Recorda-se do seu primeiro dia na UMinho?
Perfeitamente! Recordo o primeiro dia em que fui inscrever-me na UMinho, no final do verão de 1984. Fui com a minha irmã de comboio, do Porto a Braga. Sabia que tinha entrado em Relações Internacionais, mas tinha que escolher um dos dois ramos do curso. À chegada ao edifício da Reitoria, na rua do Souto, cruzei-me com três finalistas de Relações Internacionais Político Económicas, uma delas minha conterrânea. Eram os únicos alunos daquele ramo e, naquele momento, pese embora as dúvidas da minha irmã, inscrevi-me na vertente político-económica. Entre 1984 e 1988, Relações Internacionais Político Económicas, teve apenas duas alunas e eu fui uma delas. [sorriso]
O que a levou a escolher Relações Internacionais?
A vontade de ser diferente e arriscar num curso claramente distintivo para a altura. Relações Internacionais oferecia inovação e diversidade. Poderia preparar-me a ser mais versátil e acabou por me ensinar também a ser resiliente. Sempre gostei de todas as disciplinas e matérias, mas segui as pisadas da minha irmã e no liceu optei por humanidades. Uma universidade com um curso com aquelas características e que me aceitou, no ramo político-económico, com background do liceu em humanidades, foi um sinal de uma universidade diferente e inovadora.
Como era ser estudante da UMinho nos anos 80?
Na minha opinião, acho que as palavras que melhor descrevem a vida de estudante na UMinho nos anos 80 são: proximidade, aprendizagem e cultura. A universidade era muito próxima das empresas, tinha uma diversidade de professores quer em termos culturais quer profissionais e, na área de Relações Internacionais era claramente inovadora com a organização de colóquios e eventos, que traziam ao Minho e aos seus estudantes exposição de temas e speakers internacionais de relevo. Recordo também o “curso livre” de Língua e Literatura Espanhola que tive oportunidade de fazer, on top do programa do curso, resultante de uma parceria com o Consulado de Espanha. Claramente, uma forma de a universidade promover e fomentar a cultura dos seus alunos.
A transição para o mercado foi fácil? Sentiu que a UMinho a preparou para enfrentar os desafios profissionais?
A minha visão é que há uma componente fortíssima que depende de nós e outra da preparação da instituição de ensino. Na componente que atribuo à universidade, diria que me forneceu as bases necessárias para o desafio da vida profissional. Enquanto estudante de Relações Internacionais Político Económicas, fiz parte da direção da AIESEC-UM (cuja sede era no edifício do Castelo), dei aulas práticas de Economia e Gestão aos cursos de Engenharia em Guimarães durante um semestre e, quando terminei o curso, fui nomeada diretora da AIESEC Portugal para o Programa de Intercâmbio Internacional de Estágios. Foi também através desta associação que tive um enorme contacto com várias empresas de Braga e de todo o país. Experienciei um “modelo pré-Erasmus” muito enriquecedor.

Com colegas do polo UMinho da AIESEC - Associação Internacional de Estudantes de Ciências Económicas e Comerciais
"Trabalhar em ecossistema é crucial"
Que desafios enfrenta diariamente na qualidade de diretora de Comunicação, Relações Institucionais e Sustentabilidade do Super Bock Group?
Os desafios são vários e ainda bem que existem. Sem desafios não evoluiria. Contudo no contexto atual diria que o maior desafio é o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional num mundo em “ebulição”. Agir de modo rápido e com escala, mantendo o foco em gerar valor para a empresa e para a sociedade, é um enorme desafio diário. Deixar para as gerações vindouras o que os fundadores do Super Bock Group (sete microcervejeiras que em 1890 deram origem a esta empresa) criaram é, mais do que um desafio, uma paixão.
Enquanto profissional e gestora de equipas, que mensagem acha importante transmitir a quem vai entrar no mercado de trabalho?
“You are the sole master of your fate. You are the captain of your soul!” – uma mensagem que adotei do poema "Invictus", de William Ernest Henley e que tem sido o meu “mantra” ao longo do meu percurso profissional. Diria também que devem manter a inquietude, o gosto por aprender, por abraçar desafios e a capacidade de escutar, observar, mas também de experienciar.
Esteve algum tempo a trabalhar nos Países Baixos e tem sido responsável por equipas espalhadas por diferentes continentes. O que lhe trouxe, e ainda traz, essa experiência internacional? Que especificidades de cada geografia destacaria como mais relevantes?
Trabalhar fora de Portugal permitiu-me sobretudo “trabalhar” a resiliência e “tolerância”, quer em termos pessoais quer profissionais. Aceitar a beleza da diversidade, a riqueza dos desafios e a tranquilidade para aceitar que, seja num novo país, numa nova empresa ou função, todos precisam de um período de adaptação, que pode ser maior ou menor, porque somos todos únicos e diferentes. Trabalhar fora permitiu-me também compreender os impactos que podemos vivenciar em termos de performance individual, das equipas, bem como na vida familiar, em face dos contextos culturais – do(s) país(es), da diversidade internacional nas equipas, etc. Aceitar quer o ciclo de adaptação, quer a diversidade cultural é fundamental para sermos mais produtivos e termos uma vida mais equilibrada e feliz.
É uma das mentoras do programa Mentorias UMinho. Que mais-valias acha que este traz aos estudantes na transição para o mercado de trabalho?
Diria que o programa Mentorias UMinho traz várias mais-valias que vão desde a exposição à realidade de trabalho nas empresas, passando pelo debate de ideias, pela reflexão sobre vários temas que inquietam os estudantes e pela aprendizagem mútua.
Que importância tem para si e para o Grupo em que trabalha a ligação às universidades, em especial à UMinho?
A ligação à Academia é fundamental para as pessoas e empresas que têm gosto e apostam continuamente no empreendedorismo, na investigação e inovação. Trabalhar em ecossistema é crucial nos dias de hoje e, por isso, a ligação às universidades é essencial. No Super Bock Group temos uma longa e estreita colaboração entre a nossa equipa de R&D&I com o Departamento de Engenharia Biológica da UMinho.

Numa sessão do programa Mentorias UMinho, partilhando experiências com alunos desta academia
As preferências de Graça Borges
Um livro. São vários, mas refiro o que li recentemente: “Speed & Scale”, de John Doerr.
Um filme. "Out of Africa", de Sydney Pollack.
Uma série. A série documental "A Pedalar pelo Japão".
Uma música. Muita - de clássica ao pop rock, passando pelo jazz.
Um clube. Só mesmo "O Clube dos Poetas Mortos”. [sorriso]
Um desporto. Trekking.
Uma viagem: Patagónia.
Um vício. Sem vícios (acho eu)! [sorriso]
Um prato. Um bom bacalhau cozido com legumes.
Uma personalidade. Nelson Mandela
Um momento. O nascimento da minha filha há 17 anos.
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