Redes 5G em Portugal, evolução ou revolução em perspetiva?

31-05-2021 | Fotos: Nuno Gonçalves

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Alexandre Santos

Aguardemos, enquanto investigamos 6G, a revolução prometida pelas “Redes 5G”, uma tecnologia de comunicação extremamente necessária para concretizarmos as Cidades Inteligentes, a Realidade Virtual e Aumentada, a Condução Autónoma, as Fábricas do Futuro, a Internet de Todas as Coisas.


Nos dias de hoje, mais de 50 anos passados sobre os primórdios da Internet global e cerca de 30 anos após, já na UMinho, ter participado activamente na criação da rede académica nacional (então designada RCCN, Rede de Cálculo Científico Nacional), como também na primeira ligação de Portugal à Internet, aguardo com expectativa o resultado do “Leilão 5G”. Este leilão, conduzido pela Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM), irá permitir a criação de “Redes 5G” em Portugal; está já perto do 100º dia de licitação e ainda não há decisões: os operadores licitam os diferentes lotes de frequência rádio necessárias para operar “Redes 5G” mas o leilão ainda decorre e Portugal está (continua, inclusive face aos prazos europeus) a atrasar-se neste processo.
 
Qual a importância das “Redes 5G”, o que poderão aportar em termos de inovação e será que poderão constituir um motor tecnológico capaz de impulsionar uma verdadeira revolução? Na realidade, a designação 5G provém do acrónimo associado a redes móveis de 5ª geração, após as redes de 1ª geração, 2G, 3G e 4G; estas “Redes 5G” têm como característica fundamental suportarem comunicações rádio, e portanto sem fios, celulares que possibilitam a transferência de dados entre aplicações com diferentes características (voz, dados, vídeo, videojogos, realidade virtual, etc.) em dispositivos móveis. Apesar de dispormos hoje de alguns destes serviços nos smartphones, nos tablets, nos computadores portáteis e em veículos, as “Redes 5G” permitirão ter um muito maior número de dispositivos ligados, uma muito maior taxa de transferência de dados, com um tempo de resposta muitíssimo menor.

Consequentemente, poderemos conseguir que dezenas de milhares de espectadores que assistem aos Jogos Olímpicos (Tokyo'2021 terá cobertura 5G) num estádio a usar simultaneamente os seus smartphones para analisar em tempo real detalhes específicos das provas. Poder-se-á ainda, face ao tempo de resposta extremamente reduzido, realizar a condução remota (estando o condutor numa qualquer localização longínqua) de veículos em estrada, fazer circular veículos autónomos com segurança no tráfego urbano. Poder-se-á mesmo realizar uma operação cirúrgica robótica manipulada por um cirurgião que não está fisicamente no bloco operatório, que está a centenas de quilómetros de distância... Tudo isto via comunicações sem fios, extremamente fiáveis, para aplicações executadas em dispositivos móveis que poderão estar a deslocar-se a velocidades de 500Km/h (TGV na Europa, Maglev no Japão).
 
Usando tecnologias 5G consegue-se uma muito elevada fiabilidade e resiliência da rede (até 99.99999%, falha menos de 5 segundos/ano) e cumprir os requisitos - de atraso (1 milisegundo), taxas de transferência elevadíssimas (até 20 Gigabits por segundo) - necessários para, independentemente da densidade de dispositivos (até 1 milhão/Km2), executar estas aplicações extremamente exigentes. As tecnologias de rede que comummente designamos por Wi-Fi ou mesmo redes 4G não cumprem o mesmo tipo de requisitos.  
 
Os exemplos de aplicações suportadas em 5G não foram retirados de um qualquer filme de ficção científica e também não são meros exemplos futuristas: todos estes casos já foram realmente testados usando “Redes 5G” experimentais, alguns destes foram inclusive testados em Portugal. Os lotes de frequências que a ANACOM está a licenciar permitirão o início da oferta comercial 5G, uma importante evolução tecnológica!
 
Há cerca de 30 anos participei muito entusiasticamente no estabelecimento da Internet em Portugal e da sua primeira ligação internacional (Portugal ligou-se então à Internet global à taxa “fantástica” de 64Kbps), mas esse início dos anos 90 foi também o início de uma revolução na área das comunicações. Aguardemos pois, também entusiasticamente e enquanto investigamos 6G, a revolução prometida pelo futuro das “Redes 5G”, uma tecnologia de comunicação extremamente necessária para concretizarmos as Cidades Inteligentes, a Realidade Virtual e Aumentada, a Condução Autónoma, as Fábricas do Futuro, a Internet de Todas as Coisas!


Professor do Departamento de Informática da Escola de Engenharia da Universidade do Minho (EEUM)