“Quando o sol nasce é para todos”
SAIDATINA DIAS
Licenciada em Educação de Infância (2005), é mediadora cultural da Câmara Municipal de Braga e presidente da Associação de Imigrantes Senegaleses em Portugal.
Natural do Senegal, vive em Portugal há 25 anos. O seu dia de nascimento é uma data-chave deste país. Isto traz um significado especial para si?
Quando cheguei a Portugal, era o primeiro comentário que me faziam quando apresentava o meu documento de identificação. Esse espanto suscitou em mim uma curiosidade acentuada sobre os acontecimentos do 25 de Abril. O sentimento da maioria dos portugueses relativamente a essa efeméride é equiparado ao do dia 4 de Abril de 1960, data que assinala a independência do Senegal.
Como viveu o período dos primeiros anos de independência do seu país natal e em África o que se falava sobre Portugal?
Lembro-me perfeitamente da efervescência com que se celebrava esse dia quando era mais pequena. Na escola primária, costumávamos, após uma semana de treino, participar no desfile da independência na praça principal da cidade e perante o governador civil da região. Íamos todos fardados com lindos uniformes. Não sendo o Senegal uma antiga colónia portuguesa, Portugal não tinha tanta atenção da nossa parte, a não ser quando se abordava o tema dos descobrimentos. Neste caso em particular, era descrito como um país aventureiro, ideia reforçada nos manuais escolares.
Quais são os desafios atuais da democracia?
Refletindo sobre os desafios da democracia e do mundo atual, o sentimento que mais me invade é o da incerteza. O facto de vivermos há tanto tempo num clima de paz faz com que a maioria das pessoas, nomeadamente as novas gerações, encarem a democracia como um dado adquirido quando o redobrar de esforço para manter o equilíbrio é mais do que necessário. Por exemplo, encaro com alguma perplexidade o discurso de retrocesso sobre os direitos e as liberdades que as mulheres foram conquistando em Portugal. Mais inquietante ainda é o surgimento cada vez maior de pessoas que defendem estes ideais como a única maneira de ser e estar na sociedade. Quando o sol nasce é para todos. O 25 de Abril trouxe às mulheres a liberdade de escolha e estamos dispostas a lutar para preservar isso.
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