“A UMinho traçou, em grande escala, a pessoa que sou hoje”

23-12-2021 | Paula Mesquita

Coordena, desde 2018, o Gabinete de Internacionalização da Escola de Engenharia da UMinho, no campus de Azurém, em Guimarães (foto: Diogo Cunha)

Sofia Pereira (ao centro) terminou a licenciatura em Ciências da Comunicação em 2009 e, no mesmo ano, iniciou o mestrado (foto: Nuno Gonçalves)

Esteve na equipa (camisola nº 3) vice-campeã de futsal feminino no Troféu Reitor em 2008/09 (foto: Nuno Gonçalves)

A oportunidade de trabalho nos Serviços de Relações Internacionais “tornou-se uma experiência maravilhosa”, confessa Sofia (foto: Nuno Gonçalves)

Apoia atualmente a cooperação internacional da Escola de Engenharia da UMinho, reforçando a atratividade e o posicionamento externo da instituição (foto: Diogo Cunha)

Através da associação MEERU, acompanha voluntariamente uma família síria a residir em Braga, facilitando a sua integração social e a adaptação a Portugal

Reunião com voluntários do Zajel Youth Exchange Program, durante uma visita institucional à Universidade Nacional An-Najah, na Palestina, em 2019

O seu desejo de Natal é que cada um possa contribuir “para deixar o mundo melhor do que aquele que encontrou” (foto: Diogo Cunha)

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Sofia Barbosa Pereira

Nasceu no Porto há 34 anos e coordena o Gabinete de Internacionalização da Escola de Engenharia. Veio para a UMinho estudar Ciências da Comunicação, iniciando uma “viagem” que lhe mudou o rumo profissional, a moldou enquanto pessoa e lhe proporciona emoções fortes.



Estudou Ciências da Comunicação na UMinho. Porquê?
Apesar de sempre ter preferido a Matemática e as Ciências Exatas, desde pequena que me lembro de ficar maravilhada com as histórias e modo de vida de um tio jornalista. Essa inspiração cruzou-se com os meus gostos, bastante multidisciplinares, e acabou por ditar a escolha do curso. A decisão pela UMinho já foi mais repentina, pouco tempo antes do período de candidatura, em 2005, quando soube que o curso de Comunicação Social da UMinho tinha sido classificado como o melhor do país nessa área! [sorriso]

Como foram os seus anos de estudante?
A minha aventura foi como começa o Hino da UMinho: uma “viagem”! [sorriso] De conhecimento, de partilha, de aprendizagens e, sobretudo, de amizades. Guardo todas as horas que passei a sonhar com pessoas que se tornaram amigas para a vida. Vivi alguns dos melhores, e também dos piores, momentos da vida e, por isso, dos mais importantes. A UMinho traçou, em grande escala, a pessoa que sou hoje e por isso sou muito grata a esta ‘casa’. Foram especiais o primeiro dia na UMinho e os momentos de despedida. Um misto de alegria, mas também de um saudosismo antecipado e de uma tristeza pelo fim de uma etapa, que já saberia ser tão única. Certeira é a Balada da Despedida: “Capa negra de saudade/ No momento da partida/ Segredos desta cidade/ Levo comigo p'rá vida”.

Começa uma nova etapa e com ela vêm decisões e oportunidades.
No final da licenciatura tive uma breve passagem pela TVI, que interrompi, porque optei por frequentar o mestrado em Ciências da Comunicação, também na UMinho. Já no final do mestrado, iniciei a carreira no Grupo Cofina, tendo colaborado com o Correio da Manhã, a CM TV e o jornal Record. Durante essa experiência percebi que tinha errado na escolha do curso e não me imaginava a trabalhar na área o resto da vida. Decidi mudar e em 2013 voltei à UMinho, para ocupar uma vaga nos SRI - Serviços de Relações Internacionais [atualmente, Serviços de Apoio à Internacionalização], no campus de Azurém, a que me tinha candidatado. Esta oportunidade mudou toda a minha vida: encontrei algo que me preenchia e que adoro! [sorriso]
 
Meio caminho para ser feliz.
Com o tempo tornou-se uma experiência maravilhosa, principalmente pela oportunidade de conhecer pessoas e culturas de todo o mundo, algo tão essencial ao nosso crescimento, enquanto seres humanos. É gratificante saber que de alguma forma influenciamos e ajudamos a vida de estudantes que procuram uma oportunidade. Alguns deles são provenientes de países com condições de segurança e/ou económicas muito desfavoráveis e estas oportunidades podem significar uma mudança radical de vida. É nessas alturas que percebemos não só a sorte que temos como também o nosso dever por fazer deste mundo um lugar mais justo. Conheci pessoas com histórias de vida incríveis, de sobrevivência, de superação e de muita força interior. Marcaram-me também as pessoas do serviço, desde a responsável na altura, Adriana Carvalho, a quem devo muito do que sei hoje e me preparou para um mundo de trabalho exigente, como muitas das colegas, que tanto me ensinaram e com quem partilhei momentos, conhecimento e experiências.

Como foi o seu percurso pelos SRI?
Desempenhei apoio à coordenação e acompanhamento de iniciativas de internacionalização do ensino na UMinho, especialmente no âmbito do Programa Erasmus, ao nível da mobilidade de estudantes e de pessoal docente e não docente. Prestei apoio à submissão de candidaturas a projetos europeus de cooperação e, durante algum tempo e considerando a minha formação de base, acumulei a responsabilidade de gerir as atividades de comunicação do Serviço.

Foi essa experiência que a levou, em 2018, a uma nova oportunidade.
Foi-me proposto criar e coordenar o Gabinete de internacionalização (GI) da Escola de Engenharia, para apoiar e desenvolver a cooperação internacional desta Escola, reforçando a sua atratividade e posicionamento internacionais e fortalecendo a política de internacionalização. As minhas funções no GI são muito diversas. Trato de tudo o que tenha que ver com a internacionalização da Escola, desde elaboração e implementação do Plano Estratégico de Internacionalização, apoio à elaboração e implementação de acordos de cooperação internacionais, organização e follow-up de visitas de delegações estrangeiras, prospeção de potenciais parceiros internacionais em articulação com a Presidência, entre outros.  Estou, atualmente, a participar como membro de equipa na implementação de dois projetos europeus: o DS&AI, com parceiros europeus e asiáticos, no qual represento a UMinho no Quality Board; e o SMART-QUAL - Structured indicators to manage HEI Quality Systems, sendo esta, dentro das minhas funções, a minha grande paixão.

Também faz voluntariado na MEERU | Abrir Caminho. Que importância tem esta associação para os refugiados?
Tem como missão principal assumir o diálogo e a proximidade como o caminho para o desenvolvimento de comunidades, acreditando numa visão integrada do desenvolvimento humano e social sustentável. Focando-me no projeto em que participo, o MEERU Aproxima, pretende-se combater o isolamento social de famílias migrantes, refugiadas e requerentes de asilo. Este projeto presta apoio permanente junto das famílias, ao longo de oito meses, através de visitas semanais e momentos de convívio. É expectável que as famílias atinjam a autonomia e plena inclusão na sua nova vida em Portugal. Queremos também sensibilizar a comunidade para a importância do acolhimento de novas pessoas, culturas e religiões.

Como se sente ao “oferecer” o seu contributo?
Assim que passei o processo de seleção na MEERU | Abrir Caminho, fiquei, com mais quatro voluntárias, a acompanhar a família síria Totah, que reside em Braga. A partilha, a conexão e os laços que se criam são valiosos e compensam todos os esforços que fazemos no dia a dia para conseguirmos estar por perto, num mundo que vive a um ritmo tão apressado e com tempo tão limitado. A família é composta por um casal e quatro filhos, que têm entre 2 meses e 6 anos de idade. O objetivo é simplesmente ajudarmos na sua integração social e na adaptação ao modo de vida em Portugal. Fazemos visitas, damos passeios, brincamos, ajudamos nas coisas básicas do dia a dia e, acima de tudo, partilhamos muitos momentos, histórias, vivências e experiências. O brilho nos olhos e o abraço caloroso da família, em especial das crianças é de derreter o coração a cada visita!

Deveria a sociedade estar mais disponível para a questão das desigualdades?
Sem dúvida. Boa parte da sociedade ainda vive numa realidade que, de tão alheia e distante, é insensível às desigualdades. Falta a capacidade – ou a vontade – de nos colocarmos no lugar do outro, de percebermos que estas pessoas fogem do seu país por sobrevivência e que nós, numa situação como a deles, faríamos exatamente o mesmo para conseguirmos dar segurança e uma vida digna aos nossos filhos e a nós próprios. Há toda uma série de decisões políticas do passado que, em muitos casos, levaram estes países ao ponto em que estão hoje, pelo que temos a nossa quota de responsabilidade. Assim, importa também assumirmos um papel na resolução destes conflitos e reconhecer que o acolhimento destas famílias é e continuará a ser uma realidade, transformando este fenómeno numa oportunidade e não num problema.
 
A quadra Natalícia abre mais os corações?
É propícia a que estejamos mais sensíveis e abertos a estas questões. Mas de que vale se, no resto do ano, continuarmos a fechar os olhos? Não temos de ser todos sensíveis às mesmas causas, até porque não existem causas mais válidas que outras. O que eu gostava, e faço deste o meu desejo de Natal, é que cada um tirasse um pouco do seu tempo para pensar naquilo que pode fazer durante a sua vida para deixar o mundo melhor do que aquele que encontrou. Temos de deixar de viver tão focados em nós e nos nossos problemas. Por vezes, nem se podem chamar de problemas! Se cada um fizer algo, por pouco que seja, já contribui. Se todos contribuirmos, sei que não vamos mudar o mundo, mas iniciamos a mudança e procuramos equilibrar a balança.
 
Frequenta o doutoramento em Desenvolvimento Regional e Integração Económica. A escolha resume os seus ideais e preocupações ou quer desenvolver novas ferramentas de trabalho?
Acho que agrega ambos os propósitos. A temática dos meus trabalhos de investigação recairá sobre o desenvolvimento de um sistema de gestão de qualidade europeu para a integração socioeconómica de refugiados e de requerentes de asilo na Europa. Será, sem dúvida, uma forma de obter ferramentas que me serão muito úteis no trabalho, mas conseguirei conciliar com o propósito que assumo como missão de vida: contribuir para um mundo mais justo, por mais insignificante que esse contributo possa parecer. Como diz Valter Hugo Mãe num dos seus livros: “Para mudar o mundo, sei bem, é preciso sonhar acordado. Apenas os que desistiram guardam o sonho para o tempo de dormir”.



Inspirações e espírito de missão

Um livro. “O Livro do Desassossego”, de Fernando Pessoa.
Um filme. “Into the Wild”, de Sean Penn, pela coragem e inspiração.
Uma música. Tantas! Desta vez, escolho Strawberry Fields Forever, dos The Beatles, que se adequa ao que aqui falamos: “Living is easy with eyes closed, Misunderstanding all you see”.
Uma figura. Optando por alguém ligado ao conhecimento, Leonardo da Vinci, um dos mais completos artistas de todos os tempos.
Um passatempo. Jogos de tabuleiro, puzzles e sudoku (entre tantos outros!).
Um prato. Polvo à Lagareiro e, basicamente, todos os pratos tradicionais portugueses.
Uma viagem. Médio Oriente: quero visitar todos os países.
Um momento. Boiar, de olhos fechados, enquanto sinto o sol; não há maior paz.
Um vícioOverthinking.
Um defeito. Demasiado exigente comigo e com os outros.
Um sonho. Além de conhecer o mundo, dedicar a vida a fazer voluntariado na Palestina.
Um lema. “The more you live the less you die”, Janis Joplin
A UMinho.  A minha casa do conhecimento, de experiências e de tantos sentimentos.