"Valorizo a riqueza dos desafios e a beleza da diversidade"

29-09-2023 | Carla Barroso

Graça Borges numa sessão do programa Mentorias UMinho, partilhando experiências com alunos desta academia

Num momento divertido do Encontro Caixa Alumni 2021, realizado no campus de Gualtar, em Braga

Com membros do polo UMinho da AIESEC - Associação Internacional de Estudantes de Ciências Económicas e Comerciais

A AIESEC tem polos em várias universidades portuguesas e é considerada a maior organização mundial gerida por estudantes

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Graça Borges

A alumna de Relações Internacionais entrou em 1990 na Unicer (hoje Super Bock Group), liderando a gestão da marca, os mercados europeu e africano e agora as relações institucionais e sustentabilidade.


Recorda-se do seu primeiro dia na UMinho?
Perfeitamente! Recordo o primeiro dia em que fui inscrever-me na UMinho, no final do verão de 1984. Fui com a minha irmã de comboio, do Porto a Braga. Sabia que tinha entrado em Relações Internacionais, mas tinha que escolher um dos dois ramos do curso. À chegada ao edifício da Reitoria, na rua do Souto, cruzei-me com três finalistas de Relações Internacionais Político Económicas, uma delas minha conterrânea. Eram os únicos alunos daquele ramo e, naquele momento, pese embora as dúvidas da minha irmã, inscrevi-me na vertente político-económica. Entre 1984 e 1988, Relações Internacionais Político Económicas, teve apenas duas alunas e eu fui uma delas. [sorriso]
 
O que a levou a escolher Relações Internacionais? 
A vontade de ser diferente e arriscar num curso claramente distintivo para a altura. Relações Internacionais oferecia inovação e diversidade. Poderia preparar-me a ser mais versátil e acabou por me ensinar também a ser resiliente. Sempre gostei de todas as disciplinas e matérias, mas segui as pisadas da minha irmã e no liceu optei por humanidades. Uma universidade com um curso com aquelas características e que me aceitou, no ramo político-económico, com background do liceu em humanidades, foi um sinal de uma universidade diferente e inovadora.
 
Como era ser estudante da UMinho nos anos 80?
Na minha opinião, acho que as palavras que melhor descrevem a vida de estudante na UMinho nos anos 80 são: proximidade, aprendizagem e cultura. A universidade era muito próxima das empresas, tinha uma diversidade de professores quer em termos culturais quer profissionais e, na área de Relações Internacionais era claramente inovadora com a organização de colóquios e eventos, que traziam ao Minho e aos seus estudantes exposição de temas e speakers internacionais de relevo. Recordo também o “curso livre” de Língua e Literatura Espanhola que tive oportunidade de fazer, on top do programa do curso, resultante de uma parceria com o Consulado de Espanha. Claramente, uma forma de a universidade promover e fomentar a cultura dos seus alunos.
 
A transição para o mercado foi fácil? Sentiu que a UMinho a preparou para enfrentar os desafios profissionais?
A minha visão é que há uma componente fortíssima que depende de nós e outra da preparação da instituição de ensino. Na componente que atribuo à universidade, diria que me forneceu as bases necessárias para o desafio da vida profissional. Enquanto estudante de Relações Internacionais Político Económicas, fiz parte da direção da AIESEC-UM (cuja sede era no edifício do Castelo), dei aulas práticas de Economia e Gestão aos cursos de Engenharia em Guimarães durante um semestre e, quando terminei o curso, fui nomeada diretora da AIESEC Portugal para o Programa de Intercâmbio Internacional de Estágios. Foi também através desta associação que tive um enorme contacto com várias empresas de Braga e de todo o país. Experienciei um “modelo pré-Erasmus” muito enriquecedor.


Com membros do polo UMinho da AIESEC (Associação Internacional de Estudantes de Ciências Económicas e Comerciais)
Com colegas do polo UMinho da AIESEC - Associação Internacional de Estudantes de Ciências Económicas e Comerciais


"Trabalhar em ecossistema é crucial"
 
Que desafios enfrenta diariamente na qualidade de diretora de Comunicação, Relações Institucionais e Sustentabilidade do Super Bock Group?
Os desafios são vários e ainda bem que existem. Sem desafios não evoluiria. Contudo no contexto atual diria que o maior desafio é o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional num mundo em “ebulição”. Agir de modo rápido e com escala, mantendo o foco em gerar valor para a empresa e para a sociedade, é um enorme desafio diário. Deixar para as gerações vindouras o que os fundadores do Super Bock Group (sete microcervejeiras que em 1890 deram origem a esta empresa) criaram é, mais do que um desafio, uma paixão.

Enquanto profissional e gestora de equipas, que mensagem acha importante transmitir a quem vai entrar no mercado de trabalho?
“You are the sole master of your fate. You are the captain of your soul!” – uma mensagem que adotei do poema "Invictus", de William Ernest Henley e que tem sido o meu “mantra” ao longo do meu percurso profissional. Diria também que devem manter a inquietude, o gosto por aprender, por abraçar desafios e a capacidade de escutar, observar, mas também de experienciar.

Esteve algum tempo a trabalhar nos Países Baixos e tem sido responsável por equipas espalhadas por diferentes continentes. O que lhe trouxe, e ainda traz, essa experiência internacional? Que especificidades de cada geografia destacaria como mais relevantes?
Trabalhar fora de Portugal permitiu-me sobretudo “trabalhar” a resiliência e “tolerância”, quer em termos pessoais quer profissionais. Aceitar a beleza da diversidade, a riqueza dos desafios e a tranquilidade para aceitar que, seja num novo país, numa nova empresa ou função, todos precisam de um período de adaptação, que pode ser maior ou menor, porque somos todos únicos e diferentes. Trabalhar fora permitiu-me também compreender os impactos que podemos vivenciar em termos de performance individual, das equipas, bem como na vida familiar, em face dos contextos culturais – do(s) país(es), da diversidade internacional nas equipas, etc. Aceitar quer o ciclo de adaptação, quer a diversidade cultural é fundamental para sermos mais produtivos e termos uma vida mais equilibrada e feliz.
 
É uma das mentoras do programa Mentorias UMinho. Que mais-valias acha que este traz aos estudantes na transição para o mercado de trabalho?
Diria que o programa Mentorias UMinho traz várias mais-valias que vão desde a exposição à realidade de trabalho nas empresas, passando pelo debate de ideias, pela reflexão sobre vários temas que inquietam os estudantes e pela aprendizagem mútua.
  
Que importância tem para si e para o Grupo em que trabalha a ligação às universidades, em especial à UMinho?
A ligação à Academia é fundamental para as pessoas e empresas que têm gosto e apostam continuamente no empreendedorismo, na investigação e inovação. Trabalhar em ecossistema é crucial nos dias de hoje e, por isso, a ligação às universidades é essencial. No Super Bock Group temos uma longa e estreita colaboração entre a nossa equipa de R&D&I com o Departamento de Engenharia Biológica da UMinho.


Numa sessão do programa Mentorias UMinho, partilhando experiências com alunos desta academia
Numa sessão do programa Mentorias UMinho, partilhando experiências com alunos desta academia
 


  As preferências de Graça Borges
 
  Um livro. São vários, mas refiro o que li recentemente: “Speed & Scale”, de John Doerr.
  Um filme. "Out of Africa", de Sydney Pollack.
  Uma série. A série documental "A Pedalar pelo Japão".
  Uma música. Muita - de clássica ao pop rock, passando pelo jazz.
  Um clube. Só mesmo "O Clube dos Poetas Mortos”. [sorriso]
  Um desporto. Trekking.
  Uma viagem: Patagónia.
  Um vício. Sem vícios (acho eu)! [sorriso]
  Um prato. Um bom bacalhau cozido com legumes.
  Uma personalidade. Nelson Mandela
  Um momento. O nascimento da minha filha há 17 anos.