Os palcos tecnológicos
Que papéis desempenham as tecnologias no renascer dos fenómenos radicais?
Uma das linhas de continuidade que observamos nos movimentos do fascismo históricos e no dos pós-fascistas é, justamente, a intuição e a capacidade de utilização dos mais modernos meios de comunicação e de propaganda. O nazi-fascismo foi particularmente eficiente em explorar os comícios de massas, as ondas de rádio e as telas dos cinemas. O pós-fascismo, num mundo cada vez mais desmaterializado, atomizado e individualizado, compreendeu que as redes sociais eram o novo auditório para o qual deveriam falar e especializaram-se rapidamente nas estratégias de comunicação mais eficazes em cada uma das diferentes redes sociais.
A comunicação tende para os meios online.
As redes sociais permitem a disseminação muito rápida de informação (muitas vezes falsa), de vídeos virais e de propaganda – veja-se, por exemplo, a entrada do Chega e de André Ventura no TikTok. A lógica dos algoritmos favorece também o recrudescimento dos sentimentos de ódio em relação ao outro e de reforço da noção de pertença ao grupo que detém o "monopólio da verdade". As redes sociais tendem a apresentar-nos pessoas que pensam como nós, que se parecem fisicamente connosco, que se comportam como nós. Essa constante auto-legitimação e reforço das convicções políticas do grupo faz com que a tolerância à diferença e à pluralidade de opiniões seja cada vez menor e que a alteridade esteja em acelerada extinção.
Falar de populismos é falar de um fenómeno de atualidade ou a redescoberta da propaganda na sua pior face?
O pós-fascismo é um fenómeno do século XXI, disso não temos dúvidas. Ele continuará a evoluir, embora devamos registar as dificuldades de federação internacional deste complexo e diverso universo de partidos e movimentos. E irá constituir-se mais claramente como campo político, ideológico, social e cultural. Não creio que o devamos reduzir a um estilo de discurso ou a uma estratégia de comunicação política. O pós-fascismo comporta uma mundividência e uma ideologia próprias – ainda em consolidação – e é aí que reside o principal desafio das democracias liberais.
|