Tomamos café porque queremos que melhore o nosso dia

11-08-2023 | Beatriz Mendes

Os portugueses estão entre os que mais consomem café no mundo, com mais de 40% da população a beber em média duas chávenas por dia (foto: Pixabay/Pexels)

A equipa de Nuno Sousa estuda os efeitos do café há mais de uma década (foto: ICVS)

O café regular ajuda a despertar, focar, motivar e dar energia; em excesso, pode levar a problemas de saúde como nervosismo, insónias e dependência (foto: Chevanon/Pexels)

1 / 3

Há algo além da cafeína que ajuda quem o bebe, explicam cientistas da Escola de Medicina da UMinho.




A cafeína é um composto químico responsável por estimular o sistema nervoso, melhorando o estado de alerta e a concentração, libertando a dopamina e reduzindo a fadiga mental. Está presente em plantas como o café. Surge a pergunta: quanto tomamos café quotidianamente, será só a cafeína que nos ajuda a "despertar"? A equipa de Nuno Sousa, professor catedrático da Escola de Medicina e investigador do ICVS - Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho, analisou os efeitos que o café (e a cafeína) tem no nosso cérebro, mostrando agora que há "algo mais" que ajuda quem o bebe.

O estudo, denominado “Coffee consumption decreases the connectivity of the posterior Default Mode Network (DMN) at rest”, saiu na conceituada revista científica Frontiers in Behavioral Neuroscience. Analisou-se 83 ressonâncias magnéticas de pessoas que tomavam pelo menos um café por dia. Três horas prévias ao estudo, foi pedido que se abstivessem de beber cafeína. A 36 dos participantes foi-lhes então dada cafeína diluída, enquanto aos restantes foi-lhes dada uma chávena de café. Avaliou-se as reações do cérebro antes e depois de beberem.

Em ambos os grupos, diminuiu a conectividade da rede modo padrão (default mode network), região que se ativa em momentos de descanso passivo, como o estado de introspeção. Isso mostra que beber café ou cafeína deixa as pessoas mais alertas, por exemplo. Contudo, o grupo que tomou café também sofreu um aumento nas redes ligadas à atenção visual. “O café, de facto, faz com que as pessoas fiquem mais atentas ao mundo externo", realça Nuno Sousa. Este fenómeno pode eventualmente estar ligado a estímulos externos como o cheiro e o sabor do café e o ato da toma, algo que o cérebro parece associar, quase de forma automática, como sinal de que está na “hora” de despertar.

A investigação está a gerar impacto mediático internacional e tem a coautoria de Maria Picó-Pérez, Ricardo Magalhães, Madalena Esteves, Rita Vieira, Teresa Castanho, Liliana Amorim, Mafalda Sousa, Ana Coelho e Pedro Moreira, todos da UMinho, além de Rodrigo Cunha, da Universidade de Coimbra.