Os desafios em conectar moda, têxtil, desporto e tecnologia

11-08-2023 | Daniel Vieira da Silva

Daniel Vieira abordou o tema na sua tese doutoral em Design de Moda

O estudo foi desenvolvido sob orientação dos professores Bernardo Providência e Hélder Carvalho

A modalidade de esgrima pode beneficiar desta incorporação de sensores nos têxteis

As soluções têxteis no ciclismo e esgrima foram o seu objeto de estudo

Sensores enviam informação acerca da frequência cardíaca para um software externo

Há já várias soluções no mercado que introduzem tecnologia diversa nos têxteis

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O designer industrial e investigador Daniel Vieira introduziu diferentes tecnologias em vestuário nas modalidades de ciclismo e esgrima.




Design de moda e inovação tecnológica são dois conceitos que há muito caminham lado a lado. Se a esta junção introduzirmos a vertente desportiva ativa-se um contexto mais específico a um paradigma que conhece atualizações a cada minuto. Foi isso que fez Daniel Vieira na sua tese doutoral em Design de Moda pela Escola de Engenharia da UMinho (EEUM) e pela Universidade da Beira Interior, onde abordou, com base em dois produtos aplicados ao ciclismo e à esgrima, os desafios colocados à ligação e integração destes universos. Implementar na roupa desportiva a inovação e design, tanto pela tecnologia têxtil eletrónica como pelos materiais/acabamentos têxteis, foi o grande desafio do seu trabalho, intitulado “Metodologias de Design para Produtos Têxteis Inteligentes na Área do Desporto”.

Licenciado em Design de Produto e mestre em Design Integrado pelo Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Daniel Vieira obteve recentemente o grau de doutor no âmbito do projeto “Technologies for Sustainable and Smart Innovative Products”, promovido pelo Departamento de Engenharia Têxtil, em parceria com o Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil (2C2T) e o Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT). A sua tese foi coorientada pelos docentes Helder Carvalho, da EEUM, e Bernardo Providência, da Escola de Arquitetura, Arte e Design (EAAD) da UMinho.

O investigador, a partir da compreensão do que está feito neste campo, da sistematização de tecnologias passíveis de serem integradas e dos requisitos do utilizador, desenvolveu um trabalho centrado em dois produtos inteligentes na área do desporto. No primeiro estudo, como o nome “Smartsuit”, aplicou o modelo “Duplo Diamante” e teve como foco o desenvolvimento de um skinsuit inteligente para o ciclismo, adotando um dispositivo com elétrodos integrados na zona superior das costas. Este aparelho monitoriza a frequência cardíaca por eletrocardiografia e envia depois a informação para uma aplicação móvel.

Já no segundo estudo, como o nome “Avantgarde”, Daniel Vieira aplicou o modelo “Design Centrado no Utilizador” e teve como foco o desenvolvimento de um uniforme inteligente para a modalidade de esgrima, com um sensor de pressão piezorresistivo flexível integrado no têxtil. Esse dispositivo foi capaz de capturar o desempenho do toque da arma, facilitado assim a arbitragem e pontuação do jogo. O uniforme desenvolvido dispunha ainda de sensores inerciais acoplados ao têxtil, que eram capazes de capturar e rastrear os movimentos do atleta e de diferentes zonas corporais através da transposição do movimento para um modelo tridimensional digital. O designer industrial e investigador acredita que este segundo estudo “corresponde já a uma maturação da temática, onde é possível contactar com o utilizador e identificar os seus requisitos funcionais, design e preferências”.



Mercado diversificado e com forte concorrência
 
O autor admite que “ambos os estudos foram desenvolvidos considerando a possível comercialização”. No entanto, salienta o elevado custo que esse mesmo desenvolvimento acarreta. “Se o projeto concebido para o ciclismo é de menor investimento e com maior número de consumidores, o projeto para a esgrima é de maior investimento e com menor número de consumidores; neste último, verifica-se que quanto mais simples, prática e discreta é a aplicação dos sensores ou componentes eletrónicos na superfície têxtil vestível, mais natural se torna o design”, explica o investigador, que voltará à docência na EAAD, na área do design de produto.

Ao ser comercialidado, a concorrência é gigante. “O mercado de roupas inteligentes é mais diversificado do que à partida se possa imaginar”, começa por afirmar o investigador, exemplificando com soluções médicas e de segurança existentes, entre outras. Daniel Vieira destaca as t-shirts inteligentes com capacidade de monitorizar a frequência cardíaca e atividade física que são aplicadas em desportos como corrida, remo, alpinismo, esqui, combate, bem-estar e reabilitação por marcas como a AiQ Smart Clothing, OMsignal Smart Clothing, Ralph Lauren, Hexoskin e Athos Coaching.
 



A modalidade da esgrima pode beneficiar desta incorporação de sensores nos têxteis


Como ter cada vez mais informação acerca da atividade física através dos têxteis?

“É preciso compreender que uma roupa dita inteligente exige uma unidade central de processamento que processe os dados dos diferentes sensores e/ou atuadores integrados no têxtil e espalhados pela estrutura têxtil e que essa integração está intrinsecamente ligada à evolução da tecnologia”, alerta o investigador. Lembra ainda que, para o seu desenvolvimento, é ainda necessário considerar o hardware (dispositivo) e o software (aplicação móvel), assim como os interfaces de entrada e saída existentes.

“A complexidade de um sistema inteligente consiste basicamente nas seguintes funções: interface de entrada, interface de saída, unidade de processamento de dados, dispositivo de comunicação, gestão e armazenamento de dados, integração de circuitos e gestão de energia e de outras especificações técnicas, como tamanho e duração da bateria ou a forma do sensor devem ser considerados. Todos estes afetam os requisitos de aparência visual de uma roupa inteligente, que provaram ser cruciais, além do conforto e da usabilidade”, refere.



Tecnologia ajudará em operações militares e viagens aeroespaciais
 
Para o investigador, que recentemente esteve ligado ao Centro de Engenharia Mecânica e Sustentabilidade de Recursos (MEtRICS), é importante continuar a estreitar os laços entre o design de moda e a inovação tecnológica. “O design de roupas inteligentes continua a ser tecnologicamente desafiante, enfrentando inúmeros desafios, como a integração 'invisível' da tecnologia, passando pela problemática da lavagem”, realça. Nota, no entanto, que esta junção “oferece ao utilizador novas funcionalidades”.

Daniel Vieira prevê benefícios diretos desta junção “inicialmente aplicadas no âmbito militar e em viagens espaciais”. “As roupas inteligentes já permitem benefícios nas áreas médica, da segurança e desportiva, através de fatores como a monitorização, o diagnóstico e o alerta. O seu potencial é tão diversificado como diferenciado, tanto pelas funções como pelos setores de aplicação. A utilização e evolução de periféricos como o telefone inteligente permitiu alcançar novas potencialidades dinâmicas e interativas”, evidencia.