Depois da tempestade, virá a bonança?

31-05-2022

Duarte Lopes

Esta é uma excelente oportunidade para os decisores políticos olharem o Ensino Superior como instrumento para a inovação e o crescimento económico. Não podemos adiar mais reformas e investimentos que são estruturais. Esta reivindicação deve ser não só dos estudantes, mas de todos os portugueses. Por um país mais sustentável e sobretudo mais justo!



"The parties were bigger. The pace was faster, the shows were broader, the buildings were higher, the morals were looser and the liquor was cheaper.” Este excerto retirado do romance O Grande Gatsby, de Francis Scott Fitzgerald, retrata a famosa década histórica dos “loucos anos 20”, que sucedeu um conturbado período de restrição da liberdade e da normalidade. Poderia, no entanto, ser facilmente adaptado ao momento que hoje vivemos, numa fase em que superamos - até mais ver - as restrições às liberdades individuais e da anormalidade que afetou o nosso quotidiano.

Ultrapassados dois anos, assinalados pelo combate intenso à pandemia Covid-19 e pelos períodos de confinamento, importa refletir sobre os tempos de adaptação e renovação na vida dos estudantes universitários e o impacto que certamente os últimos anos terão na forma que encaramos a vida, a convivência social, bem como o investimento na educação e no Ensino Superior.

A recente retoma da normalidade significa, para uma parte considerável dos estudantes, estar à descoberta. Descobrir, para além do conhecimento e investigação, as várias experiências extra letivas que o Ensino Superior tem para oferecer, abrindo portas ao associativismo estudantil, ao desporto universitário, à cultura e aos grupos culturais da academia, à mobilidade internacional e às festividades académicas. 

Não obstante, estes últimos tempos - onde a distância foi uma realidade e onde foi necessário apressar a transição digital das instituições de Ensino Superior - deixaram não só marcas ao nível do distanciamento e transição digital, como também permitiram tornar ainda mais visíveis as desigualdades que existem no seio do Ensino Superior, os problemas crónicos que afetam as academias e a enorme necessidade do reforço do investimento na educação em Portugal.

Acredito que é importante fazer das dificuldades uma ocasião para aprender e para nos reinventarmos. E este momento pode ser uma excelente oportunidade para que os decisores políticos olhem para o Ensino Superior como um instrumento para a inovação e crescimento económico do nosso país. Porque, se há cem anos o progresso e prosperidade se media pelos “higher buildings”, hoje é indiscutível que um país com futuro não pode arredar das suas prioridades de investimento a educação.

Não podemos adiar mais reformas e investimentos que são estruturais para o progresso do nosso país. E esta é uma reivindicação que deve ser não só dos estudantes, mas de todos os portugueses. Por um país mais sustentável e sobretudo mais justo!
 
 
Presidente da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUMinho)