O Natal é frequentemente retratado como um período festivo, repleto de emoções positivas, marcado pela partilha de momentos especiais com pessoas significativas e pela celebração da união. As relações familiares e de amizade são especialmente valorizadas nesta época, podendo contribuir para o aumento do bem-estar emocional. Além disso, para muitos, o contexto natalício – como a decoração, os presentes e as luzes – é vivido com entusiasmo, gerando sentimentos positivos.
No entanto, o Natal pode também ser uma época particularmente desafiante, desencadeando sentimentos como angústia, tristeza ou ansiedade. A construção social frequentemente associada ao Natal, que o retrata como um momento de união e harmonia, pode contrastar negativamente com a realidade e a experiência de cada pessoa. Os encontros familiares podem trazer dificuldades e conflitos relacionais ou implicar o confronto com perdas de entes queridos. Este período pode ainda evocar memórias dolorosas, acentuar a ausência de pessoas próximas e desencadear sentimentos de tristeza e solidão. Todos estes fatores podem transformar esta época num momento de maior sofrimento emocional.
Encontrar equilíbrio e bem-estar durante a pausa natalícia poderá passar por uma reflexão sobre o que verdadeiramente importa para cada um de nós. Respeitar as nossas necessidades individuais, reconhecer o nosso contexto pessoal e familiar e estabelecer limites poderá ser útil na promoção do bem-estar emocional nesta época. Poderá incluir a presença em reuniões familiares ou de amizade mais alargadas, encontros mais intimistas, a realização de atividades que nos proporcionem prazer, a criação de oportunidades para nos conectarmos com outras pessoas ou, até mesmo, de estarmos sozinhos.
O Natal não precisa de ser perfeito nem de corresponder a expectativas sociais desalinhadas com o nosso contexto ou perspetiva pessoal. Pode, simplesmente, ser vivido de forma autêntica, segundo o que é mais importante para cada um de nós, permitindo a criação de um significado positivo – ou até relativamente neutro.
Psicóloga clínica e psicoterapeuta, investigadora no Laboratório de Psicoterapia e Psicopatologia do CIPsi - Centro de Investigação em Psicologia e professora convidada na Escola de Psicologia da Universidade do Minho