Uma viagem à primeira semana académica

31-05-2022 | Daniel Vieira da Silva

Cacilda Moura é agora docente do Dept. de Física da UMinho e confessa que ainda participa, a convite dos seus estudantes, nas celebrações da semana académica.

A semana académica foi trabalhada com muita determinação por uma comissão organizadora.

Apesar do adiamento, foram cerca de duas dezenas de carros a participar no Cortejo Académico

As propostas para melhoria das instalações da UMinho marcaram a sessão solene de abertura.

Referências à 1ª Semana Académica da UMinho em alguns dos jornais da época.

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São 40 anos recordados numa conversa com Cacilda Moura, a então presidente da AAUMinho responsável pelo surgimento desta que já é uma tradição na academia.

Corria o ano letivo de 1982/83 quando, na Universidade do Minho (UMinho), se realizou a primeira Semana Académica. Volvidos praticamente 40 anos, mergulhamos no tempo com a ajuda da principal responsável pela introdução desta que já é uma tradição na academia minhota. Cacilda Moura, hoje professora do Departamento de Física da UMinho, era, à data, a presidente da Associação Académica da UMinho (AAUM), a entidade que desenha, programa e organiza a semana académica, hoje denominada “Enterro da Gata”.


Atualmente Cacilda Moura tem um olhar diferenciado sobre as vivências patentes nesta que é, para muitos, “a melhor semana do ano”.

A ex-presidente da estrutura representativa dos estudantes minhotos não esquece que entre as várias propostas da lista que venceu as eleições para a AAUM, a realização de uma “Receção ao Caloiro” e a “Semana Académica” acabaram por se concretizar. A primeira, em novembro de 1982 e a segunda, em maio de 1983.

Numa academia que era constituída por cerca de 1500 estudantes era necessário adaptar a programação “para que o impacto e adesão fossem os maiores possíveis”. Houve o desafio financeiro que, para Cacilda Moura, foi “a grande dor de cabeça”, uma vez que a AAUM não tinha recursos financeiros próprios na altura. “A solução encontrada foi solicitar financiamentos a algumas entidades, como a Reitoria, o Governo Civil de Braga, as Câmaras Municipais de Braga e Guimarães, entre outras”, explicou a ex-dirigente. Houve ainda vários desafios ao nível da logística do evento que, “com a incansável equipa que coordenou a organização”, foram ultrapassados e fizeram com que a semana fosse “inesquecível”, expressou. Ainda assim, a responsável não esconde um certo desconhecimento entre os pares, pois, neste caso, “iria ser feito algo que até então nunca tinha sido organizado na academia”.

Uma programação de luxo

A semana acarrancou no Largo do Paço. Foi no edifício da Reitoria que autarcas de Braga e Guimarães e deputados parlamentares se juntaram aos estudantes e a Lúcio Craveiro da Silva, Reitor à época, para aquela que foi a primeira sessão solene. Logo após decorreu a primeira tertúlia do programa onde foi debatido o papel do “Engenheiro pós-formado na indústria privada”. O dia terminou, no Largo da Sé, com as serenatas a serem interpretadas por um grupo de “cantares e guitarradas” de Coimbra.

A programação, feita em parceria com a Associação de Estudantes da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa, estava montada. Não houve Quim Barreiros, é certo, mas seria uma semana de festa que teria como cabeça de cartaz “o grande Tony Silva”, personagem de Herman José, uma peça teatro do grupo “Seiva Trupe”, um ciclo de cinema, um Festival da Canção e, obviamente, o primeiro Cortejo Académico.

Houve ainda espaço para uma exposição de filatelia, alguns debates – um deles sobre socorrismo -, um jogo de futebol entre estudantes da UMinho e da Faculdade de Filosofia e o baile de encerramento.
 

Cortejo abençoado, cortejo adiado
 
Cacilda Moura lembra que o cortejo académico “estava inicialmente previsto para o dia 11 de maio, mas teve de ser adiado porque, nesse dia chovia torrencialmente em Braga. “Mas concretizou-se, com imenso sucesso, uma semana depois, tendo inclusivamente havido referências ao cortejo académico do Minho na Assembleia da República”, explicou. 

O trajeto era bem diferente do habitual. Foram três horas com início e fim no parque municipal de exposições, com passagens pela Avenida da Liberdade, Rua 25 de Abril, Avenida 31 de Janeiro e Largo São João do Souto. Na varanda do Museu Nogueira da Silva, em pena Avenida Central, e tal como ainda hoje acontece, dispunha-se a tribuna das entidades oficiais.

Deste cortejo fizeram parte 13 carros alegóricos da UMinho e quatro da Faculdade de Filosofia. Estavam ainda representados veículos da Câmara Municipal, Associação Industrial do Minho e Associação Comercial de Braga.
 

A partir de 1989, no mandato de Luís Novais como presidente da AAUM, e recuperando o evento criado cem anos antes pelos alunos do Liceu de Braga e que teve várias interrupções no século XX, a Semana Académica passou a designar-se de Enterro da Gata. Para Cacilda Moura, “mudaram imensas coisas, felizmente”.

Atualmente na posição de professora, Cacilda Moura olha “com naturalidade” para o Enterro da Gata e diz ficar “satisfeita que haja um momento no percurso académico dos estudantes em que alguns rituais de passagem, entre anos letivos ou final de curso, sejam manifestados publicamente”.

Cacilda Moura considera que os docentes têm visões diferentes desta tradição: “Penso que o olhar de cada um dos nós, professores ou não, é sempre condicionado pelas vivências de cada um. Para quem participou em manifestações semelhantes, penso que olha com naturalidade embora com algum olhar crítico sobre algumas das manifestações onde os excessos são patentes”, registou a ex-presidente da AAUM.

Não tem dúvidas em reconhecer a imposição de insígnias e o cortejo académico como sendo os momentos que mais lhe dizem e revela-se “impressionada” por ver o orgulho das famílias dos estudantes nesses momentos.


"O espírito académico é muito semelhante: O orgulho em pertencer à academia do Minho"


Cacilda Moura, que sempre que é possível acompanha e participa em alguma das iniciativas do Enterro da Gata a convite dos seus estudantes, deixa também um conselho a quem organiza atualmente a semana académica: “Não deixem congelar as tradições e saibam incorporá-las no evoluir dos tempos”.