CRIA investiga a antropologia numa rede de quatro universidades

29-10-2021 | Pedro Costa

Luís Cunha é diretor do CRIA-UMinho e professor do Departamento de Sociologia do Instituto de Ciências Sociais da UMinho

O polo nortenho do CRIA situa-se no Instituto de Ciências Sociais da UMinho, no campus de Gualtar, em Braga

O CRIA tem polos nas universidades de Coimbra, do Minho, Nova de Lisboa e no ISCTE; possui cerca de 70 investigadores, sendo 11 afetos ao polo da UMinho

O laboratório associado IN2PAST, apresentado em junho em Évora, une os centros de investigação CRIA, Lab2PT, CESEM, IHA, CHAIA, HERCULES e IHC, ligados às suas unidades de gestão (universidades do Minho, Coimbra, Nova de Lisboa, ISCTE)

O ciclo de encontros "Em Concreto", do CRIA-UMinho e A Oficina, teve várias tertúlias em 2019 na Casa da Memória, em Guimarães

O CRIA, o Departamento de Sociologia da UMinho e Rusga de São Vicente de Braga, na sua sede, apresentaram em fevereiro de 2017 o documentário "Fim de um mundo?", com os autores Cláudia Freire e Jorge Murteira

As Festas Nicolinas, em Guimarães, querem ser Património Cultural e Imaterial e são estudadas pelo antropólogo Jean-Yves Durand

O ciclo "O Silêncio da Terra", sobre o arquivo da Companhia de Diamantes de Angola, realizado de março a setembro de 2021 em Braga, teve apoio do CRIA

Cartaz das jornadas dos mestrados em Crime, Diferença e Desigualdade e em Direitos Humanos da UMinho, em maio de 2018, em Braga, organizadas pelos centros científicos CRIA e JusGov

Livros "Entre o bairro e a prisão", de Manuela Ivone Cunha, e "Memória social em Campo Maior", de Luís Cunha, ambos editados pelo CRIA (Etnográfica Press), e "Patrimonio etnológico: visiones antropológicas", de Xerardo Pereira, pela Sinapsis

As plataformas digitais são uma ferramenta essencial na comunicação deste Centro com o público

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O ciclo de entrevistas sobre os centros de I&D da UMinho conta com Luís Cunha, diretor local do Centro em Rede de Investigação em Antropologia.





O Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA) é uma unidade de I&D interuniversitária criada em 2007 e, desde 2021, é um dos sete membros do Laboratório Associado para a Investigação e Inovação em Património, Artes, Sustentabilidade e Território (IN2PAST). O CRIA tem polos sediados em quatro instituições universitárias (Minho, CoimbraNova de Lisboa e ISCTE), numa estrutura em rede que permite a cada polo desenvolver ações de forma autónoma e que todos partilhem recursos indispensáveis à gestão de ciência, captação de fundos, divulgação das atividades de pesquisa e ensino e transferência de conhecimento, estimulando ainda a mobilidade dos seus investigadores entre as diferentes instituições. O NÓS foi ao encontro de Luís Cunha, investigador e diretor do polo CRIA-UMinho, para conhecer melhor a realidade deste centro.


O CRIA surgiu quando e com que motivações?
Define-se como associação de investigação e desenvolvimento. Resultou da iniciativa de quatro instituições universitárias, desenvolvendo atividade nos quatro polos que resultaram desta associação. A motivação que levou ao surgimento do CRIA e à opção por este formato permanece atual, que é potenciar a investigação e a divulgação da antropologia no plano nacional através da articulação de diferentes polos e respetivos investigadores.
 
Como se articula com as outras entidades parceiras?
O Centro nasceu, justamente, de uma vontade de articulação. Tendo na sua base a investigação numa área de conhecimento que tem uma expressão bastante localizada, pareceu-nos fundamental congregar investigadores, não apenas os que se encontravam em Lisboa, mas também os que se encontravam na região Centro e região Norte. Tenha-se em conta que em termos de ensino público apenas existem quatro licenciaturas em Antropologia - três em Lisboa e uma em Coimbra -, o que nos pareceu justificar a criação de uma entidade dedicada à investigação que se estruturasse num princípio de rede. Essa ideia, aliás, foi usada na própria designação do CRIA. Quanto às parcerias deste Centro com outras entidades, deve sublinhar-se a extensão e diversidade destas, que vão desde associações profissionais a câmaras municipais; de museus, nacionais e internacionais, à UNESCO. Múltiplas parcerias, umas nascendo por força da convergência em interesses comuns, outras como resposta a solicitações que nos vão chegando.
 
Como descreveria as infraestruturas do CRIA, para quem ainda não o conhece?
Apesar de se assumir como um centro de investigação nacional disperso por diferentes polos, é em Lisboa que se encontra a esmagadora maioria dos seus investigadores e também, por essa razão, as suas principais infraestruturas. Entre estas deve destacar-se o Laboratório Jill Rosemary Dias, o Laboratório Audiovisual, o Laboratório de Antropologia Ambiental e Ecologia Comportamental e o Laboratório de Antropologia Biológica e Osteologia Humana. No caso do polo da Universidade do Minho - o CRIA-UMinho -, a única infraestrutura de que dispomos é uma pequena sala, que nos serve de sede e de local de trabalho para investigadores.
 
Tem os recursos que deseja?
Suponho que esta é uma pergunta comum neste tipo de entrevistas e a resposta que obtém não deve variar muito: nunca dispomos dos recursos que desejamos, até porque logo que isso sucedesse surgiriam outros desejos. Em todo o caso, pensando apenas no polo que coordeno, ou seja, no CRIA-UMinho, os recursos disponíveis estão relativamente ajustados à dimensão do polo.
 
Que equipas e unidades de investigação alberga?
Embora estruturado em vários polos, o CRIA integra todos os investigadores em grupos de investigação transversais, fator que contribui para uma forte articulação entre os polos, potenciando mesmo os que são de pequena dimensão, como o da UMinho. Assim, os investigadores integram-se, livremente, num dos seguintes grupos de investigação: Circulação e produção de lugares; Desafios ambientais, sustentabilidade e etnografia; Governação, políticas, quotidiano; Práticas e políticas da cultura. Existem ainda grupos temáticos e núcleos de trabalho que os completam, numa lógica de transversalidade, procurando dinamizar a investigação a partir da base, isto é, dos investigadores auto-organizados em linhas de pesquisa e áreas de investigação. Os grupos e núcleos atualmente ativos são: Antropologia da Saúde; NAVA – Núcleo de Antropologia Visual e da Arte; AZIMUTE – Estudos em Contextos Árabes e Islâmicos; Recursos Informais, Estado e Capital Social; Antropologia da Religião; e CEAS – Círculo de Estudos da Ásia do Sul.
 

Site, YouTube, dois podcasts e blog para envolver o público


Que balanço faz do percurso deste centro até ao momento?
Como unidade de I&D enquadrada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), foi classificada com Muito Bom nas avaliações internacionais de 2007, 2013 e 2017. Não sendo uma classificação que nos satisfaça inteiramente, julgamos que responde ao esforço coletivo que vem sendo feito e à dimensão real do Centro. O crescimento tem sido sustentado, sobretudo tendo em conta o que já foi referido sobra a escassa oferta formativa nesta área disciplinar.
 
Qual o principal fator da sua afirmação? Que eventos destaca?
Em 2021 o CRIA adquiriu o estatuto de laboratório associado do Estado, em resultado da sua participação no consórcio IN2PAST. Encaramos o sucesso neste processo como uma oportunidade para o Centro ganhar maior dimensão e projeção. As questões de património, que o novo laboratório associado se propõe abordar, é apenas uma das áreas de atividade do CRIA, mas a sua relevância e transversalidade é significativa, pelo que esperamos que possa vir a marcar uma evolução positiva. Num plano mais geral da afirmação deste Centro, devo destacar a projeção alcançada pela revista Etnográfica, com periodicidade quadrimestral, que publica artigos originais em quatro línguas - português, inglês, espanhol e francês - e se encontra indexada em importantes bases de dados e coleções – Anthropological Index Online, EBSCO, Revues.org, SciELO, Scopus, Web of Science - SciELO Citation Index. Além desta revista, o CRIA tem também apostado na edição, e em alguns casos reedição, de obras relevantes da antropologia através de um projeto editorial, Etnográfica Press, que conta com três coleções ativas.
 
Como avalia a recetividade dos públicos e da sociedade civil ao vosso trabalho?
Este Centro tem vindo a fazer uma aposta clara e consistente na comunicação de ciência, procurando, dessa forma, ganhar visibilidade, projetando os trabalhos dos seus investigadores por forma a evidenciar a sua relevância na análise e debate dos processos sociais contemporâneos. O "Canal de Antropologia" e os podcasts "EntreCampos" e "EntreOsMontes" são a face mais visível desse esforço. A criação do blog "Confinaria. Etnografias em Tempos de Pandemia", motivada pela pandemia com que ainda estamos a braços, é também um bom exemplo desse esforço de intervenção no espaço público.
 
Quais são os principais projetos para os tempos mais próximos?
O CRIA teve eleições recentemente, iniciando, por essa via, um novo ciclo de gestão. A ideia fundamental é a de dar continuidade e aprofundamento a processos já iniciados, sem prejuízo de inovação, naturalmente. A renovação do site institucional foi uma das tarefas desenvolvidas no mandato anterior. Trata-se agora de fortalecer este instrumento fundamental de comunicação e articulação entre os investigadores e respetivos polos. As publicações CRIA, a que aludi, estão também entre as prioridades da nova direção, o mesmo se aplicando ao novo laboratório associado IN2PAST, do qual fazemos parte. É igualmente de sublinhar a vontade de aprofundar interações dinâmicas entre os polos do CRIA.
 


Atrair investigadores de academias próximas

Em que medida projetos como o CRIA contribuem para a missão da Universidade?
São fortes e densos os laços entre o CRIA e a missão adstrita às diferentes universidades a que o Centro está ligado, extravasando, claramente, a estrita dimensão da investigação. São várias as atividades de formação e de extensão associados ao CRIA, nomeadamente o Doutoramento FCT em Antropologia: políticas e imagens da cultura e museologia; Doutoramento em Antropologia – ISCTE e Nova FCSH; Doutoramento em Antropologia – Universidade de Coimbra, além de cinco mestrados, uma pós-graduação e três cursos CRIA. O polo CRIA-UMinho encontra-se, porém, numa situação um pouco diferente dos restantes polos.

Como assim?
Não tendo de momento nenhuma formação nesta área, não havendo sequer o reconhecimento do grupo disciplinar de Antropologia, o trabalho desenvolvido pelos seus investigadores tem sido orientado para a colaboração com outras instituições. Esta singularidade expressa-se, também, na composição do grupo de investigadores associados ao polo. De facto, apesar de estar sediada na UMinho, integra investigadores de outras instituições, nomeadamente a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), a Universidade Fernando Pessoa e o Instituto Politécnico do Cávado e Ave (IPCA), fator que gera alguma dificuldade no plano da gestão, mas que, por outro lado, é também potenciador de dinâmicas transversais que procuraremos aproveitar de forma mais ativa nos próximos anos.
 
Quer deixar alguma mensagem final?
Concluo com uma sugestão aos leitores: visitem o site do CRIA, descubram aí o nosso Canal e os nossos podcasts, espreitem o blog Confinarias e leiam as notas etnográficas suscitadas por esse momento excecional das nossas vidas. Não deixem de visitar, também, a Etnográfica Press, aproveitando o acesso aberto para conhecer melhor aquele que tem sido o trabalho do CRIA.