Objetos com história: as câmaras de filmar do ICS

17-02-2024 | Daniel Vieira da Silva | Nuno Gonçalves / UMinho

Câmaras foram usadas para formação dos estudantes da licenciatura de Comunicação Social (hoje, Ciências da Comunicação)

Fernando Jesus filmou a cerimónia do Dia da UMinho vários anos; ao centro, o então reitor Chainho Pereira (1998-2002)

Fernando Jesus, ladeado pelo colega António Ovídio, usou estes equipamentos no Dia da UMinho até 2009

Os anos foram avançando e do analógico passou-se para o digital há uma década

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Passaram pelas mãos de centenas de estudantes, mas também filmaram celebrações do Dia da UMinho e de outros eventos académicos durante duas décadas.


São câmaras de filmar em cassete, do tempo do sistema analógico, e que nos ajudam a entender melhor a história e a viagem do curso de Ciências da Comunicação, bem como da própria Universidade do Minho. Moram (e descansam) no Instituto de Ciências Sociais, no campus de Gualtar, em Braga. Acompanharam de perto o avançar dos anos desta academia.

São equipamentos que estão no imaginário de todos os estudantes que frequentaram a licenciatura de Ciências da Comunicação (antiga Comunicação Social). Foi com elas que se filmaram centenas de curtas, reportagens, entrevistas e blocos noticiosos. Foi com elas que se contaram histórias, construíram enredos e se acompanhou a atualidade. Foi pelas suas lentes que foram registados acontecimentos marcantes para a evolução de muitos e muitos alunos que agora são “ases” na arte do audiovisual.

Falamos das câmaras de filmar que estão (religiosamente) guardadas no ICS pela mão do técnico superior Fernando Jesus. Gere e zela o material audiovisual do Departamento de Ciências da Comunicação e hoje recebe um diploma pelos 30 anos de serviço na função pública, na cerimónia dos 50 anos da UMinho. “Cheguei em 1993 e aqui passaram dezenas de câmaras, de diferentes sistemas e formatos de gravação, todas elas usadas pelos nossos estudantes”, disse, orgulhoso, ao NÓS. “Estas são as câmaras que fizeram a viagem do curso de Comunicação Social, mais tarde Ciências da Comunicação, e que ajudaram a construir a sua história e me acompanharam no percurso pela UMinho”, explicou.

Estas foram também as câmaras que filmaram a cerimónia do Dia da Universidade do Minho entre 1997 e 2009, doutoramentos honoris causa (o de Joaquim Chissano, em 2005, por exemplo), a entrega de diplomas, o Dia do ICS, jubilações, congressos, entre tantos outros eventos, deu conta o técnico do ICS-UMinho.

Fernando Jesus especificou que a câmara Sony V6000 Pro, que gravava em cassete e em formato Hi8, foi a primeira que teve em mãos no Departamento e é, por isso, “a mais emblemática”. “Era a mais usada em meados de 1993 e servia para filmar várias aulas, sobretudo as de Teorias da Comunicação, com o professor Aníbal Alves, e as de Técnicas de Expressão, com a professora Helena Gonçalves. Esses registos, depois da conversão para o sistema VHS, permitiam aos professores o visionamento do exercício, analisando posteriormente as apresentações dos alunos”, enumerou. Depois, vieram as “revolucionárias” Panasonic AG 455. Foram câmaras marcantes e úteis, na medida em que já gravavam em formato VHS/S-VHS e já não era necessária a conversão das gravações tal como no modelo anterior.
 
Já as câmaras Sony PD-150P, com gravação em formato DVcam, serviram posteriormente para um tipo de trabalhos de maior exigência. “Foi com elas que alguns alunos realizaram vários projetos marcantes como para a Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura”, assumiu Fernando Jesus. Acrescentou que aquelas foram muito utilizadas nos anos seguintes pelos estudantes, porque, além da qualidade de gravação, permitiam a captação de sons de forma balanceada em diferentes canais.



O sonho do museu

No ano de 2013 deu-se a migração definitiva para o formato digital e foi a vez de dar descanso a estas “relíquias”, que passaram a ocupar um lugar de destaque na prateleira. E foi também a partir daqui que surgiu uma ideia ao fiel depositário deste espólio: a criação de um museu. “Sempre sonhei expor aquilo com que trabalhei desde a minha chegada à UMinho, nomeadamente alguns equipamentos nesta viagem de pouco mais de 30 anos do curso e explicar às pessoas como se trabalhava, mostrando como com tão pouco se fazia muito”, disse.

Fernando Jesus acredita que com a abertura do Centro Multimédia da UMinho, no campus de Gualtar, "pode haver essa possibilidade”. “Gostava muito que essa ideia fosse uma realidade e que se concretizasse”, afirmou. “Além destes objetos com história, nesse museu poderá haver uma diversidade de equipamentos expostos, como mesas de mistura de som e de imagem, controladores de imagem, vídeos, câmaras fotográficas analógicas e digitais, gravadores e microgravadores de áudio, cassetes, minidiscs, entre tantos outros, convidando-nos a um passeio no tempo”, concluiu.