Projeto de três investigadoras vence o concurso SpinUM

31-03-2023 | Texto e fotos: Pedro Costa

As vencedoras Andreia Castro, Joana Sousa e Patrícia Maciel, ladeadas pelo júri do concurso SpinUM - Pedro Castel-Branco (Armilar), Natália Martins (IAPMEI), Anabela Carvalho (Patentree) e Eugénio Campos Ferreira (vice-reitor da UMinho)

As três vencedoras acompanhadas por colegas concorrentes da final do SpinUM 2023, onde foram apresentados cinco projetos

Joana Sousa a revelar o projeto em formato "elevator pitch", a 29 de março, no auditório B1 do campus de Gualtar, em Braga

A equipa crê no impacto social e no sucesso do projeto, pretendendo captar investimento e chegar em breve ao mercado

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Joana Sousa, Andreia Castro e Patrícia Maciel querem acelerar a descoberta de fármacos para doenças raras.




Na Escola de Medicina da UMinho nasceu a Screen4Health, uma start-up que visa acelerar o processo de seleção de fármacos promissores para o tratamento de doenças raras. A técnica desenvolvida parte do pequeno nematode Caenorhabditis elegans (C. elegans), que tem a capacidade de mimetizar doenças humanas, permitindo a identificação de compostos promissores na supressão destas doenças, com ensaios automatizados e cientificamente validados. Segundo as promotoras do projeto, Joana Sousa, Andreia Castro e Patrícia Maciel, a metodologia vai possibilitar uma redução temporal e monetária das empresas farmacêuticas na fase pré-clinica. A Screen4Health encontra os compostos com alta probabilidade de serem eficazes em contexto clínico e apenas estes serão testados noutros organismos mais complexos, acelerando assim a translação para a fase clínica, tornando mais rápida a descoberta de tratamentos para estas doenças raras. O NÓS falou com as autoras sobre o futuro próximo e o 1º Prémio obtido esta semana no SpinUM - Concurso de Ideias de Negócio da UMinho.
 
 
O que significa este prémio para vocês e para o projeto?
Acima de tudo, o reconhecimento pelo potencial desta ideia de negócio. É o estímulo que faltava para concretizar esta ambição que há muito incubávamos. Agora, acreditamos estar em condições de passar dos planos à ação.
 
Que oportunidades se geram a partir daqui?
Estamos mais confiantes na viabilidade da Screen4Health, reconhecemos o seu impacto social e validamos a necessidade de mercado. Vamos procurar investimento para a fase de criação da unidade de investigação e desenvolvimento, mas pretendemos desde já saltar para o mercado, dando a conhecer a empresa a potenciais clientes num futuro, esperamos, próximo.
 
De forma resumida, o que faz efetivamente o vosso projeto?
Prestamos serviços de screening de fármacos, usando modelos de doenças humanas baseados no nematode C. elegans a empresas farmacêuticas, de forma que estas consigam rapidamente selecionar os compostos com maior potencial terapêutico para uma determinada doença rara. Desta forma, apenas os compostos com maior potencial serão posteriormente testados em modelos de doença mais complexos, como o ratinho. Isto permite acelerar a fase pré-clínica do processo de descoberta de novos fármacos.
 
Que mercados pretendem explorar a partir desta metodologia?
No limite, pretendemos oferecer estes serviços a qualquer empresa farmacêutica mundial com interesse no desenvolvimento de fármacos para tratar doenças raras. Através de atividades prévias, temos já implantação internacional, que vai da Europa aos EUA e à Ásia, pelo que esta é uma possibilidade totalmente concretizável.
 
Como surgiu a ideia de explorarem esta área?
Identificamos uma necessidade de mercado, essencialmente. Notámos que havia necessidade destes serviços, pois recebíamos contactos de empresas farmacêuticas no sentido de testarmos fármacos num modelo de C. elegans por nós desenvolvido da ataxia espinocerebelosa do tipo 3, uma doença neurodegenerativa rara. Assim, começámos a adaptar ao conceito de serviços algo que já fazíamos no nosso grupo de investigação; no nosso caso, mais numa estratégia de repurposing de fármacos já aprovados para outros fins terapêuticos.
 
Que especialidades científicas estão envolvidas?
Utilizamos ferramentas da genética e biologia molecular na criação de novos modelos de doença, abordagens das neurociências e da biologia em geral para algumas das análises destes modelos, mas tiramos também partido de metodologias automatizadas de análise de movimento para aumentar a escala dos testes de fármacos.
 

Sobre as autoras
 
Joana Sousa – Investigadora de pós-doutoramento do ICVS - Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde, integra a equipa de investigação Translational Neurogenetics e é especialista em comportamento e manipulação genética de C. elegans.
Andreia Castro – Investigadora auxiliar do ICVS e professora auxiliar na Escola de Medicina, integra a equipa Translational Neurogenetics e lidera projetos com foco na sinalização serotoninérgica e homeostase proteica, como estratégia terapêutica para doenças neurodegenerativas, sendo ainda autora de uma patente atribuída e uma submetida.
Patrícia Maciel – Professora associada na Escola de Medicina, investigadora coordenadora da equipa Translational Neurogenetics e atual diretora do ICVS, centra o trabalho na descoberta de mecanismos moleculares e terapêuticas para doenças neurológicas, que resultou em mais de 135 publicações científicas e três patentes submetidas, das quais uma atribuída.



Concurso com 13 edições

 O SpinUM distingue anualmente ideias de negócio de qualquer área científica e ligadas à UMinho.No passado, vários projetos conquistaram depois os principais prémios de inovação do país. O concurso tem, também por isso, merecido atenção crescente de investidores. Na recente edição foram atribuídos 9000 euros no total em valor monetário e serviços de apoio à propriedade industrial para os autores classificados em 1º, 2º e 3º lugar. Esta iniciativa lançada pela TecMinho é cofinanciada pela rede UI-CAN, no âmbito do programa Compete 2020 / Portugal 2020, e pelo Fundo Social Europeu da União Europeia.

As ideias vencedoras das 13 edições foram “iSurgical3D” (correção do peito escavado), “Sense4me” (previne progressão das úlceras), “NanoBiodelivery” (libertação controlada de terapias no combate ao cancro), “euPA” (monitorização de saúde e emergência por GPS), “BnML” (modelo maximiza a descoberta de fármacos), “Nanopaint” (tintas para imprimir sensores eletrónicos), “Analisador da Distorção Luminosa” (preditor de complicações oculares pré-cirurgia), “medQuizz” (aplicação constrói e corrige exames), “GenSYS” (software para produção massiva de artigos diferenciados), “Lipidomix” (serviços para quantificar e analisar lípidos), “TopoSEM” (recria superfícies 3D que são 10.000 vezes mais finas do que um cabelo), “beWOODful” (tecnologia acopla o tratamento e a coloração da madeira), "Karion Therapeutics" (molécula promissora para tratar o cancro renal) e "Screen4Health" (acelera a seleção de fármacos para doenças raras).