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O Natal e o seu contrário
21-12-2022
Rita Ribeiro
Para quase todos, a felicidade é o tempo para o encontro comprometido e límpido com os seres que fazem de nós humanos – e não é isso sagrado?
Habituamo-nos a pensar no Natal como uma festa que reúne e como uma experiência comum, partilhada por todos da mesma maneira. Não é. Há muitos reversos nesta festividade que se celebra há dois mil anos e que começou num nascimento furtivo no Médio Oriente.
O Natal é tempo de esperança e de renovação, mas acontece no tempo frio de inverno, quando a natureza ainda tem tudo no ventre da terra. A abundância do consumo fácil e demasiado, as luzes alucinantes, as sonoridades saltitantes e os artifícios de alegria contrastam com o pousio do mundo natural. À humildade da mensagem de um nascimento simples que todos os presépios evocam, sobrepõe-se o desprezo pela pobreza e a gritante injustiça entre aqueles que, tendo muito pouco, são acusados da insolência de pedir um pouco mais e aqueles que tendo muito, e cada vez mais, não admitem o privilégio e a rapinagem.
No Natal vive-se também mais intensamente a lei da vida e da morte. Nas famílias, sucedem-se ou sobrepõem-se os ciclos dos nascimentos e da cândida felicidade trazida pelos mais novos e dos lutos pelos que morreram ou por aqueles de quem a vida se despede a cada dia e de quem antecipamos a saudade dolorosa. Para todos a contagem é decrescente, mesmo se o Natal consegue o milagre da sua suspensão por um dia. Na verdade, só há celebração do nascimento de Jesus porque ele morreu e a sua morte inspirou os vivos.
O Natal não é sempre o aconchego de estar com “os nossos”. Às vezes em casa estão os agressores e a prolongada agonia das relações violentas. Às vezes não há casa. Para o imigrante e o refugiado sobram a distância, a saudade e a angústia do futuro. Por vezes são constrangidos a celebrar um Natal alheio, com deuses e calendários festivos desencontrados. São vidas partidas entre a oportunidade e a perda, entre a cama e a mesa seguras para os filhos e o medo de nunca mais voltarem a serem vistos para lá do véu pesado do preconceito. Para os solitários, o Natal só acrescenta mais solidão.
Por isso, quando vemos uma mesa abundante, pinheiros com decorações brilhantes, ruas iluminadas com estrelas ou animadas trocas de presentes não devemos presumir que entendemos o que ali se está a passar. Há muitos Natais diferentes a acontecer, mesmo que se cantem as mesmas canções melosas e usem as mesmas máscaras sorridentes. Para uns a felicidade aguarda no presente desembrulhado com ânsia ou na mesa de baixela dourada a que se sentam muitos convivas. Para outros, o Natal é o recolhimento e o silêncio, por escolha ou por infortúnio. Para quase todos a felicidade é o tempo para o encontro comprometido e límpido com os seres que fazem de nós humanos – e não é isso sagrado?
Guerra e paz, abundância e escassez, tristeza e alegria, casa e desterro, celebração e solidão, com tudo convivemos irreflectidamente, empurrados pela enxurrada de coisas que não escolhemos viver. O Natal é humano e cheio das contradições dos humanos.
Professora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho
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