Sustentável pelas e para além das métricas

30-06-2023

Miguel Bandeira

Estamos convictos que, nos próximos tempos, a atratividade e o prestígio de uma Universidade dependerão cada vez mais do seu todo, mais do que dos seus diferenciais competitivos.


Há dias fomos o palco mundial do mais alargado forum que afere a sustentabilidade das universidades no mundo. Estiveram reunidas em Braga 70 universidades de 30 países no 9º Workshop Internacional da UI GreenMetric (IWGM 2023, de 15 a 17 de junho), organizado pelo Pró-Reitor Guilherme Pereira e a sua equipa técnica, com o sucesso reconhecido no elogio dos participantes. Sob o lema "Inovação, Impactos e Direção Futura de Universidades Sustentáveis", com o objetivo de fomentar práticas sustentáveis e promover a cooperação global na sua gestão, aprofundou-se o conhecimento temático, trocaram-se experiências e discutiu-se os avanços generalizados que as universidades, à escala global, vêm desenvolvendo multisetorialmente, muito em particular, nos seus modos de estar e de agir no âmbito da sustentabilidade ambiental.

Com origem na Indonésia (2010), a rede GreenMetric, sendo pioneira na finalidade, é hoje constituída por mais de mil universidades participantes espalhadas pelos cinco continentes, reunindo mais de 17 milhões de estudantes e 2 milhões de docentes, empregando 68 biliões de dólares em fundos totais de pesquisa para ambiente e sustentabilidade. Números que acrescem em responsabilidade a instituição universitária no seu todo, no desenvolvimento dos desejáveis processos de transição, consubstanciados em 6 critérios (Energia & Mudanças Climáticas, Ambiente & Infraestrutura, Transporte, Água, Resíduos e Educação & Pesquisa) e 39 indicadores de avaliação. Um processo dinâmico que tem vindo a evoluir no sentido de se ajustar aos 17 desígnios da Agenda 2030, promovida pelas Nações Unidas, articulando o ambiente com a economia e sociedade.

É hoje reconhecido que a sustentabilidade ambiental, sendo mais do que o imperativo indeclinável para satisfazer as necessidades gerais presentes sem comprometer as futuras, configura uma emergência transformadora consensual, que nos convoca a todos, independentemente das circunstâncias. Mais a mais, porque as universidades mobilizam as expetativas da sociedade pelo potencial de que dispõem. Pelo sentido abrangente da sua missão em demonstrar princípios sustentáveis no ensino-aprendizagem, na investigação que produzem e, também, nas ações que desenvolvem nos locais onde estão instaladas. Não faz sentido a universidade defraudar a promessa de se constituir como um modelo para a sociedade, ou que cada um dos seus membros abdique da função de referência e exemplaridade que se exige face aos desafios globais de sustentabilidade que enfrentamos.

É verdade que o conceito de sustentabilidade evidencia uma erosão precoce, motivado pela banalidade do seu uso, sobretudo, pelo emprego desgastante a propósito de tudo e de nada, perdendo em exclusividade aquilo que na sua origem obteve em alcance e significado. Por outro lado, estamos conscientes da sedução que a quantidade e a precedência dos números provocam em nós. Veja-se aqueles que gratamente nos posicionam nos rankings, auspiciam melhorias significativas neste campo, designadamente na diminuição da pegada ecológica, pela poupança de energia, de água e no tratamento dos resíduos. Ainda assim, há um longo e incessante caminho a percorrer, por exemplo, na mobilidade. Temos demasiados automóveis nos nossos campi! A própria ideia de sustentabilidade é mais qualitativa do que quantitativa. É como a saúde, ninguém se sente bem senão no sentido geral. Não é a soma do quadriculado do corpo que faz o nosso bem-estar.

Estamos convictos que, nos próximos tempos, a atratividade e o prestígio de uma Universidade dependerão cada vez mais do seu todo, mais do que dos seus diferenciais competitivos, por muito sucesso que alguns dos seus segmentos conjunturalmente possam exibir. Temos de mudar de estilo de vida! Pode haver discussão quanto à velocidade da transição, daquilo que estamos dispostos a abdicar, das prioridades que estamos solicitados a realizar, mas não estamos isentos de participar. A sociedade não nos entenderá se nos apartarmos do nosso tempo e de honrar o que, entretanto, foi percorrido. Os 50 anos que celebramos também fazem parte da sustentabilidade do território onde estamos instalados, de Braga, de Guimarães, do Minho, e por aí adiante.

Com uma nota final de otimismo saibamos tirar partido das nossas circunstâncias vantajosas. Desde logo porque estamos distantes dos condicionalismos mais extremos. Nem constritos, nem isolados; demasiado velhos ou sem jovens; nem capitais ou periféricos; litorais ou interiorizados; nem tropicais ou boreais. Porque, à partida, fomos bafejados pelo sortilégio das medidas justas! Temos de prosseguir, não tanto pelo reducionismo de nos compararmos com os outros, mas principalmente pelo dever de continuar a aperfeiçoar-nos a nós mesmos.


Pró-reitor para o Desenvolvimento Sustentável e o Planeamento dos Campi da Universidade do Minho