UMinho estreia-se na Fórmula 1 universitária

31-05-2022 | Nuno Passos

Estudantes da FSUMinho, na nave prinicipal do campus de Azurém, em Guimarães (foto: Nuno Gonçalves)

Há alunos das áreas de engenharia mecânica, eletrónica, de materiais, biológica, informática, de gestão industrial e de gestão de sistemas de informação (foto: Nuno Gonçalves)

Retrospetiva virtual do trabalho desenvolvido até ao momento

A JIG é uma estrutura básica em madeira para simulação da posição do piloto e teste ergonómico dos componentes

O projeto está presente na comunidade e tem apoiado a Hermes Racing, do Agrupamento Escolar João de Meira (Guimarães)

Jornadas de Engenharia Mecânica da UMinho com representantes de equipas nacionais, em março de 2022, em Guimarães

O diálogo com equipas nacionais estimula o trabalho; na foto, momentos de preparação da FST Lisboa, que em 2013 tinha sido apoiada pelo PIEP da UMinho nos componentes e no chassis em carbono

O bólide da alemã GreenTeam Uni Stuttgart, uma referência na modalidade

Vista geral de um grande prémio de Formula Student

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Criar um protótipo elétrico, aumentar as soft skills e interligar a indústria são as metas iniciais de 32 alunos da Escola de Engenharia.




A Universidade do Minho está a dar os primeiros passos na Formula Student, disputada anualmente por equipas de estudantes do ensino superior em circuitos famosos de todo o mundo. A chamada FSUMinho junta 32 alunos de vários cursos, que vão preparar as bases para concorrer em 2023 com um protótipo elétrico virtual, além de aumentarem as soft skills e cativarem apoios da indústria. A iniciativa conta com o apoio da Pró-reitoria para os Projetos Especiais, da Escola de Engenharia, da Associação Académica e de nove núcleos estudantis (AIS.SC, CeSIUM, GAEB, NAMecUM, NEEB, NEEGIUM, NEEEICUM, NEEMAT, NEFUM).
 
Foi o ex-presidente do Núcleo de Alunos de Engenharia Mecânica, João Abreu, a lançar a ideia aos colegas Diogo Cunha e Paulo Leão. Os dois fundaram a FSUMinho em 2021, encetaram o recrutamento e formaram as quatro secções: Body (chassis, suspensão, aerodinâmica); ECU (eletrónica, controlo, software); Power train (transmissão, motor); e Management (recursos humanos, comunicação, marketing). “A Formula Student é para quem faz licenciatura ou mestrado, logo eu e o Paulo somos finalistas de Engenharia Mecânica e já não trabalharemos no protótipo final, mas é ótimo contribuirmos para o início de algo maior”, sorri Diogo Cunha. “Estamos a preparar estratégias e dossiês que facilitem a transição entre gerações de alunos que entram e saem, um problema que outras equipas sentem”, salienta.
 
A FSUMinho está sediada em frente ao Espaço Recurso do campus de Azurém, em Guimarães, numa área cedida pela Reitoria. A equipa tem avançado pormenores técnicos de bateria, pneus e botões do volante. Construiu ainda uma estrutura básica do cockpit, em madeira, para aferir dados ergonómicos como a posição do piloto, da coluna de direção, do volante e dos pedais. “Vamos aplicar todos os conhecimentos adquiridos e, em breve, precisaremos de investir em peças e materiais, equipamentos, formações, inscrições, deslocações...”, admite o responsável.
 

Projeto multidisciplinar

As equipas alemãs têm parcerias de construtoras como Porsche e Volkswagen. A realidade lusa é diferente. “O Técnico tem 20 anos de experiência e cerca de 300 mil euros por ano para este fim; para começarmos a sério, precisamos pelo menos de 40 mil euros”, justifica Diogo Cunha, para continuar: “Ainda não temos o protótipo do bólide para as empresas saberem onde a sua publicidade ficará no veículo e o que podem ganhar, logo esta fase é a mais difícil para as captar”. A FSUMinho já garantiu a colaboração inicial de interfaces da UMinho como a Fibrenamics e o PIEP - Polo de Inovação em Engenharia de Polímeros.
 
A equipa decidiu criar de raiz um monolugar elétrico de 250kg, recusando um de combustão, por ser “desafiante” e “virado para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU”. Cada equipa valoriza um critério a cada ano e o escolhido no Minho foi “robustez”, ou seja, não pensar num bólide ultraleve e veloz, mas sim seguro e firme, para em 2023 se pensar na performance. Por questões logísticas, a FSUMinho tem apenas alunos da Escola de Engenharia, desde as áreas de mecânica, eletrónica, materiais, biológica, informática, gestão industrial e gestão de sistemas de informação. Mas no início do próximo ano letivo deve abrir-se a mais cursos da UMinho, como Marketing e Gestão, face aos custos avultados associados e para competir já em circuitos próximos, como Barcelona (Espanha) e Parma (Itália). “Não é por ser de Mecânica que sei construir um carro e, às vezes, grandes ideias surgem de outsiders, por isso todos são bem-vindos e, como grupo, cremos que faremos a diferença”, admite Diogo Cunha.
 


Retrospetiva virtual do trabalho desenvolvido até ao momento



O que é a Formula Student?
 
É uma competição automóvel entre universidades mundiais, em que a conceção, o desenho e o fabrico de um veículo tipo Fórmula envolve apenas alunos. Surgiu em 1978 nos EUA, como Formula SAE, e a versão britânica Formula Student nasceu em 1998, organizada pelo Instituto de Engenharia Mecânica (Reino Unido), com a parceria da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (EUA). As provas ocorrem em pistas como Silverstone, Hockeinheim (Alemanha) ou da Fiat (Itália). A filosofia é construir os melhores carros e estimular soluções tecnológicas inovadoras, dentro de um apertado orçamento e das regras complexas das provas sob a égide da Federação Internacional de Automobilismo (FIA).
 
“Veja o esforço de milhares de horas de profissionais na Fórmula 1; aqui é igual, mas à nossa escala”, diz Diogo Cunha. Há três classes: 1 (apresentação dinâmica do veículo), 1A (veículo movido a energias alternativas) e 2 (protótipo quase construído). As provas estáticas avaliam custos, apresentação e design; as provas dinâmicas pontuam aceleração, autocross, economia de fuel e endurance. Os protótipos de combustão em geral têm propulsores de mota até 615cc e podem acelerar aos 100km/h em 4 segundos e superar os 150km/h. O peso é de 170 a 300kg com piloto, quer se opte pelo motor monocilíndrico leve ou pelo potente quatro cilindros. A nível nacional há sete equipas: Técnico, Politécnico de Lisboa, Leiria, Coimbra, Aveiro, Porto, Minho. A possibilidade de criar um campeonato português "está ainda longe”.
 

 
Leclerc ou Verstappen?
 
A atualidade da Fórmula 1, tal como a da Fórmula E, é omnipresente nas conversas da equipa FSUMinho. No final de 2021, houve até uma votação interna para apostar quem seria então o campeão de F1. A maioria acertou ao apontar o neerlandês Max Verstappen (Red Bull), que superou o heptacampeão inglês Lewis Hamilton (Mercedes) numa última volta polémica no circuito de Abu Dhabi. Em 2022, a Mercedes perdeu rendimento e a Ferrari surpreende, tendo liderado o ranking de construtores e o de pilotos, com o monegasco Charles Leclerc… só que a Red Bull voltou à dianteira. “Está renhido, mas gosto da Ferrari e Leclerc é muito regular”, sorri Diogo Cunha.
 
O responsável deixa ideias de team building para aproximar os membros da FSUMinho: projetar na sede em Azurém as qualificações e provas de Fórmula 1 ao fim de semana; jogar esports de corridas na Catedral Competizione, em Braga; e, porque não, assistir ao vivo a um grande prémio de Fórmula 1. Uma dica: a 12 de junho, é no Azerbaijão. Já na Fórmula E lidera o belga Stoffel Vandorne (Mercedes EQ). António Félix da Costa (DS Techeetah) é o único piloto português presente e venceu em 2020, mas este ano é 10º, após 8 de 16 provas. Sabia que o chefe da equipa DS Techeetah só contrata engenheiros que passaram pela Formula Student?