COO na Cleva Inetum, uma multinacional especializada na conceção e implementação de software para o setor dos seguros. Explique-nos o que faz concretamente.
A Cleva Inetum é o novo nome da i2S, uma empresa com mais de 30 anos e líder de mercado no desenvolvimento de software para o setor segurador. A mudança de nome acontece após a aquisição da empresa pelo grupo Inetum, em setembro de 2019. Enquanto chief operating officer (COO), coordeno todas as operações da empresa levadas a cabo pelas equipas de produto, que desenvolvem o software, e pelas equipas de serviços, que o implementam e asseguram o suporte aplicacional ao negócio e a resposta às necessidades dos clientes. Assumo também a gestão da organização e a ligação com o CEO, em França. Somos mais de 250 pessoas que, a partir de Portugal, entregamos uma das soluções-chave do grupo para companhias de seguros na Europa, explorando oportunidades também na América Latina.
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