Há 40 novos produtos portugueses baseados em plástico mais sustentável

30-06-2023 | Nuno Passos | Fotos: PIEP

Bruno Silva é diretor científico do projeto Better Plastics e coordenador para a Economia Circular e Ambiente do PIEP

O grupo Sonae, que inclui os hipermercados Continente, é um dos parceiros do projeto

Uma nova embalagem para carne processada

Este invólucro permite manter a qualidade do queijo por mais tempo

Exemplo de uma garrafa de água e um copo de iogurte com tampa reciclados, recicláveis e reutilizáveis

1 / 5

Projeto “Better Plastics” envolveu 6.3 milhões de euros e 52 entidades, tendo a coordenação científica do Polo de Inovação em Engenharia de Polímeros.




Nos últimos três anos, o consórcio português Better Plastics desenvolveu 19 materiais e 20 produtos e tecnologias inovadoras e sustentáveis que espreitam o mercado, mais 35 artigos científicos e quatro teses de mestrado e doutoramento. Os resultados afirmam a economia circular no setor do plástico nacional e servem áreas tão diversas como a alimentação, a saúde, a automóvel, a energia, a construção civil e a gestão industrial. Por exemplo, temos agora uma garrafa de água reciclada e reutilizável; um recipente para iogurte com tampa e 100% reciclável; suportes com ecodesign para o ramo farmacêutico; novas tecnologias de pré-tratamento para reduzir contaminantes orgânicos, tintas e odores; a produção de fibra de carbono verde a partir de um precursor natural; ou materiais biodegradáveis baseados em resíduos alimentares e em biomassa.

O projeto foi liderado cientificamente pelo PIEP, interface tecnológico da UMinho sediado no campus de Azurém, em Guimarães, envolvendo 52 entidades e um investimento de 6.3 milhões de euros. A coordenação geral coube à Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP). "Dada a sua versatilidade e eficiência, o plástico tornou-se num material omnipresente na economia e na vida quotidiana, por isso o setor reconhece a necessidade de repensar a forma como estes são utilizados e geridos", explica o coordenador científico do Better Plastics, Bruno Silva. O mundo enfrenta desafios globais como o crescimento da população, a segurança alimentar e as alterações climáticas, logo exige soluções mais eficientes para um desenvolvimento sustentável e a transição para a economia circular.

"A sociedade em geral associa o plástico a um 'estigma', talvez pela falta de perceção de valor que temos deste material omnipresente na economia e que mudou e melhorou a forma como vivemos”, acrescenta. Por exemplo, na produção de componentes para aeronaves, onde graças ao seu baixo peso permite reduzir no combustível e nas emissões de CO2 dos aviões. Segundo a ONU, a população mundial deverá atingir 9.8 mil milhões de pessoas em 2050, mais 22,5% do que hoje, que em média vão viver mais tempo e necessitar de mais bens e recursos, incluindo o plástico. "Pensar o plástico não é um problema, mas uma oportunidade de melhorar processos e de criar produtos mais sustentáveis, reutilizáveis e recicláveis”, considera o responsável.

 
 


Ao nível da circularidade pelo design de material, foram desenvolvidas novas soluções para embalagens alimentares que incorporam reciclado e são recicláveis no seu fim de vida, nomeadamente embalagens para queijo e carne processada, assim como novos materiais biocompostáveis, alinhados com os ciclos de compostagem industrial, existentes em Portugal de 60 dias, contrariamente ás centrais europeias operam em 180 dias, para sacos muito leves para embalar frutas e legumes, com possibilidade de serem reutilizados para o acondicionamento de biorresíduos domésticos. A solução vem responder a uma necessidade e espera-se ter este produto no mercado até final do ano.
 
Na vertente da circularidade pelo design de produto, concebeu-se embalagens de uso alimentar, para o setor das bebidas e dos produtos lácteos, com menores quantidades de material e com incorporação de material reciclado, com características de reutilização e elevada reciclabilidade. Trata-se de uma garrafa de água com 100% de material reciclado e reutilizável, assim como um copo de iogurte que pode ser reutilizado para outras aplicações no seu fim de vida. Criou-se igualmente embalagens para a indústria médico-farmacêutica e componentes para o setor rodoviário e automóvel, baseadas no eco-design e na incorporação de materiais reciclados e recicláveis no seu fim de vida.
 
Na área da circularidade pela reciclagem, foram desenvolvidas novas tecnologias de pré-tratamento para a redução de contaminantes orgânicos, tintas e odores, permitindo aumentar a qualidade dos plásticos reciclados obtidos por via da reciclagem mecânica, assim como novas soluções de materiais provenientes da reciclagem mecânica e química. Ao nível da circularidade pelas matérias-primas alternativas, surgiram novos materiais biodegradáveis, baseados na valorização de resíduos alimentares e da biomassa, assim como a produção de fibra de carbono verde a partir de um percussor natural.

"O Better Plastics contribui para o aumento do conhecimento nesta temática e a sua aplicação por parte da indústria em produtos transacionáveis e de alto valor acrescentado, assim como a formação de recursos humanos altamente qualificados", continua Bruno Pereira da Silva. Houve também cerca de vinte participações em eventos internacionais, dado o interesse pelo projeto, "por ser único à data a nível europeu". "O planeta tem recursos finitos, pelo que adotar um modelo económico que promova esta circularidade de recursos e a simbiose industrial será fundamental para vivermos de forma sustentável e sustentada", remata.