Dava Newman e José Ramos, os nossos novos doutores honoris causa

19-05-2023 | Pedro Costa

Dava Newman protagonizou a I Conferência Alumni UMinho, realizada a 17 de fevereiro de 2015, no Paço dos Duques (Guimarães), com o tema "Challenges and Innovation in Space… and in Earth"

José Ramos é apaixonado por automóveis e por projetos sobre mobilidade e cultura empresarial

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Diretora do Media Lab do MIT e presidente do grupo Salvador Caetano são distinguidos hoje em Guimarães.




A Universidade do Minho atribui esta sexta-feira o doutoramento honoris causa em Engenharia à engenheira norte-americana Dava Newman e ao empresário português José Ramos. A cerimónia acontece às 16h00, no campus de Azurém, em Guimarães. Sob proposta da Escola de Engenharia da UMinho, são galardoadas duas personalidades que marcam contextos diferentes no panorama internacional. Os "padrinhos" dos homenageados são, respetivamente, o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), António Cunha, e o diretor-executivo da Fundação Mestre Casais e também professor da UMinho, José Mendes. A saudação inicial conta com o presidente da Escola de Engenharia, Pedro Arezes, e a entrega das distinções com o reitor, Rui Vieira de Castro.

 
Uma vida entre a ciência e o espaço
 
Dava Newman nasceu em agosto de 1964, na cidade de Helena (estado de Montana), no Norte dos EUA. É licenciada em Engenharia Aeroespacial pela Universidade de Notre Dame (1986), mestre em Tecnologia e Política (1986) e em Aeronáutica e Astronáutica (1989) pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde também fez o doutoramento em Engenharia Aeroespacial Biomédica (1992).

É diretora do MIT Media Lab, um laboratório que se centra no estudo, invenção e utilização criativa de tecnologias digitais para melhorar a forma como as pessoas pensam, comunicam ideias e exploram novas fronteiras científicas. Professora catedrática no Departamento de Aeronáutica e Astronáutica no MIT, leciona aí Astronáutica no programa Apollo e no programa Harvard-MIT em Saúde, Ciências e Tecnologia. Foi também diretora do Programa MIT Portugal durante dois períodos, de janeiro de 2011 a junho de 2015, e de junho de 2018 a junho de 2021.
 
O seu foco de investigação inclui a engenharia aeroespacial biomédica, o desempenho humano em todo o espectro de gravidade, a conceção avançada de fatos espaciais e as aplicações da inteligência artificial ligadas ao clima, ao design, à liderança, à inovação, à tecnologia e à política. As suas invenções estão agora a ser aplicadas à produção de "fatos macios/exosqueletos" para melhorar a locomoção na Terra. As exposições do seu fato espacial revolucionário BioSuit passaram pela Bienal de Veneza (Itália), pelo Museu Victoria e Albert de Londres (Reino Unido), pelo Museu Americano de História Natural e pelo Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque (EUA).

A sua investigação mais recente inclui a Earth Speaks, uma plataforma de código aberto de dados espaciais com curadoria, que aplica inteligência artificial, linguagem natural e visualizações de supercomputadores para apoiar ações de aceleração que ajudam a regenerar os oceanos, a terra e o clima. É autora do livro Interactive Aerospace Engineering and Design, mas tem mais de 300 publicações. Orientou igualmente perto de 300 estudantes de graduação e pós-graduação.
 
Foi nomeada por Barack Obama, ex-Presidente dos EUA, como administradora adjunta da NASA (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço) entre 2015 e 2017, tornando-se a primeira mulher engenheira no cargo. Foi ainda galardoada com a NASA Distinguished Service Medal e investigadora principal em quatro missões espaciais efetuadas a bordo do space shuttle da Estação Espacial Russa Mir e da Estação Espacial Internacional.
 
Sempre ligada ao desporto, Dava Newman pertenceu à equipa feminina de basquetebol da universidade e foi treinadora de basquetebol feminino. Em outubro de 1991, Newman bateu um recorde mundial de velocidade de hidrofólio com propulsão humana para mulheres. Em 2014, correu a maratona de Boston em representação da MIT Strong Team.
 
A cientista fez uma circunavegação do mundo. A odisseia Galatea, entre 2002 e 2003, foi um projeto global educacional, em que, durante 18 meses, líderes educacionais percorreram o globo, parando para contactar com estudantes e escolas de todo o mundo. A missão era promover ideais educacionais sobre ciência, tecnologia e mudanças globais a partir das suas perspetivas pessoais e culturais. Recentemente, fundou a EarthDNA com o seu companheiro Guillermo Trotti. Trata-se de um projeto que pretende criar uma relação saudável entre pessoas, tecnologia e a Terra, de forma a assegurar a sustentabilidade no nosso planeta.
 



“Ser Caetano” no código genético
 
Nascido em Vila Nova de Gaia, José Ramos fez o curso de Eletrotecnia e Máquinas no antigo Instituto Técnico do Porto e licenciou-se em Engenharia Metalúrgica na Universidade do Porto. É hoje presidente do conselho de administração do Grupo Salvador Caetano, CEO da Toyota Caetano Portugal e presidente da Associação Automóvel de Portugal (ACAP).
 
O Grupo Caetano está presente em 41 países de três continentes. Na sua marca identitária está uma forte relação interpessoal, num crescimento que atravessou os tempos. José Ramos entrou na Salvador Caetano em 1968, já com a empresa em expansão sob a liderança do seu fundador. Entrou precisamente no ano em que esta assumiu uma parceria estratégica determinante com o gigante japonês Toyota. A primeira de muitas felizes coincidências!

É consensual a ideia de que José Ramos fortaleceu uma carreira exemplar pela contribuição dada ao desenvolvimento da economia portuguesa a partir do setor automóvel. Foi assistente do presidente do conselho de administração da Salvador Caetano até 1975, passando então a integrar a administração. Em 1986, assumiu o cargo de vice-presidente da Salvador Caetano – IMVT e em 2010, tornou-se presidente da Toyota Caetano Portugal.
 
Chega a ser irónico pensar na coincidência de outro facto histórico: no ano em que nasceu, em 1946, na sua freguesia, Salvador Fernandes Caetano fundava o início de um forte grupo empresarial que havia de marcar a sua vida. Quis também o destino que, com a sua companheira de sempre, Angelina Caetano, filha do fundador, gerassem uma família, da qual resultaram os seus dois filhos, cinco netos e décadas de vida em comum. Também, por isso, uma matriz muito familiar e fraternal percorre de alto a baixo este grupo empresarial, num posicionamento que José Ramos define como o “Ser Caetano”.
 
Durante o serviço militar, chegou a lecionar na Escola Industrial de Alcanena, mas seria como empresário que se sentiria mais feliz. Ainda menino, nos intervalos da escola, sempre que podia ia ajudar no negócio do pai ou na empresa do avô. José Ramos gosta de desporto. Foi federado em andebol e apaixonado por corridas de carros, que experimentou muitas vezes. Ainda hoje não abre mão das suas caminhadas bem cedo e do seu jogo de ténis, sempre que o tempo e a condição física o permitam. Aos 72 anos, José Ramos não pensa em parar de trabalhar. Fala cinco idiomas, diz-se “escravo do relógio” e lamenta ter passado pela clausura da pandemia.

Os títulos fazem-no sentir-se realizado: “São o resultado de todas as pessoas que me acompanharam e ajudaram no caminho”. Em 2009 foi agraciado com a Medalha de Honra da Cidade de Vila Nova de Gaia. A ACAP homenageou-o com um Prémio de Honra em 2013. Dois anos depois, recebeu a “Ordem do Sol Nascente, Raios de Ouro com Laço” pelo Imperador do Japão, pelo seu contributo na promoção do mútuo entendimento e dos laços de amizade entre o Japão e Portugal. Foi nomeado cônsul geral honorário do Japão no Porto, em 2022.

Recebeu ainda o Prémio Kaizen 2018, atribuído pelo Kaizen Institute Portugal, pelo seu envolvimento na promoção de uma cultura empresarial de melhoria contínua e pela atitude de procurar fazer mais e melhor todos os dias, envolvendo todas as pessoas da organização. Foi igualmente galardoado como Personalidade do Ano 2020, pela SIC/Expresso e com o Prémio Reconhecimento 2022, dos Prémios Auto Observador.

 

  

  Duas dezenas de honoris causa
 
  1979 | Hans Flasche
  1990 | Cornelio Sommaruga, Eurico Dias Nogueira, Émile Noel, Eurico Teixeira de Melo
  1994 | José Veiga Simão
  2002 | Joaquim Pinto Machado, Francisco Carvalho Guerra, José Luís Encarnação
  2005 | Joaquim Chissano
  2011 | Joseph Gonnella, Marcel de Botton, Michel Maffesoli
  2012 | Nuno Portas
  2015 | Ramón Villares
  2016 | Gene Grossman
  2019 | Álvaro Laborinho Lúcio, Frei Bento Domingues
  2020 | Ángel Carracedo
  2023 | Dava Newman e José Ramos