“Sinto-me cada vez menos em casa na minha terra”
Trabalhou pouco tempo em Portugal. Começou no Departamento de Inovação e Desenvolvimento da Sonae MC, no Porto, seguindo depois para a Accenture (Espanha), a McKinsey & Company (República Checa) e agora a Amazon (Luxemburgo). Construir uma carreira internacional fazia parte dos planos?
Não fazia parte dos meus planos até participar no programa Erasmus. Quando regressei senti um vazio que estava relacionado com a sede de aprender e conhecer como se faz e como se pensa noutras culturas. Por isso, comecei logo a procurar emprego no estrangeiro. Saí de Portugal em 2007, antes da crise financeira, por curiosidade e pela necessidade de aventura. O meu plano sempre foi trabalhar fora durante apenas dois anos. No entanto, os projetos foram aparecendo e as oportunidades também, mantendo-me longe Portugal.
Como tem sido a adaptação?
Foi relativamente fácil, mas muito diferente entre cidades. Em Madrid senti-me assustado no início, porque foi a primeira experiência profissional fora, uma das poucas capitais da Europa onde não tinha amigos para me ajudar na transição. Senti-me deslocado devido à sua dimensão e ao facto de ser extremamente cosmopolita, mas isso durou pouco tempo [risos]. Madrid é uma cidade do mundo, com pessoas extremamente abertas e tolerantes que adoram a vida social. Antes de Praga, estive em Nova Iorque e Miami. A adaptação foi relativamente fácil porque tinha lá imensos colegas de trabalho e amigos. Não fiquei fã de Miami por causa do calor húmido e de a sociedade ser extremamente materialista. O lado positivo eram as viagens curtas às Bahamas ou outras ilhas das Caraíbas durante o fim de semana.
E também viveu em Praga durante quatro anos...
Exatamente. Praga era uma antiga paixão e foi onde mais gostei de viver. Senti-me em casa e fui muito feliz! Adorei a qualidade de vida, a cultura, a vida social e a história da cidade. Não foi uma decisão fácil mudar-me depois para o Luxemburgo, mas a proposta da Amazon era irrecusável. A cidade é menos cosmopolita do que as anteriores, mas é algo que aprecio nesta fase da minha vida. O civismo, a qualidade dos serviços públicos, o foco nas crianças e em tudo o que as rodeia ou o simples facto de nos podermos deslocar para o trabalho de bicicleta. É uma cidade em constante mudança que me tem surpreendido pela positiva. Extremamente diversa e tolerante, 50% da sua população é estrangeira e conta com mais de 170 nacionalidades.
Sente-se em casa fora de Portugal?
Não sei se alguma vez me senti em casa fora de Portugal, mas sempre encontrei algo que me fizesse sentir feliz e desse energia. Terei um problema no futuro caso volte. É que, a cada ano que passa, sinto-me cada vez menos em casa na minha terra...
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