Lugar para a criatividade na Ciência
Como surgiu o seu interesse pela carreira científica?
Em criança nunca me imaginei a ser cientista. Achava que ia viver do meu lado mais criativo [risos]. Mas cedo percebi as dificuldades da carreira artística em Portugal, o que me levou a seguir os conselhos de familiares e amigos e a enveredar por um percurso “com mais saídas profissionais”. Nesse processo descobri uma paixão pela Ciência, onde consigo também fazer uso da minha criatividade.
De que forma?
O processo criativo pode ter um papel importante na busca de soluções inovadoras em investigação científica. Grandes descobertas podem ser fruto de uma procura de explicações para fenómenos, fazendo uso da criatividade. O processo de avaliação é depois muito informado e segue regras definidas, mas a colocação de hipóteses pode ser um processo altamente criativo.
Em que fase da sua vida surgem os EUA? Fez várias escalas pelo meio...
Os EUA surgem por acaso durante o meu doutoramento, numa conversa sobre um projeto que estava a apresentar numa conferência internacional de neurociências, na Califórnia. A cientista Mary Bunge, muito reconhecida na área, demonstrou interesse no meu trabalho. Como eu tinha uma bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia que me permitia fazer estadias internacionais, pedi aos meus orientadores para visitar o instituto onde ela desenvolvia o seu trabalho nos EUA. A Eslovénia e a Alemanha vieram mais tarde como resultado de prémios e apoios para colaborações internacionais entre laboratórios. Acredito nas mais-valias da ciência colaborativa e interdisciplinar, por isso tento sempre procurar oportunidades de visitas a laboratórios para explorar e aprender novas técnicas.
Explique-nos o que investiga e o que pretende alcançar com o seu trabalho?
Desde que comecei a fazer investigação que a minha motivação é desenvolver soluções terapêuticas para problemas neurológicos. Neste sentido, tenho explorado estratégias que permitem controlar ambientes neuro-inflamatórios que, por vezes, obstruem o processo regenerativo. Dedico-me, por exemplo, a investigar o uso de nanomateriais que permitem a libertação controlada de agentes terapêuticos de forma temporal e espacialmente definida, o que no sistema nervoso central é difícil. Tenho também estudado o potencial de terapias celulares em lesões neuro-traumáticas e proposto formas de maximizar o impacto da administração de diferentes células autólogas [feitas com material do corpo do próprio paciente] nestas patologias. O modelo de doença que mais tenho usado na minha investigação é o de lesões medulares. De uma forma muito idealista, o que pretendo é ajudar a encontrar melhores formas de diagnóstico e tratamento de doenças que afetam o sistema nervoso central.
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