Do sonho proibido à universidade: uma história feliz de persistência!

14-10-2022 | Pedro Costa | Fotos: Nuno Gonçalves

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Tomás Araújo é um dos 3000 novos alunos da UMinho. Recusa vergar-se às dificuldades da deficiência motora, quer licenciar-se em História e destacar-se na intervenção pública, ajudando as pessoas.





Luta para que as dificuldades da deficiência sejam cada vez menos limitativas das suas metas. Diz ter tido que lidar com bullying, mas "a imensa sorte" dos pais que tem ajudou. Está em História, mas o sonho proibido era ser polícia.

Tomás tem 18 anos e é dos Arcos de Valdevez, onde completou o ensino secundário. “Não sou nenhum Einstein, mas fui sempre bom aluno”, revela, com sentido de humor. Considera-se focado e "mais exigente do que os pais" quanto ao seu desempenho. “Deles acho que herdei a persistência para me superar, para aumentar as minhas hipóteses de uma vida completamente normal”, confidencia.
 
Tomás sofre de uma deficiência motora, que resultou de uma paralisia cerebral. “Sempre fui muito determinado física e mentalmente para combater as contrariedades desta condição, mas é verdade que tive muita sorte, a todos os níveis, com os pais que tenho”, assegura. Se não fossem os cerca de quatro anos de tratamentos em Cuba desde pequeno, hoje "não poderia estar aqui”, admite. Os dias de crescimento não foram fáceis para o jovem alto-minhoto. “Tive que crescer muito rápido, mentalmente tive que estar mais preparado do que os meus colegas, pois o número de obstáculos que preciso de ultrapassar é superior ao que eles encontram normalmente”, afirma.
 
As limitações físicas que estão patentes do alto da sua cadeira de rodas levam-no a acreditar que ainda há muito por fazer, a vários níveis, nomeadamente na quebra dos preconceitos. Considera que as mudanças de mentalidade estão a seguir a um ritmo demasiado lento e “talvez os responsáveis que nos governam pudessem fazer mais”, declara. Confidencia que sofreu por vezes desse preconceito. Fala abertamente disso e de como o afetou, mas não o derrotou. “O bullying foi uma realidade ao longo da minha vida escolar, mas o que me magoa ainda mais é saber que as poucas pessoas que se aproximavam para serem minhas amigas também sofriam de bullying, por vezes ainda pior do que eu”.




  
O acolhimento na UMinho
 
Tomás passa a semana em Braga com a mãe, que o acompanha "nesta caminhada". Dedica-se às aulas no campus de Gualtar e, ao fim-de-semana, volta aos Arcos de Valdevez. A escolha pela UMinho acaba por ser natural: “É a opção mais perto de casa e tem as condições que eu queria”.

Quanto à integração, “está a correr bem melhor do que o esperado", pois, atendendo ao seu passado, Tomás tinha "algum receio". As primeiras queixas vão para pouca visibilidade das rampas de acesso em alguns locais. "Só consigo encontrar e ver algumas quando estou muito próximo delas”, situa. Fala também do serviço disponibilizado pelo Núcleo de Promoção da Inclusão da UMinho. “Ofereceu-me apoio ao nível dos apontamentos e de uma tecnologia que está em fase experimental, gravação de aulas, mas também sei que terei apoio nos testes que realizar”, descreve.
 
Os sonhos têm um lugar especial na vida de Tomás. Cedo percebeu que a sua condição não lhe permitiria exercer a profissão de polícia, como desejava. A opção pelo curso de História deve-se a um gosto pessoal. “Sinto-me atraído pela História, mas não sei se me vejo nesta área no futuro”, explica. Tomás vê-se a fazer algo que possa ajudar as pessoas, relacionado com a área social. “É algo que me atrai, mas não sei bem ainda que caminho fazer para chegar aí”.

O percurso do jovem arcuense tem-no levado a focar-se numa perseverança diária. “Não imagino onde estarei ou o que farei daqui a dez anos”, confessa. Atendendo a ter crescido num meio com intervenção pública, com o pai ligado à política, sente vontade de seguir um caminho em que possa ter intervenção social. “A minha mãe sempre me incentivou a lutar pelos meus direitos e também a lutar para ter uma voz ativa na sociedade, em defesa das pessoas com deficiência e de todas as minorias”, revela Tomás, desvendando um pouco mais da sua extraordinária persistência.