Joaquín Torres-Sospedra com 100% na Bolsa Marie Curie

29-11-2021 | Pedro Costa | Fotos: Nuno Gonçalves

Na International Conference on Indoor Positioning and Indoor Navigation - IPIN 2019 (ao centro), em Pisa, Itália

Na A-WEAR, uma Rede de Formação Inovadora na UE, inserida nas Ações Marie Curie, que junta 12 organizações

As redes neuronais são um ramo que Joaquín Torres-Sospedra também aborda

O posicionamento de pessoas e objetos no interior de edifícios é uma área emergente

A interligação entre pontos de contacto é cada vez mais intensa com a globalização

Algumas das palavras mais presentes no léxico do investigador do Centro Algoritmi

É coeditor da próxima edição especial da revista científica "Data", do grupo editorial MDPI

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Investigador do Centro Algoritmi pesquisa sobre a localização de pessoas e produtos, um desafio tecnológico central.




Joaquín Torres-Sospedra recebeu uma bolsa individual (IF) Marie Sklodowska-Curie (MSCA), cuja candidatura foi avaliada com a pontuação máxima. O investigador principal no Centro Algoritmi da Escola de Engenharia da UMinho tem assim 160 mil euros para desenvolver o projeto ORIENTATE, sobre novas tecnologias integradas de localização, mais fiáveis e robustas do que as atuais. Para Torres-Sospedra, a bolsa "preenche uma lacuna" no seu currículo e permite-lhe "liderar uma linha de investigação promissora com elevada probabilidade de transferência de tecnologia para a indústria”.
 
 
O ORIENTATE foi concebido como um projeto inovador de training, “que vai introduzir uma nova tecnologia para posicionamento em instalações industriais”, revela o investigador. Para Torres-Sospedra, esta distinção é definida como um “desafio muito importante": "Não só para mim, mas para todos nós; acima de tudo, estamos gratos por merecermos esta espécie de selo de qualidade, que a mesma representa”. Sendo um estudo em desenvolvimento, a bolsa pode dar-lhe uma dimensão europeia. “Já temos vasta experiência, nomeadamente com o trabalho do professor Adriano Moreira na localização em interiores, mas uma distinção deste tipo significa que tem sido feito um bom trabalho e que vai abrir portas numa nova etapa importante”.
 
Para o investigador, este percurso de investigação é desafiante, pois “a localização tem hoje uma importância fundamental, já que num pequeno ecrã podemos localizar-nos”. Isso tornou-se fácil no exterior, com recurso ao GPS, mas “o mesmo já não acontece em contexto indoor, onde há obstáculos de diversa natureza que impedem a localização com precisão”, justifica. No interior de edifícios, pode recorrer-se a dispositivos wi-fi ou bluetooth, mas “é necessário encontrar novas soluções, mais robustas”, refere. Joaquín Torres-Sospedra revela que a sua equipa “está a trabalhar em novas tecnologias, baseadas em LED, que são mais precisas, embora com alguns inconvenientes”. O objetivo, sublinha, é integrar as várias tecnologias - que se substituem, onde algumas falham - com recurso a deep learning e inteligência artificial, conseguindo um posicionamento mais preciso e mais robusto.
 
As metas e tarefas do projeto têm uma duração prevista de dois anos. No entanto, necessita-se pelo menos de um ano adicional, "para atingir os objetivos de comercialização”, admite. "A utilização desta tecnologia, que poderá gerar duas patentes, será muito transversal, pois o seu potencial é enorme, já que hoje a localização de pessoas, materiais ou produtos representa uma informação de grande importância”, reforça.
 
Joaquín Torres-Sospedra lidera o projeto, mas realça a supervisão do professor Adriano Moreira e os contributos dos professores Helena Rodrigues, Maria João Nicolau, Rui José e dos investigadores doutorados Felipe Menezes e Cristiano Pendão, além do estudante de doutoramento Ivo Silva”. Estão previstos desenvolvimentos no Centro de Computação Gráfica (CCG), também no campus de Azurém, em Guimarães, e na Universidade de Tampere (Finlândia) para facilitar a transferência de tecnologia e a comercialização das tecnologias desenvolvidas para outros mercados.
 
Há novas dinâmicas a alterar no ritmo de trabalho de Joaquín, mas admite que já se acostumou. "Na primeira vez que estive em Portugal e na UMinho, além da metodologia muito acessível, lembro-me que assisti a uma aula do professor Adriano Moreira em português, língua que eu não dominava, e pude entender tudo. Aliás, a aula foi muito interessante e fez-me pensar que talvez devesse continuar o meu trabalho por aqui”, confessa.
 
 

Atraído por Guimarães
 
Joaquín Torres-Sospedra doutorou-se pela Universitat Jaume I (Castellón, Espanha), em 2011. Os seus interesses de pesquisa entre 2003 e 2013 incluíram redes neurais, modelos de conjuntos, robótica e interoperabilidade. Em 2013, ingressou no Grupo de Investigação em Tecnologias Geoespaciais (GEOTEC) daquela universidade. Atualmente desenvolve aplicações com componentes de localização, no Centro de Investigação Algoritmi da UMinho.

Nos próximos tempos vê-se a ficar pelo Norte de Portugal. Considera Guimarães "muito bonita e tranquila", onde caminha quase todos os dias, além de apreciar a gastronomia. Contudo, Guimarães tem um terceiro fator com mais importância: a equipa científica é liderada por Adriano Moreira. "Este professor cativou-me desde que o conheci num evento no Canadá, onde pude comprovar que a sua equipa era muito boa e, depois, percebi que aqui tinha potencial para fazer coisas muito importantes”, contextualiza.
 
As bolsas individuais MSCA apoiam investigadores que se destaquem no espaço europeu. Têm como objetivo a formação de cientistas com os seus projetos individuais de excelência e que envolvam parceiros académicos e industriais. Para a chamada MSCA-IF 2020, a Agência de Execução para a Investigação, que gere estes programas da Comissão Europeia, recebeu 11.573 propostas de projetos e vai apoiar 1630 daqueles investigadores (14% de taxa de aprovação), num total de 328 milhões de euros. Portugal acolhe 34 dessas bolsas, num investimento superior a cinco milhões de euros.