“A sociedade deposita grande expectativa nos contributos da UMinho”

29-11-2021 | Pedro Costa | Foto: Nuno Gonçalves

Entrevista a Rui Vieira de Castro, que toma hoje posse para o segundo mandato como reitor desta academia.




Rui Vieira de Castro toma posse para o seu segundo mandato como reitor da Universidade do Minho. Licenciado em Ensino de Português e Inglês pela UMinho, mestre em Linguística Portuguesa Histórica pela Universidade de Lisboa e doutor em Educação pela UMinho, Rui Vieira de Castro ingressou na UMinho em 1983, onde veio a desenvolver quase toda a sua carreira profissional. Foi presidente da Associação Portuguesa de Linguística, dirigiu a Revista Portuguesa de Educação, foi consultor do Ministério da Educação e na Universidade do Minho foi vice-reitor para a Educação e vice-reitor para o Ensino e a Investigação. Em conversa com o NÓS, para lançar os próximos quatro anos, o reitor fala abertamente das preocupações que tem para a sua função. Fala no sucesso e crescimento da investigação da UMinho, para a qual se exige uma máquina administrativa mais ágil. Saúda o regime fundacional como aposta ganha, mas desafia a instituição para um debate em torno de uma eventual reforma institucional. Tendo o financiamento da instituição nas preocupações, denuncia um Orçamento de Estado que tem discriminado a UMinho, instituição para a qual tem fortes planos de investimento infraestrutural.
 

A Universidade
 
Acaba de concluir o seu primeiro mandato, num novo ciclo das suas funções, agora como reitor da sua universidade. Decorreu como gostaria? Que grandes desafios encontrou nestes quatro anos?
É impossível olhar retrospetivamente sem considerar aqueles que foram os efeitos inesperados da crise pandémica que se abateu sobre o mundo. Isso obrigou a uma reconfiguração do programa que tínhamos pensado para os quatro anos. Esse facto foi e está ainda a ser determinante. Obrigou-nos a uma alteração radical nos modos de funcionamento da instituição. O que tivemos que fazer, alterando as características de desenvolvimento da nossa oferta educativa, o impacto que teve na investigação, as dificuldades adicionais na relação com a sociedade, tudo foi significativo e alterou o que tínhamos pensado para a nossa atividade. E os impactos são de diversa natureza, pois houve prejuízos nos processos de aprendizagem dos nossos estudantes - e que estão a exigir uma resposta para a recuperação dessas perdas -, mas há também efeitos de uma outra natureza. A universidade viu aceleradas, de forma expressiva, aquilo que eram tendências que já se antecipavam. Tudo o que tem a ver com digitalização de processos, das iniciativas e das ações, já deixou marcas para o futuro.

Apesar da sua larga experiência, encontram-se sempre variantes que surpreendem. Que dinâmicas representaram novas abordagens à sua função?
Na verdade, a experiência já razoavelmente longa em funções de gestão de alto nível, dentro da universidade, prepara-nos de alguma forma. Mas é verdade que houve transformações e eu destacaria duas. No caso específico da investigação, é importante verificar como o conhecimento científico foi sendo cada vez mais interpretado como um fator muito relevante na economia portuguesa. Encontramos esta reflexão no discurso público – seja por agentes políticos, económicos ou outros. Significa um reconhecimento explícito do papel que as instituições universitárias podem ter nos desejáveis processos de transformação social e económico do nosso país e na nossa região. Isto está expresso num conjunto de iniciativas tomadas e na criação de novas oportunidades de interação entre as universidades e entidades externas, traduzindo-se num conjunto de programas que convocam as universidades para um papel mais ativo, designadamente em projetos de colaboração. Este não é propriamente um dado novo para a UMinho, mas diria que é reconfortante verificar que hoje se deposita uma grande expectativa naquilo que podem ser os contributos da universidade a este nível. Com novos produtos e novos processos com efeito transformador. Na educação também há uma mudança importante. Uma alteração que será importante e duradoura no modo como as universidades se vão posicionar no seu papel de entidades promotoras de educação superior. Começa-se a assistir - parece-me que com efeitos duradouros – ao surgimento de práticas orientadas para aquilo a que chamamos de formação ao longo da vida, que têm expressão em pessoas que regressam à universidade com vista a expandir ou a refazer as suas competências. É uma realidade nova, com uma maior presença de adultos ativos na instituição, ao que não é alheia a transformação nos contextos de trabalho.
 
A ligação institucional e conceptual à região, que se regista de forma indiscutível, é na sua opinião de uma importância crescente?
Julgo que estamos a evoluir nessa área e teremos que continuar a evoluir. Há uma expectativa da região relativamente ao papel que a universidade pode ter como intérprete fundamental de processos de transformação da própria região. Falamos de uma rede muito densa de relações e articulações com entidades públicas e privadas. Uma rede que exprime o que é projeto da própria universidade, mas também dá corpo a expectativas da região. Nós estamos a densificar as nossas relações com as autarquias, na perspetiva de criação e desenvolvimento de novos polos da universidade, como está a acontecer em Vila Nova de Famalicão, com o que temos em projeto em Esposende ou como, de uma forma nova e criativa, estamos a fazer na nossa Rede Casas do Conhecimento, que tem polos em vários municípios do Norte do país. Esta busca de impacto na região estrutura-se com outros atores. Desde logo, as empresas. A UMinho vem incrementando de forma significativa os projetos que desenvolve em articulação com grandes empresas da região, na perspetiva da geração de inovação e, por essa via, de aumento de riqueza e de criação de emprego qualificado. Aí, a UMinho tem um registo que nos enobrece. Quando verificamos que é a instituição universitária portuguesa que aparece em primeiro lugar, por exemplo, no registo de patentes, isso quer dizer que nesta relação resultam efeitos muito positivos. E não é só com as autarquias e as empresas que a universidade se relaciona. O que fazemos no quadro do sistema de apoio social às populações é de forma significativa e variada. Por exemplo, nos laboratórios colaborativos em que estamos envolvidos. O ProChild é um belíssimo exemplo de modus de intervenção com impacto social, ou o que fazemos no quadro da APsi - Associação de Psicologia, ou o que fazemos no quadro do P5 - Centro de Medicina Digital. São também bons exemplos. Há inúmeras iniciativas de uma instituição muito voltada para o exterior, buscando uma efetiva transformação da sociedade, da economia e da cultura, num caminho que a UMinho não pode abandonar e deve continuar na centralidade da sua atuação.
 
O financiamento das universidades continua na ordem do dia. Continua a estar este tema no seu centro de preocupações?
Tem que estar, necessariamente. Digo até que são preocupações que vêm aumentando. Houve uma opção tomada pelo Governo e pelas universidades que me pareceu justa, que permite alguma estabilidade e previsibilidade no financiamento, que foi a assinatura do contrato da legislatura. Prevê um aumento regular do financiamento do ensino superior, um dado novo e importante, que libertou o orçamento das universidades das cativações, que em anos anteriores tinham sido sujeitas às universidades. Mas, na verdade, isto ocorre num quadro de subfinanciamento generalizado, particularmente num determinado grupo de universidades. Recordo que o financiamento da UMinho através do Orçamento de Estado corresponde a uma percentagem anualmente atribuída ao Ensino Superior que foi fixado em 2009. Nessa altura aplicou-se uma fórmula e essa percentagem, que se tem mantido ao longo dos últimos 12 anos, tem prejudicado a UMinho. Esta instituição cresceu, só nos últimos quatro anos houve mais 1000 estudantes. A universidade viveu a qualificação dos seus docentes, o aumento da massa salarial, opções que tomou quanto a determinados cursos que são exigentes a nível financeiro, mas depois este crescimento não tem efeito no financiamento da instituição. A UMinho recebe hoje do Orçamento de Estado 68 a 70 milhões de euros, mas deveria receber, pelo menos, mais 10 milhões sobre esse valor. Pela primeira vez, este ano, na preparação do Orçamento de Estado para 2022, foi reconhecido que havia instituições que estavam a ser objeto de uma diferenciação negativa. E o orçamento negociado previa um sentido de recuperação desta diferença. Infelizmente, aconteceu o que aconteceu com o orçamento e regressamos a uma espécie de “ponto zero”, esperando que toda a discussão produzida não caia em “saco roto” e este reconhecimento se mantenha nos orçamentos futuros. Por outro lado, a UMinho tem no seu orçamento uma componente importante que decorre da atividade de investigação. Em determinados momentos supõe um adiantamento de financiamento por parte das universidades com posterior reembolso. O que estamos, lamentavelmente, a verificar é que as entidades financiadoras são extremamente lentas nos reembolsos à universidade, colocando-a muitas vezes em situação difícil, com impactos evidentes no seu funcionamento.
 
No seu primeiro mandato viveu as alterações substanciais introduzidas no modelo fundacional. Concluiu as etapas previstas? Que novas fases conhecerá a UMinho neste particular?
Por determinação legal tivemos que fazer este ano uma avaliação dos resultados da aplicação do regime fundacional da Universidade do Minho. Proporcionou uma reflexão interna importante, com testemunhos de vários setores. Foi com agrado que constatei que os órgãos da universidade decidiram reafirmar a sua vinculação ao regime fundacional. É um regime que, no modo como tem vindo a ser concretizado, ficou bastante aquém do que tinha sido inicialmente anunciado. Mas, ainda assim é verdade que o facto de nós termos uma autonomia reforçada na gestão dos nossos recursos humanos, ou na gestão do nosso património, são vantagens importantes. Mas o regime fundacional não veio resolver todos os nossos problemas, que estão muito para lá do que este regime pode resolver sobretudo nesta versão mitigada que é aquela que hoje temos. O que me parece é que aquilo que se impõe à instituição é uma contínua reafirmação do valor da autonomia e de uma busca – que não é fácil – do alargamento da autonomia da própria instituição. Mas também gostava de trazer um outro aspeto, que se prende já com decisões do foro mais interno, que não decorrem das grandes opções que estão expressas no regime fundacional. A Universidade do Minho é uma instituição que tem uma forma de organização que bebe muito daquele que foi o seu modelo originário, um modelo que na universidade nos habituamos a designar de modelo matricial. Este modelo requer da parte dos órgãos principais de governo da instituição uma presença muito forte em variados níveis de decisão. Quando olho para as nossas múltiplas unidades, para a forma de relação dessas unidades e como exprimem o seu papel, parece-me que há razões que justificam que nós repensemos a nossa organização interna e que encaremos a possibilidade de uma reforma institucional. Na verdade, olhando as nossas unidades orgânicas – porque é nelas que se materializa a essência da própria universidade – percebe-se como se tornaram muito complexas. As unidades orgânicas desenvolvem um conjunto vastíssimo de projetos, têm recursos humanos expressivos, estão confrontados com desafios que exigem respostas muitas vezes imediatas, que, do meu ponto de vista, são cada vez menos compatíveis com o modelo de decisão centralizado, que é característico da Universidade do Minho. Foi na sequência desse diagnóstico que previ na orgânica da nova equipa reitoral um pelouro orientado para a simplificação administrativa e para a reforma institucional, querendo com isto também confrontar a universidade com o repensar da sua organização. A pergunta é: A organização que temos hoje é aquela que melhor serve as respostas que temos que dar aos desafios e às expectativas com que estamos confrontados? Eu tenho dúvidas sobre isso. Por isso nos últimos dois anos desenvolvi um conjunto de iniciativas de celebração de contratos programa entre a universidade e as suas unidades orgânicas, no sentido de alargar o espaço de autonomia dessas mesmas unidades. Este é um exercício difícil e exigente, que requer um envolvimento dos órgãos, das pessoas, mas que é fundamental para que a Universidade do Minho possa dar um salto e possa romper com alguns bloqueios que decorrem deste desajustamento entre aquele que é o seu modelo organizacional e o tipo de exigências a que tem que responder.


O Ensino
 
O crescimento em número de alunos continua a estar nas prioridades da reitoria?
Na verdade, quando a universidade desenhou o plano estratégico que agora foi encerrado previa um crescimento de alunos até aos 25.000 estudantes. A Universidade do Minho cresceu a vários níveis, no número de estudantes de graduação e pós-graduação, nos estudantes internacionais, começou a desenvolver um programa de formação à distancia que também nos trouxe estudantes, mas eu diria que a universidade tem ainda alguma margem de crescimento. A nossa região continua a ser ainda objeto de alguma drenagem dos nossos estudantes – o que não é necessariamente mau, desde que nós sejamos capazes de compensar com o recrutamento de estudantes dessas outras regiões – e eu diria que essa meta dos 25.000 estudantes não é hoje uma meta decisiva. O reforço da captação de estudantes internacionais – e eles representam 14% da nossa comunidade – é algo que temos que garantir e temos que, sobretudo, ser capazes de trazer novos estudantes que não os estudantes tradicionais. É o caso das pessoas que estão ativas, que estão desenvolver a sua atividade profissional e que têm necessidade de repensar os seus conhecimentos e competências. É para aí que devemos direcionar as nossas preocupações. No âmbito das iniciativas que foram abertas no âmbito de Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), a nossa aposta foi muito feita neste sentido. Propusemos e vimos financiado um programa muito ambicioso de mais de 100 cursos de curta duração, não conferentes de grau, que serão articulados em colaboração estreita com empregadores e que irão trazer novos tipos de estudantes à UMinho.

No plano da internacionalização, de que forma a universidade pode potenciar o intercâmbio num contexto pandémico difícil como o que temos vivido?
É verdade que sofremos aqui um forte revés importante, naquele que era um caminho que vínhamos desenvolvendo no número crescente de estudantes internacionais na universidade. Eu diria que as dificuldades maiores decorreram mais nos estudantes de mobilidade do que nos estudantes internacionais. A verdade é que o nosso país, a nossa região e as nossas cidades têm uma grande capacidade de atração de estudantes estrangeiros e isso de alguma forma propicia uma captação de novos estudantes. Eu não creio que essa tendência seja severamente afetada, apesar desta turbulência neste ano e meio. Creio que vamos recuperar o caminho que vínhamos seguindo, porque a universidade tem qualidade, a região é atrativa e o país proporciona um contexto atrativo para pessoas de outros países. Onde poderá haver um efeito mais permanente será na mobilidade, pois enquanto a situação sanitária não estiver mais estabilizada, com estas sucessivas vagas, teremos sempre a representação de algum risco associado. As próprias agências europeias têm vindo a encarar novas modalidades de concretização da internacionalização, procurando experiências presenciais com experiências digitais, sendo certo que não podemos, em caso algum, perder de vista uma experiência de mobilidade, com uma instituição estrangeira, como fator de enorme enriquecimento e enorme capacitação dos nossos estudantes. Haverá ainda algumas indefinições, um caminho novo a fazer, mas eu espero que, pelo valor intrínseco que reconheço à mobilidade estudantil, que nós possamos retomar a mobilidade de estudantes com a energia que a caracterizou.
 
Prevê o crescimento da UMinho, no sentido de se tornar uma universidade ainda mais completa? Se sim, que planos tem neste sentido?
Sim. Eu tenho a preocupação de reafirmar essa natureza da universidade completa, pois a Universidade do Minho não se quis especializar em determinadas áreas de formação, antes teve um olhar mais holístico sobre as áreas de intervenção na educação. É isso que temos vindo a fazer, evidentemente estando atentos a oportunidades que surjam nas áreas mais clássicas de formação, mas sempre atentos ajustando a nossa oferta educativa ao aparecimento a novas temáticas, novas problemáticas e novas necessidades. Implica por parte da Universidade do Minho uma contínua atenção, sobre o que nos vai sendo socialmente solicitado. É certo que quanto à oferta educativa a universidade não pode procurar contínuo ajustamento à procura, pois tem que manter certas áreas de formação, independentemente da procura, pois ela também é depositária de saberes e deve ser capaz de converter esses saberes em iniciativas de formação. Julgo que temos conseguido gerir de uma forma adequada esta tensão. Um sinal disso são as decisões tomadas em avançar para uma nova licenciatura em engenharia aeronáutica e proximamente, a ser trabalhada já, uma licenciatura em Ciência de Dados. Sim, a universidade não esquece as suas áreas de educação – e são vastas – olhando sempre para o que a sociedade vai exigindo da instituição.

  
A Investigação
 
Onde podemos explorar mais a relação para o apoio à ciência portuguesa? O Estado português pode fazer mais, ou os fundos estruturais, como, por exemplo o PRR, continuarão a ser a grande oportunidade?
Quanto aos instrumentos de financiamento, o que a Universidade do Minho faz é estar atenta a todas as possibilidades, seja as dos programas nacionais, seja das entidades privadas, ou das formas políticas da União Europeia. No conjunto dos 600 projetos que se desenvolvem neste momento na universidade são objeto de financiamento por múltiplas entidades e esta pluralidade de instrumentos é para nós essencial. Naturalmente gostaríamos que a aposta no financiamento da investigação por parte do Estado português fosse mais significativa. É evidente que nas políticas públicas nos últimos anos houve uma grande – e justa – preocupação com o emprego científico, que faz face à precariedade em que tínhamos muitas pessoas que continuam a dar importantes contributos na ciência portuguesa. Mas esta aposta não tem tido correspondência suficiente na criação de condições para que estes nossos recursos humanos possam dar expressão à sua qualificação. Nomeadamente, os concursos promovidos pela FCT são claramente insuficientes no volume financeiro que lhe está subjacente àquilo que a comunidade científica portuguesa solicita. Nós temos taxas de aprovação de candidaturas incompreensivelmente baixas, face ao número de projetos de qualidade com que a FCT vai sendo confrontada. Este reequilíbrio entre as preocupações com o emprego científico, mas também com a criação de condições para que esse emprego possa ter expressão é algo que gostaria de ver acontecer nos próximos anos. Senão corremos o risco de termos pessoas e não termos projetos. Um outro aspeto, neste pano de fundo, a Universidade do Minho tem vindo a ter forte expressão na captação de projetos. Mas para que possamos corresponder a esta energia criativa dos nossos investigadores há dimensões da nossa organização que têm que ser significativamente revistas. Há ideia – que me parece justa – dos nossos investigadores de que a nossa universidade deveria ser muito mais ágil, no modo como lida com os processos inerentes à investigação, devendo ser mais expedita e simplificadora desses processos. Essa é uma lição muito importante que retiramos nos últimos dois a três anos, porque a universidade teve muito sucesso na captação de investimento para investigação e a nossa máquina administrativa não estava preparada para lidar com este crescimento.
 
Depois há os fatores de competitividade vinda de fora, pois muitas vezes os recursos não acompanham o talento que temos. Como combater isto?
O grande desafio é de captar e manter entre nós os melhores investigadores. Nós surgimos bem posicionados, seja em rankings internacionais, seja em listas de investigadores, mas o desafio maior que se nos coloca é manter connosco as pessoas. Temos que criar boas condições, a instituição tem que ser amigável e proporcionar as melhores condições, desde logo a  estabilidade das relações – tenho assumido procurar encontrar formas de evitar uma drenagem previsível se nada for feito, daqui a  dois out três anos – a universidade ser capaz de garantir as condições para um desenvolvimento fluido da atividade de investigação é também uma condição importante; o suportar  a atividade dos nossos investigadores através de estímulo é algo que temos que levar a cabo.

 
As Infraestruturas 
 
E os recursos infraestruturais nos atuais campi, terão necessidade de upgrade’s de grande dimensão?
Comecemos pela história recente. Não é uma história feliz, pois há mais de uma década de que não dispomos de instrumentos que permitam atender a uma necessidade evidente: a conservação e melhoria do nosso edificado. As intervenções que temos feito são limitadas. Nós temos infraestruturas pedagógicas que dificilmente atendem às expectativas dos alunos que chegam. É muito evidente a necessidade de melhorarmos as nossas infraestruturas físicas e de as expandirmos. Com o crescimento que tivemos, por exemplo, na investigação, o número de investigadores criou uma necessidade de novos espaços que estamos desesperadamente a procurar resolver, reorganizando os nossos edifícios. Outro caminho foi a constituição de novos polos da universidade, mas a questão de fundo permanece. E a perceção da importância desta questão teve uma expressão clara da candidatura que fizemos ao PRR, onde alocamos um valor significativo à intervenção na infraestrutura física. A própria infraestrutura tecnológica, os nossos sistemas de comunicação, a nossa capacidade de alojamento de informação, os instrumentos necessários ao desenvolvimento de investigação, estão claramente aquém das que são as novas necessidades. Também por isso fizemos uma aposta grande no quadro da candidatura, que ficará um pouco aquém, mas que pela primeira vez nos permitirá dispor de alguma capacidade financeira para intervir na infraestrutura física e na infraestrutura tecnológica. Mas temos outras ambições. E queria trazer a questão das residências, a comunidade estudantil está a enfrentar dificuldades e já devia ter saído o aviso no âmbito do PRR. Nós estamos a trabalhar nos projetos, mas esta é uma absoluta necessidade. Temos outros projetos importantes, seja o projeto do centro multimédia, seja o projeto Digital Technichal Center, que são importantes e para os quais achamos que vamos obter financiamento. Houve momentos em que se pensou que talvez não houvesse a necessidade de apostas significativas em infraestrutura física. Julgo que o crescimento da universidade veio demonstrar o contrário e de termos sempre em perspetiva a questão da infraestrutura.
 
Um dos problemas que o ensino superior vive é mesmo o problema do alojamento. Que timings e oportunidades temos num espaço de tempo que se deseja curto?
Nós temos tempos muito curtos quanto a esta matéria. A ser como está anunciado e previsto, que esta necessidade seja resolvida no contexto do PRR, nós temos 4 anos pela frente. Até 2023 temos que ter comprometido o financiamento que viermos a obter. Pela nossa parte temos os edifícios identificados, temos planos e pré-projectos e estamos pura e simplesmente à espera de que sejam definidos os instrumentos que nos permitam materializar esta aspiração. Custa-me ver como tudo vai sendo diferido e todos temos consciência do esforço enorme que hoje a construção de qualquer edifício pressupõe, pela enorme turbulência que o setor está a viver. Há riscos de concursos ficarem desertos e isso seria dramático.

Ao nível de património da Universidade do Minho, nomeadamente património histórico e cultural, que planos tem em mente para este mandato?
Primeiro objetivo, a manutenção dessa área de intervenção como área estruturante e essencial da vida da universidade. Quando falamos de cultura, de património e projetos de intervenção nestes domínios não estamos a falar de uma atividade assessória. Ela é estruturante e assim tem que ser. A Universidade do Minho tem unidades culturais que prestam vários serviços, orientados para vários setores da população. Serviços de preservação de património, de disponibilização para usufruto, ou mesmo iniciativas de criação de condições de acesso aos bens culturais. Quando nós consideramos um conjunto de projetos que temos desenvolvido, por exemplo no Convento de S. Francisco, em Braga, ou na Ínsula das Carvalheiras, ou projetos de intervenção em outros concelhos, desde Boticas, até aos Arcos de Valdevez, nós percebemos como a universidade tem aqui um papel quase insubstituível, na recuperação de património e na devolução desse mesmo património às populações. Aqui no Largo do Paço temos uma Galeria, que foi criada recentemente pela universidade, que apesar da pandemia, foi capaz de poder continuar a protagonizar um papel que, do meu ponto de vista, se vai tornando insubstituível no quadro da atividade cultural da cidade de Braga e da região. E as Casas do Conhecimento, uma rede há muito estabilizada que permite a geração e a difusão de um conjunto vasto de conteúdos, que permitem que a universidade chegue a vários lugares e espaços do nosso território.