2C2T está a contribuir para a indústria têxtil mais sustentável e responsável

28-03-2024 | Pedro Costa | Fotos: Nuno Gonçalves

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Equipa de Diana Ferreira prepara novas estruturas têxteis e novos acabamentos funcionais a partir de biomassa marinha e redes de pesca descartadas.




Diana P. Ferreira é uma jovem investigadora do Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil (2C2T) e do Departamento de Engenharia Têxtil da Escola de Engenharia da UMinho, em Guimarães. Entre os trabalhos científicos em que participa está o Pacto da Bioeconomia Azul, que visa impulsionar o desenvolvimento de um novo setor económico industrial, assente na aplicação sustentável de biorecursos marinhos. Defendendo um novo paradigma inovador e descarbonizador, que olha para o mar como solução para a escassez de recursos naturais terrestres, o projeto envolve as contribuições do 2C2T através de novas estruturas têxteis e novos acabamentos funcionais, a partir da biomassa marinha (macro e microalgas) e de redes de pesca descartadas. Em conversa com o NÓS, ficamos a conhecer mais sobre os trabalhos que Diana Ferreira tem em mãos.

A investigadora de 38 anos, natural de Espinho, centra-se no desenvolvimento de materiais sustentáveis, inteligentes e inovadores (como fibras de base natural, 
utilizando em especial técnicas de eletrofiação e fiação húmida), bem como no desenvolvimento de biomateriais e na síntese de nanomateriais. A aplicação desse conhecimento aborda diferentes áreas, incluindo terapia fotodinâmica do cancro, engenharia de tecidos, sistemas de administração localizada de medicamentos, têxteis multifuncionais inteligentes, equipamentos de proteção individual. Além de lecionar várias disciplinas no curso de Engenharia Têxtil, coordena projetos de I&D e em colaboração com empresas. Tem mais de 60 artigos publicados e de 70 comunicações em vários países.
 
 
Quais são os principais contributos do Pacto da Bioeconomia Azul?
Este projeto nasceu como uma candidatura às agendas mobilizadoras para a inovação empresarial, previstas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) português. O consórcio é formado por 83 entidades nacionais e liderado pela Inovamar SA. A equipa do 2C2T, inserida no vertical têxtil do projeto - liderado pela TMG Textiles -, está comprometida com o aproveitamento de redes de pesca descartadas e biomassa marinha para o desenvolvimento de novas estruturas têxteis funcionais. Pretendemos conseguir malhas inovadoras com recurso a fios produzidos com redes de pesca descartadas e extrair materiais poliméricos de macroalgas para o desenvolvimento de novos filamentos capazes de serem transformados em estruturas têxteis avançadas. Ao mesmo tempo, queremos aproveitar as macro e microalgas para a funcionalização de estruturas têxteis com várias propriedades, como antimicrobianas e antioxidantes. Tudo isto tendo sempre em conta a sustentabilidade dos processos e dos materiais aplicados.
 
Em que medida este desenvolvimento pode ser um aliado na sua aplicação à sociedade?
Dado o crescente impacto da indústria têxtil, sabemos que devemos reduzir cada vez mais a utilização de materiais de origem fóssil ou não renováveis para a produção de novos fios. Além disso, devemos encontrar alternativas sustentáveis aos recursos tradicionais para evitar a sua escassez e diminuir o impacto ambiental. Desta forma, queremos usar resíduos (como as redes de pesca) e de biomassa marinha (como as algas e microalgas, que nalguns casos são uma ameaça ao ecossistema marinho) para a produção de materiais têxteis surge como uma alternativa sustentável e inovadora. Por outro lado, o aproveitamento da biomassa marinha para a funcionalização das estruturas têxteis com propriedades antimicrobianas e antioxidantes pode ter impactos muito significativos. Por exemplo, a redução da utilização de compostos sintéticos nos processos de tingimento e acabamentos. A aplicação destas inovações na indústria têxtil pode gerar oportunidades económicas significativas, incluindo novos produtos, criação de emprego e maior competitividade das empresas portuguesas no mercado global. Em resumo, o Pacto da Bioeconomia Azul tem o potencial de ser um aliado valioso na sua aplicação à sociedade, proporcionando soluções sustentáveis, funcionais e economicamente viáveis para os desafios enfrentados pela indústria têxtil e pela sociedade como um todo.
 
Que passos serão dados na próxima fase?
Ao integrarmos este projeto que envolve diversas entidades do panorama empresarial, reconhecemos a necessidade de acelerar a investigação, isto é, conseguir em pouco tempo produtos e soluções capazes de serem produzidos em parceria com as empresas do consórcio, respondendo aos desafios inicialmente propostos. Desta forma, conseguimos já produzir filamentos com base em macroalgas e também diversas formulações de microalgas para a funcionalização de têxteis. Nesta fase está também incluída a caracterização e a avaliação das propriedades dos nossos materiais para, numa fase posterior, conseguirmos aplicar as nossas soluções a nível industrial. Estamos assim comprometidos na otimização de soluções para que, no final de 2025, o desenvolvimento dos nossos materiais esteja concluído.
 


Ligada a cinco projetos PRR

Que outros projetos em que está envolvida lhe causam expectativas?
Ultimamente, tenho dedicado grande parte da minha investigação a vários projetos do PRR: o Pacto da Bioeconomia Azul, o Be@t, o Lusitano, o Giatex e o BioShoes4All. Na UMinho, têm também a cocoordenação do professor Raul Fangueiro. Estes projetos são um desafio constante e todos estão relacionados com a economia circular, o aproveitamento de resíduos e novas soluções para a indústria têxtil. Devido à relevância destas temáticas e à urgência de encontrar soluções, sinto-me com a elevada responsabilidade de tentar contribuir para resolver alguns dos problemas atuais da indústria têxtil e do meio ambiente, contribuindo para um futuro melhor. Estou convicta de que estes projetos contribuirão para o meu crescimento científico, da nossa equipa de investigação, do próprio 2C2T, da Escola de Engenharia e da UMinho. Penso que a nossa dedicação abrirá novas possibilidades de colaboração com o tecido empresarial, com a sociedade em geral e contribuirá para consolidarmos esta área de investigação.
 
Quais são os maiores desafios contemporâneos da investigação na área têxtil?
A indústria têxtil enfrenta desafios muito significativos. Desde logo, a necessidade de desenvolver materiais e processos mais sustentáveis, em resposta às crescentes preocupações ambientais. É imperativo encontrar alternativas aos materiais tradicionais e explorar técnicas de produção que reduzam o consumo de recursos naturais e a produção excessiva de resíduos. Devemos centrar esforços na procura de novas fontes naturais de fibras, nomeadamente a biomassa marinha, as plantas ou resíduos de plantas que ainda são pouco explorados e até algumas espécies invasoras. Outro desafio importante é o aproveitamento de resíduos. Nos próximos tempos, a indústria têxtil será alvo de forte regulamentação relacionada a processos de reciclagem.

O que é preciso concretizar?
Devemos estar alinhados com o desafio de aproveitar todos os resíduos das várias fases de produção para desenvolver novos fios reciclados, utilizando grandes percentagens de fibras recicladas. Além disso, é preciso otimizar os processos de reciclagem e separação, com vista ao melhor aproveitamento dos têxteis pós-consumo. É também de notar que a rápida evolução da tecnologia está a transformar a indústria têxtil, exigindo que os investigadores acompanhem constantemente as inovações e adaptem as suas abordagens de investigação. Isto inclui a integração de tecnologias digitais, como a impressão 3D e a fabricação digital, para criar produtos e processos mais eficientes. Em resumo, os maiores desafios neste setor envolvem a procura pela sustentabilidade, a adaptação às inovações tecnológicas e a garantia de qualidade e conformidade regulatória num ambiente global em constante mudança.