Biografia de um humanista lutador
Joaquim Victor Baptista Gomes de Sá (1921-2003), filho de uma professora primária e um militar, nasceu em Cambeses e veio na infância para Braga. Presidiu a associação de alunos do Liceu Sá de Miranda e desde cedo mostrou interesse pela dinâmica cultural e política. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas em Coimbra, em 1959, e foi nomeado professor da Escola Comercial de Braga, mas impedido de ensinar por não ser “do regime”. A Fundação Calouste Gulbenkian concedeu-lhe uma bolsa em 1963 para o doutoramento na Sorbonne (França), que concluiu em 1969, com a tese "A Crise do Liberalismo e as primeiras manifestações das ideias socialistas em Portugal (1820-1852)".
Só após a revolução, aos 53 anos, reconheceram-lhe o grau e pôde lecionar na Universidade do Porto. Ainda assim, viveu certas hostilidades, como a reprovação nas provas académicas de agregação (sobre o Movimento Operário Português), por motivos que lhe custou a aceitar. Também lecionou no primeiro dia de aulas da UMinho, a 17 de dezembro de 1975, e regeu algumas cadeiras durante dois anos. Mais tarde esteve na Lusófona, que hoje mantém uma biblioteca com o seu nome. Victor de Sá tornou-se em 1979 o primeiro comunista eleito do Norte (Porto excluído) à Assembleia da República. Foi ainda diretor do jornal “Correio do Minho”. Ao longo do tempo, aliou os estudos e a intervenção com a cultura, promovendo atividades e escrevendo livros como “Bibliografia Queirosiana", “As bibliotecas, o público e a cultura” e ”Roteiro da imprensa operária e sindical”. Foi condecorado em 1990 com a Ordem da Liberdade, pelo então Presidente da República Mário Soares.
No ano seguinte, num gesto de “grande generosidade e ineditismo”, Victor de Sá doou uma verba e boa parte do seu espólio à Biblioteca Pública de Braga (BPB)/UMinho, incluindo documentos de natureza histórica, política e literária, textos memorialísticos inéditos e ainda os direitos de autor da sua ampla bibliografia. Rentabilizando aquele acervo, a BPB e o Conselho Cultural da UMinho lançaram os livros “Estudos de História contemporânea de Portugal” (1991), “Testemunho de um tempo de mudança” (1999), “Legendas para uma memória” (2001) – a par do colóquio “Uma cidadania para a História” e da revista "Forum nº32” – e ainda “O Mundo continuará a girar (2011)”, sobre os 20 anos do Prémio Victor de Sá de História Contemporânea e a par de uma mostra fotobibliográfica alusiva.
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