Turismo e mudanças climáticas

28-07-2021

Rita Sousa

No turismo sustentável, é fulcral repensar que transportes usar, preferir produtos locais, cuidar dos resíduos... em suma, ter escolhas mais educadas. 


Neste mês de calor e com agosto à vista, as pessoas procuram férias. Pelas razões óbvias, a maioria tem considerado locais mais próximos de casa. Com todas as limitações COVID, a lembrarem-nos constantemente o que acontece com a enorme flexibilidade geográfica que temos hoje à disposição, os problemas das mudanças climáticas perderam protagonismo. A verdade é que o turismo tem uma relação bipolar com estas questões, porque… ninguém quer chuva na semana de férias que marcou. Se, por um lado, os eventos climáticos extremos, as secas e os incêndios afastam os turistas, por outro lado, o aumento da temperatura e de dias secos são vistos com bons olhos, pelo menos a curto prazo. Mas a verdade é que os efeitos globais das mudanças climáticas para as próximas décadas são uma certeza e outra certeza é que não podemos ter uns sem outros.

Atualmente, pelo ónus da proliferação do SARS-CoV2, o foco tem sido posto no impacto do turismo nas emissões de gases com efeito de estufa, em particular do transporte aéreo, e dos recursos utilizados pela indústria hoteleira. Há até uma estratégia com documentos de apoio à redução da pegada carbónica deste setor em Portugal. No entanto, o outro lado da moeda é igualmente preocupante, pois o turismo é necessário para todos os que anseiam por férias, mas também o é para quem dele depende financeiramente. Aqui as perspetivas não são boas, com as últimas estatísticas do INE a indicarem uma descida para 4,6% do valor acrescentado bruto gerado pelo turismo nacional em 2020, em relação aos 8,4% de 2019. Sem turismo baixam os rendimentos e, no que respeita ao problema climático, traz a reboque menores capacidades de adaptação aos já maus cenários projetados.

Em termos geográficos, o Norte de Portugal terá de lidar com dificuldades relacionadas com um aumento da frequência de eventos climáticos extremos, secas mais significativas e subida do nível das águas do mar. Em particular, pela sua importância local e de escala, e por estar intrinsecamente ligado aos recursos naturais e ao geopatrimónio, o turismo rural e o de natureza são os que mais obstáculos terão pela frente. Na emergência climática em que nos encontramos, as comunidades locais precisam de estratégias de resposta e adaptação do seu turismo, de forma responsável, de tal modo que reforce a conservação e o desenvolvimento. É fulcral estar atento à balança que se equilibra no conceito de turismo sustentável e, por isso, resiliente, e, com a democratização das viagens, para o qual todos devemos contribuir. É necessário repensar que transportes usar, preferir produtos locais, cuidar dos resíduos, em suma, fazer escolhas mais educadas. Com mais liberdade vem também mais responsabilidade.

Boas férias!


Professora da Escola de Economia e Gestão (EEG) da Universidade do Minho