A matemática que ganhou vida e alegria no ecrã
Chama-se Inês Guimarães, mas é mais conhecida como MathGurl. Natural de Guimarães, divide o tempo entre a licenciatura em Ciências da Computação na UMinho e o canal de YouTube que criou quando tinha 17 anos. É neste espaço que tenta encontrar um lado divertido na matemática e explicar que esta, tal como outras ciências, não é um “bicho-de-sete-cabeças”. Naquele que se auto-intitula como o "primeiro canal do YouTube sobre Matemática em Portugal", aborda-se a álgebra abstrata, a teoria dos números, a geometria, mas também se lançam questões aos seguidores... obrigando-os, sempre, a utilizar a matemática para os solucionar. Neste momento são mais de 110 mil os seguidores que se aventuram com a Inês no mundo dos números e da ciência. Viajam através de cerca de 170 vídeos criados e que já geraram mais de 5 milhões de visualizações.
Inês, que já concluiu um mestrado em Matemática antes de chegar à UMinho, explicou-nos que quando criou o canal de YouTube “não tinha muitos amigos com quem falar sobre a matemática”. Juntou a isso o gosto pela comunicação e decidiu enfrentar uma câmara. “Queria mesmo que as pessoas percebessem que a matemática existe para além das quatro paredes da sala de aula e pode ser fascinante e divertida”, realçou. O processo criativo que cumpre para lançar mais um vídeo "é muito natural”, confessa. Aponta a ideia, investiga-a, consulta mais fontes de informação e elabora um guião do vídeo a produzir. “É obrigatório ter sempre um toque humorístico e uma narrativa descontraída. Gosto de falar sobre curiosidades matemáticas, paradoxos, história da matemática e até mesmo expor tópicos avançados de uma forma simples”, exemplificou.
Será assim tão complicado descomplicar a matemática? “Sim e não”, respondeu. “Descomplicar a matemática em si não é o mais complicado, difícil sim é conseguir levar esses conteúdos às pessoas que gostam menos da área”, argumentou. “Há sempre tendência de a matemática ser consumida por quem já gosta de matemática, formando-se uma espécie de bolha, e por isso tento fazer vídeos dinâmicos e divertidos, abordando outros temas pelo meio. Pode ser que os que têm aversão à matemática consigam aprender qualquer coisa sem se aperceberem disso”, sustentou. “É como misturar xarope em sumo para disfarçar o sabor amargo”, gracejou. No entanto, tal como Andreia, sente responsabilidade pelo material audiovisual que produz: “Tenho que ter cuidado para não dizer algo cientificamente incorreto e, também sei, não tocar em tópicos sensíveis como religião ou política, mesmo sendo na brincadeira”. Ainda assim, congratulou-se por saber que a sua voz e as suas ideias são ouvidas. “Fico contente por contribuir significativamente para que mais pessoas desenvolvam uma relação positiva com a matemática e com o conhecimento em geral”, afirmou.
Recentemente, a jovem tem optado pela produção de vídeos mais curtos no Instagram, relegando a produção de conteúdos no YouTube para um segundo plano. Consegue “estabelecer uma maior proximidade com os seguidores” e com eles “trocar diariamente várias mensagens”. "Seria interessante os professores passarem mais vídeos curtos sobre um determinado tópico no início ou durante a aula, por forma a motivar os alunos para o tema”, admitiu. Explicou que seria relevante ver docentes a adotar “alguns dos truques” que usa nos seus vídeos durante a aula, com o intuito de captar a atenção dos alunos. No entanto, a MathGurl lembrou que “para alguém ser bom a matemática tem que estudar bastante e resolver muitos problemas" e "não basta ver vídeos na Internet de forma passiva". Ou seja, tem que haver espaço para a “matemática da escola”, que pode ser um pouco mais aborrecida e repetitiva, mas "é também mais sólida", concluiu.
Inês Guimarães (MathGurl) já lançou um livro, tem um canal de sucesso no YouTube e ainda ministra/participa em workshops e palestras
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