A forte ligação à indústria torna o IPC um parceiro incontornável

31-05-2021 | Pedro Costa

Júlio Viana é investigador e diretor do Instituto de Polímeros e Compósitos, além de professor associado do Departamento de Engenharia de Polímeros da Escola de Engenharia da UMinho, em Guimarães

O Instituto de Polímeros e Compósitos situa-se no edifício 11 do campus de Azurém da UMinho, em Guimarães

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Júlio Viana

O ciclo de entrevistas com diretores dos centros I&D da UMinho destaca o Instituto de Polímeros e Compósitos, que é o único do país na sua área.


Fundado em 2003, o Instituto de Polímeros e Compósitos (IPC) é um centro científico organizado pelo Departamento de Engenharia de Polímeros da UMinho que tem como missão colaborar para o avanço da ciência e tecnologia de polímeros e compósitos. Pretende igualmente contribuir para a geração de valor acrescentado na indústria portuguesa de plásticos e moldes, bem como promover na sociedade a consciência da importância dos materiais plásticos. O IPC é baseado em quatro núcleos: estudos de processamento; design com plásticos; compostos poliméricos; e estrutura e comportamento de sistemas poliméricos. O IPC coordenou em 2005 a candidatura para se tornar um dos laboratórios associados nacionais, o Instituto de Nanoestruturas, Nanomodelagem e Nanofabricação (i3N), tendo mais recentemente integrado o Laboratório Colaborativo em Transformação Digital (DTx), em 2019, e o Laboratório Associado em Sistemas Inteligentes (LASI), em 2020O NÓS foi ao encontro do diretor do IPC, Júlio C. Viana, professor associado da Escola de Engenharia (EEUM), para conhecer melhor a realidade atual deste centro.


O IPC surgiu com que objetivos?
O Instituto de Polímeros e Compósitos está afiliada ao Departamento de Engenharia de Polímeros, sendo uma subunidade orgânica da EEUM e uma unidade de investigação da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Foi criado em 2003, motivado pela necessidade da criação e integração de um corpo de investigadores totalmente dedicados aos avanços e desafios científicos e tecnológicos colocados à ciência e engenharia de polímeros e compósitos, sendo neste aspeto único a nível nacional. A sua missão, desde o início, é contribuir para o avanço da ciência e engenharia de polímeros e compósitos, gerando conhecimento para aplicação na sociedade, criando valor acrescentado para a indústria nacional e promovendo na sociedade a consciência do papel e importância dos materiais poliméricos. Em 2005, o IPC coordenou a candidatura para se integrar num laboratório associado, criando-se o i3N. Em 2019, reorganizou a sua investigação e deixou o i3N, sendo membro fundador do DTx e, já em 2020, em parceria com 12 unidades de investigação nacionais, criou o LASI, aprovado recentemente pela FCT. O IPC sempre balanceou as suas atividades de investigação fundamental e aplicada, de modo a responder aos desafios da investigação com impacto na indústria e na sociedade.

Como se articula com as entidades parceiras?
As parcerias e a colaboração interinstitucional são essenciais na atividade do IPC, que sempre olhou para a investigação e inovação abertas e para a investigação de translação para o mundo real - indústria e sociedade em geral - como fundamentais. Colaboramos com as principais unidades de investigação nacionais e internacionais desta área de atuação, desenvolvendo projetos e publicações conjuntos. Temos uma forte ligação a centros de interface tecnológica, como o Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP) e o Laboratório Colaborativo DTx. De realçar ainda o forte envolvimento dos nossos investigadores em projetos de I&D com empresas industriais. 

Como descreveria as infraestruturas do IPC, para quem ainda não o conhece?
Os seus laboratórios são no Departamento de Engenharia de Polímeros da UMinho, em Guimarães. Possuem diversos equipamentos de suporte às atividades de investigação, relacionados nomeadamente com a caracterização de materiais, processamento de polímeros e compósitos, a monitorização de processos, a conceção e a caracterização de produtos. Assim, o IPC dá suporte técnico-científico ao longo da cadeia de conhecimento e aplicação dos materiais poliméricos e compósitos, desde a sua síntese e modificação até aos processos de fabrico e sua aplicação em produtos.



O IPC está envolvido há vários anos em projetos com a Bosch sobre a condução autónoma e a fábrica do futuro


Mais de 80 investigadores e 2 milhões de euros anuais em projetos I&D

Tem os recursos que deseja?
O IPC tem mais de 80 investigadores e um orçamento médio anual - nos últimos cinco anos - de cerca de 1,8 milhões de euros em projetos de I&D, sobretudo em parceria com a indústria nacional. A pressão sobre os recursos humanos é muito elevada em termos de disponibilidade de investigadores e de espaços para os instalar. Os espaços laboratoriais sofrem também uma elevada pressão para o adequado funcionamento e instalação de equipamentos científicos. O elevado número de projetos em execução obriga a uma gestão cuidada dos recursos. Em suma, os recursos atuais são satisfatórios, mas há a necessidade de mais espaços - laboratoriais e para investigadores - e do seu reequipamento e atualização dos equipamentos. Os recursos são sempre escassos em investigação, considerando o reduzido investimento em investigação em Portugal, sobretudo se se pretende desenvolver investigação a um nível equivalente a unidades de investigação internacionais.

Quais são as vossas principais áreas de investigação?
O IPC adota uma abordagem multidisciplinar, abrangendo e integrando as disciplinas científicas de química, física, engenharia e tecnologia de polímeros. As atividades abrangem três domínios científicos principais relacionados a materiais poliméricos: Síntese e Processamento; Modificação e Composição; e Propriedades, Desempenho, Conceção. São suportados por domínios tecnológicos como a modelação e as simulações de materiais, processos e produtos; a caracterização experimental; e as metodologias de engenharia de conceção. Estes domínios básicos permitem ao IPC abordar totalmente a cadeia de conhecimento técnico-científico desde a conceção - materiais, processos, produtos -, a produção/fabricação, a caracterização - materiais, processos, métodos - e, finalmente, a aplicação, uso e reutilização de polímeros e compósitos. O IPC desenvolve atividades de investigação básica, integrativa e aplicada e pretende contribuir para os avanços e aplicação do conhecimento nos seus vários domínios científicos, abordando importantes áreas de I&D. Em concreto, em Conhecimentos Básicos - Materiais avançados; Tecnologias avançadas de manufatura; Projeto de engenharia avançada; Áreas Integrativas de I&D - Integração de materiais avançados; Manufatura integrativa; Incorporação de funções em sistemas; Engenharia Imersiva; e Desafios Aplicacionais de I&D - Polímeros para aplicações avançadas; Economia circular; e Transformação digital. No IPC foram identificados três temas principais em torno dos quais as suas atividades são desenvolvidas: Sustentabilidade e Ecoeficiência;  Mais pequenos, mais fortes, mais inteligentes - materiais, processos, produtos; e Fabricação de elevado valor acrescentado.

Que balanço faz do percurso deste centro até ao momento?
O balanço é extremamente positivo. O percurso do IPC tem sido sempre feito numa elevada exigência científica, quer na quantidade como na qualidade dos resultados obtidos, que se refletem em publicações em revistas internacionais com maiores fatores de impacto, um maior número de patentes e uma maior preocupação por desafios societais. As parcerias de investigação criadas e desenvolvidas – o PIEP, o i3N, o DTx, ou o LASI – tem permitido ao IPC responder aos desafios técnico-científicos atuais colocados à indústria dos polímeros e compósitos e relacionadas, bem como às principais preocupações da sociedade. De facto, a interação com a sociedade, sobretudo com o tecido industrial e empresarial nacionais e internacionais, tem sido forte e crescente.

Qual é o principal fator da sua afirmação?
O principal fator de afirmação do IPC tem sido a forte ligação ao tecido industrial e à sociedade em geral. Tem também vindo a desenvolver atividades de investigação em colaboração com outras unidades de investigação nacionais em laboratórios associados reconhecidos (i3N, LASI), com entidades de interface tecnológica (como o PIEP e o DTx) e com o setor industrial dos polímeros, compósitos e moldes em Portugal.

Como avalia a recetividade dos públicos e da sociedade civil ao vosso trabalho?
O IPC sempre desenvolveu a atividade em estreita colaboração com a indústria e a sociedade, em geral. A recetividade externa tem sido elevada, sendo o IPC hoje reconhecido como um parceiro nacional incontornável no desenvolvimento de atividades de investigação tecnocientífica na área dos materiais poliméricos e compósitos, seus processos de fabrico e aplicações, na formação avançada de recursos humanos altamente qualificados e em atividades de divulgação geral.



O IPC é central no projeto "Better Plastics", que mobiliza as entidades nacionais do setor a potenciarem a transição para uma economia circular


Quais são os principais projetos para os tempos mais próximos?
O IPC está em vários projetos de I&D, nomeadamente com o tecido industrial. Por exemplo, o envolvimento em vários projetos mobilizadores nacionais liderados pela indústria (como os setores do calçado, embalagem, moldes, baterias), nos programas de investigação da parceria Bosch Car Multimedia/UMinho (HMI Excel, INNOVCAR, Easy Ride, iFactory, Factory of the Future) e em projetos dos clubes de fornecedores da Bosch e da Autoeuropa, entre outros. De salientar, dada a pertinência da sua atualidade, o projeto mobilizador do sector dos plásticos em Portugal, "Better Plastics", que pretende potenciar a transição deste setor para uma economia circular e que surge de uma iniciativa da Associação Portuguesa da Indústria dos Plásticos, para mobilizar o setor industrial e as entidades de investigação tecnocientífica relevantes, em que o IPC tem um papel central. O "Better Plastics" propõe-se assegurar a sustentabilidade da nova cadeia de valor do setor dos polímeros, através da criação de uma estratégia de I&D+i para o desenvolvimento de novos materiais, processos, tecnologias, produtos e serviços que respondam a desafios da circularidade dos polímeros em Portugal. Foi também aprovado recentemente pelo Norte2020 o projeto "MarPlas – Avaliação e valorização dos plásticos e microplásticos em ambiente marinho”, que integra o IPC e o Centro de Engenharia Biológica da UMinho e pretende desenvolver soluções para a reduzir e eliminar a contaminação dos oceanos por resíduos plásticos.

Em que medida projetos como o IPC contribuem para a missão da Universidade?
O IPC tem dado o seu humilde contributo para a missão da UMinho, uma vez que tem contribuído para a geração, a difusão e a aplicação de conhecimento, no seu domínio de atuação, criando assim condições para um maior crescimento, desenvolvimento sustentável e bem-estar da sociedade. Como única unidade de investigação nacional totalmente dedicada aos polímeros e compósitos, o IPC contribui também para a definição e implementação das políticas públicas e para uma melhor perceção pela sociedade do papel preponderante dos polímeros e compósitos para o seu desenvolvimento. Contribui, portanto, para a missão e o elevado impacto da Universidade na sociedade.

Quer deixar alguma mensagem final?
Os materiais poliméricos têm vindo a desempenhar um papel fundamental no nosso dia a dia, democratizando o uso de vários produtos/tecnologias e contribuindo para uma melhor qualidade de vida. Exemplo paradigmático disso é o uso de polímeros em embalagens e a sua grande contribuição para a preservação dos alimentos e para a saúde publica. A sua eliminação será, certamente, um retrocesso. As suas grandes vantagens - baixo peso, custo reduzido, elevada durabilidade, design versátil - são também as suas desvantagens, sobretudo dado o seu não-educado fim de vida. Os materiais poliméricos não são tóxicos, são altamente reutilizáveis e recicláveis. Nos últimos anos têm surgido novos polímeros de fontes renováveis - não petrolíferas - e novos designs com preocupações ambientais. Estes materiais continuarão a ter uma centralidade no nosso estilo de vida. Saibamos, como sociedade, utilizá-los de uma forma inteligente e mais sustentável.