“Antes trabalhava-se com mais tempo”

22-12-2023 | Paula Mesquita | Fotos: Nuno Gonçalves

Começou a trabalhar na então Unidade Pedagógica de Letras e Artes da Universidade do Minho, em 1980

Esta academia era ainda muito jovem: “Éramos poucos funcionários e tornava-se muito fácil conhecermo-nos todos”, recorda

Sempre ligada a funções técnicas e administrativas, acompanhou a evolução da Unidade, que, em 2021, se tornou na ELACH

Gosta do que faz: “São tarefas diversificadas, que todos os dias me desafiam a melhorar e a aprender”, diz

Vive um dia de cada vez. Quando se reformar, gostaria de retomar as leituras e fazer uma viagem, confessa

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Conceição Martins

Tem 62 anos e nasceu em Braga, onde vive. A técnica superior começou a trabalhar na UMinho em 1980, ainda a Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas era a Unidade Pedagógica de Letras e Artes. Já lá vão 43 anos!



Quando começou a trabalhar na Universidade do Minho?
Eu tinha 19 anos. Foi no dia 10 de novembro de 1980, na Unidade Pedagógica de Letras e Artes (UPLA). Era assim que se chamava na altura a atual Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas (ELACH). Ficava no 1º andar do edifício onde é agora a sede da Associação Académica [na Rua D. Pedro V, em Braga].
 
Como se proporcionou a sua vinda?
Sabia da possibilidade de me candidatar à Universidade do Minho e por isso fui aos serviços centrais, no edifício da Reitoria, entregar uma ficha de candidatura. Passados uns meses, chamaram-me para substituir dois colegas que trabalhavam nas Letras e Artes. Fui recebida pelo professor Hélio e assim comecei o meu percurso nesta academia! [sorriso]
 
O que recorda desses primeiros tempos?
Inicialmente trabalhava sozinha na UPLA. Comecei por prestar apoio administrativo à presidência da Unidade e aos docentes dos cursos de licenciatura de Formação de Professores em Português-Francês e Português-Inglês. Eram as duas únicas licenciaturas associadas à UPLA em funcionamento. Mas tive sempre a sorte de contar com a ajuda das colegas que trabalhavam no Departamento de Matemática e na Unidade Pedagógica de Ciências Económicas e Sociais, que agregava aquilo que são hoje a Escola de Economia e Gestão e o Instituto de Ciências Sociais. A UMinho estava numa fase bastante inicial e a organização era também diferente.
 
A UMinho era muito jovem.
Sim, tinha poucos anos. Havia poucos funcionários e era fácil conhecermo-nos todos. A comunicação fluía com muita facilidade. Havia tempo, trabalhava-se com calma. Na época, comecei com uma máquina de escrever manual. [sorriso] Pouco depois, tivemos uma máquina elétrica que memorizava apenas frase a frase. Não havia fotocopiadora. Existia uma máquina de stencil (policopiador) para fazer cópias dos materiais pedagógicos dos professores para os alunos. A universidade foi crescendo e, naturalmente, todas as suas unidades dependentes. A UPLA passou a ser uma Unidade Científico-Pedagógica e, anos depois, com a criação de novos cursos, nomeadamente os vocacionados para o ensino de línguas estrangeiras e de Português e as alterações à estrutura organizativa e estatutária, converteu-se em Instituto de Letras e Ciências Humanas. Em 2021, e depois da criação das licenciaturas em Música e Teatro, o Instituto voltou a integrar o termo “Artes” na sua designação e passou a chamar-se Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas.


Conciliar estudos e trabalho
 
Como foi o seu percurso profissional neste período?
Comecei com um contrato de aquisição de serviços e assim estive em diferentes modalidades precárias de contratos até março de 1986, passando então a integrar o quadro da UMinho. No ano anterior, o Governo descongelou algumas vagas por categoria/carreira, permitindo a abertura de diversos concursos. Candidatei-me e fui admitida. Em 1982 fiz um pequeno interregno de nove meses, trabalhando na Câmara Municipal de Vila Verde, mas no final preferi voltar para a Unidade de Letras e Artes. Fui evoluindo na categoria até me tornar chefe de Secção. Em 2016, já licenciada, iniciei funções na carreira de técnico superior, pela via da mobilidade intercarreiras.

Depois de vários anos de trabalho, decidiu voltar a estudar. O que a fez tomar essa decisão?
Quis alargar os horizontes. Tinha muito interesse pela área da Psicologia, mais especificamente, pela Psicologia da Justiça. Curiosamente, durante o curso interessei-me pelas áreas da Psicologia Cognitiva e pelas Neurociências.
 
Como foram os seus anos de estudante?
Não foram fáceis. O facto de ter de conciliar os estudos com o trabalho, ter um filho pequeno e outra filha ainda bebé, a somar a um problema grave de saúde, levaram-me a várias interrupções. Só terminei a licenciatura em 2013. Mas gostei muito. Tive pena de não poder assistir regularmente às aulas, pois teria sido ainda mais interessante. Porém, ainda que se tivesse alongado no tempo, decidi terminar a licenciatura, mas já sem intenção de exercer nessa área.


A paixão pela leitura
 
O que a marcou mais ao longo destes 43 anos?
A nível pessoal, foi o nascimento dos meus filhos, ter conhecido o meu companheiro e ter conhecido as muitas pessoas que se cruzaram na minha vida e que me marcaram positivamente. Profissionalmente, marcou-me o facto de poder ter acompanhado o grande crescimento da Universidade do Minho e as escolhas que fui fazendo durante esse período. Houve momentos menos bons e um, pessoal, do qual sei que nunca recuperarei.
 
Quais são os maiores desafios do exercício das suas funções?
Desempenho funções técnico-administrativas: faço a gestão do orçamento da ELACH, presto apoio aos processos dos concursos de docentes e desempenho tarefas de responsabilidade ao nível da presidência, no âmbito do funcionamento geral da Escola. Gosto do que faço. São tarefas diversificadas, que todos os dias me desafiam a melhorar e a aprender. E é assim quero continuar até me reformar.
 
Que planos tem para o futuro?
Há algum tempo que vivo um dia de cada vez. Não sei o que farei amanhã. Quando me reformar, em princípio daqui a dois anos, logo verei. Gostaria de, pelo menos, retomar as minhas leituras, que abandonei há algum tempo, e também de fazer uma viagem.
 
 

  Curiosidades
 
  Um livro. “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago.
  Um filme. “As Vinhas da Ira”, de John Ford.
  Uma música. “Space Oddity”, de David Bowie.
  Uma figura. Marie Curie.
  Um passatempo. Jardinagem e caminhadas na natureza.
  Um prato. Peixe com legumes grelhados.
  Uma viagem. Islândia.
  Um momento. O nascimento dos meus filhos.
  Um vício. Adoro chocolate negro!
  Um defeito. Sou muito teimosa.
  Um sonho. Ver crescer a minha filha com saúde e feliz.
  Um lema. Agir sempre de acordo com as minhas convicções.
  A UMinho. Uma parte importante da minha vida.